Artistas pedem fim do bloqueio da Faixa de Gaza em tempo de pandemia

Centenas de artistas pedem o fim do cerco de Israel à Faixa de Gaza em plena crise da Covid-19. Sérgio Godinho, Tiago Rodrigues, Alia Shawkat, Patrícia Portela, Peter Gabriel e 240 outros artistas assinaram uma carta aberta para que “um surto potencialmente devastador” seja evitado nesta região.

RTP /
Militares do movimento islamista Hamas usam equipamentos de proteção contra a Covid-19 Ibraheem Abu Mustafa - Reuters

Numa carta aberta publicada na quarta-feira, centenas de artistas juntaram-se à Amnistia Internacional no apelo a um embargo militar a Israel “até que este país cumpra com as suas obrigações perante o direito internacional”.

“A pressão internacional é urgentemente necessária para tornar a vida em Gaza viável e digna. O cerco de Israel deve acabar. E, mais urgente, um surto potencialmente devastador deve ser evitado”, lê-se no manifesto.

Entre os signatários da carta destacam-se nomes portugueses como o poeta e compositor Sérgio Godinho, o cantautor Luís Cília, o rapper Chullage, a escritora Patrícia Portela, o coreógrafo Rafael Alvarez e o dramaturgo e encenador Tiago Rodrigues. A estes nomes juntam-se artistas internacionais como os cantores Viggo Mortensen Jr., Vic Mensa, os autores Irvine Welsh e Jeanette Winterson e os atores Steve Coogan, Julie Christie e Alia Shawkat.

"Os quase dois milhões de habitantes de Gaza, predominantemente refugiados, enfrentam uma ameaça mortal na maior prisão ao ar livre do mundo", argumentam os artistas.

Os primeiros casos de coronavírus nesta região foram relatados em março. Na Cisjordânia, onde existem 250 casos de infeção registados até ao momento, rapidamente foram impostas restrições que deixaram algumas cidades desertas. Logo após o primeiro surto, Belém foi isolada e foi declarado estado de emergência.

O mesmo não aconteceu na Faixa de Gaza. Densamente povoada, a região não impôs praticamente nenhuma medida de restrição. As escolas e mesquitas foram encerradas, mas os transportes públicos, mercados e praias continuam com uma grande afluência e poucas pessoas utilizam máscara. Apesar disso, existem apenas 13 casos de infeção registados na região e todos estão em instalações de isolamento.

Os habitantes de Gaza dizem que o bloqueio de Israel prejudicou a economia e o desenvolvimento de instalações médicas, dificultando a sua capacidade para enfrentar uma pandemia.

Neste âmbito, organizações palestinianas, israelitas e internacionais humanitárias e de direitos humanos pediram o levantamento do cerco de Israel para que Gaza possa enfrentar a sua grave escassez de equipamentos médicos, expressando preocupação perante “uma potencial catástrofe humana”.

“Instamos as autoridades israelitas a cumprir as suas obrigações legais e morais e ajudar os sistemas de saúde palestinianos – em Gaza e na Cisjordânia – tanto no combate à pandemia, quanto no atendimento a pacientes que precisem de cuidados de saúde contínuos, indisponíveis na Faixa de Gaza”, argumentaram as organizações numa declaração publicada no início de abril.

Marcando dois anos desde que Israel matou sessenta manifestantes palestinianos em Gaza, os signatários sublinham que “o que acontece em Gaza é um teste para a consciência da humanidade”.

"Reconhecemos que os direitos garantidos aos refugiados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos também devem ser defendidos para os palestinianos”, lê-se ainda na carta. “Nestes tempos de crise internacional, devemos defender a justiça, a paz, a liberdade e os direitos iguais para todos, independentemente da identidade ou da crença religiosa. Podemos ficar em casa, mas a nossa responsabilidade ética não deveria”, conclui o manifesto.

O manifesto é também assinado pelo romancista irlandês Colm Tóibín, os artistas visuais Kevin Beasley e Shepard Fairey, os co-vencedores do Prémio Turner de 2019 Tai Shani e Lawrence Abu Hamdan, assim como pelo pianista e compositor belga Jef Neve e a dupla de artistas Adam Broomberg e Oliver Chanarin e pela jornalista canadiana Naomi Klein.
Tópicos
PUB