Assalto ao Capitólio. Quatro membros dos Proud Boys culpados de "sedição"

por RTP
Enrique Tarrio, à esquerda, e Joe Biggs, líder e membro dos Proud Boys, numa marcha de protesto em Washington, dezembro de 2020 Reuters

Após quase quatro meses de julgamento e mais de 50 dias de audições, um júri do Tribunal Federal de Washington condenou quatro de cinco membros da milícia de extrema-direita Proud Boys por "sedição", devido ao seu envolvimento no assalto ao Capitólio em janeiro de 2021. Os acusados incorrem em penas de até 20 anos de prisão.

É mais uma vitória para o Departamento de Justiça norte-americano nas acusações contra mais de mil pessoas devido à invasão da sede do Congresso norte-americano por apoiantes do ex-Presidente Donald Trump.

Diversos membros de outra milícia, os OathKeepers, foram igualmente condenados em julgamentos anteriores.

Nos argumentos finais, o procurador Conor Mulroe afirmou aos 12 jurados que os Proud Boys se viam a si próprios como uma "força de combate alinhada com Donald Trump e disposta a cometer qualquer tipo de violência ao seu serviço" para reverter o resultado oficial da eleição de 2020.

Entre os quatro condenados desta quinta-feira está Enrique Tarrio, o líder dos Proud Boys, milícia considerada de extrema-direita. Ethan Nordean, Joseph Biggs e Zachary Rehl foram igualmente condenados ao abrigo de uma lei da Guerra Civil dos EUA.

Os procuradores afirmaram que Tarrio e os outros réus, alguns dos quais lideravam fações estatais do grupo, adquiriram equipamento militar com o ataque em mente e animaram outros membros a deslocarem-se a Washington para o assalto.
Os crimes
O júri deu como provado de que os quatro conspiraram para atacar o Capitólio dia seis de janeiro de 2021, numa tentativa falhada de evitar que o Congresso certificasse a vitória de Joe Biden.

O júri considerou-os ainda culpados de obstruir procedimentos oficiais, condenação que incluiu Dominic Pezzola, o único réu que não desempenhou qualquer papel de liderança nas ações da milícia. Incorrem por estes crimes igualmente em penas de até 20 anos de prisão.

Os cinco foram também considerados culpados de conspiração para impedir o Congresso de cumprir a sua missão e obstrução de agentes de segurança durante uma desordem civil.

Nordean, Biggs, Rehl e Tarrio foram absolvidos de atos violentos contra a polícia, com somente Pezzola condenado neste particular. Pezzola foi também condenado por furto, por ter tirado um escudo policial que terá usado para partir uma janela, facilitando a entrada no Capitólio de outros membros da multidão.

Os advogados de defesa contestaram as acusações de conspiração, afirmando que os seus clientes se deslocaram a Washington somente para protestar. Tentaram ainda envolver Donald Trump, afirmando que foi o ex-Presidente quem animou os manifestantes a invadir o edifício.

"Querem usar Enrique Tarrio como um bode expiatório de Donald Trump e de outros no poder", afirmou mesmo o advogado Nayib Hassan nos seus argumentos finais.
Falta de consenso
Todos os réus, exceto Tarrio, entraram no Capitólio durante o assalto, com os procuradores a indicarem que foram dos primeiros a passar as barreiras erguidas em torno do edifício.

O líder dos Proud Boys estava em Baltimore nesse dia seis de janeiro de 2021, por lhe ter sido ordenado por um juíz para se manter afastado de Washington após ter sido detido dois dias antes por queimar uma faixa do movimento Black Lives Matter numa igreja.

Os procuradores afirmaram que ele ajudou a dirigir as ações da milícia a partir daquela cidade.

A procuradoria referiu ainda que Tarrio, Rehl, Nordean e Biggs criaram o que chamaram Ministério da Auto Defesa, que incluía 65 membros dos Proud Boys, os quais trocavam entre si mensagens encriptadas.

O júri voltou a reunir sobre outras acusações nas quais não chegou a consenso. No caso de Pezzola isso inclui o crime de conspiração sediciosa ou conspiração para obstruir um procedimento oficial.

Os membros do júri também não deram veredicto quanto a diversas acusações de destruição de bens no Capitólio ou ataques a agentes da lei.

O júri mantém-se bloqueado igualmente numa acusação de envolvimento dos condenados num ataque de outro membro da milícia. Charles Donohoe atirou uma garrafa de água à polícia e preferiu não ir a julgamento dando-se como culpado o ano passado.
Os crimes do assalto
Até agora mais de 500 pessoas se deram como culpadas dos crimes de que eram acusadas pela procuradoria norte-americana relacionados com o assalto ao Capitólio.

Muitos dos acusados foram identificados graças a imagens obtidas através das câmaras de segurança do Capitólio ou publicadas nas redes sociais.

Cerca de outras 80 foram condenadas após julgamento, incluindo o fundador dos OathKeepers, Stewart Rhodes.

O julgamento dos membros dos Proud Boys foi o mais longo até agora.

O assalto ao Capitólio ocorreu no dia em que os Congresso dos EUA se preparava para votar formalmente a certificação da vitória de Joe Biden, apoiado pelo Partido Democrático, em novembro de 2020, resultado contestado por Donald Trump, que procurava a reeleição apoiado pelo Partido Republicano.

Cinco pessoas, incluindo um polícia, morreram durante ou pouco após o motim. Mais de 140 polícias ficaram feridos.
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