Assassinato de Shireen Abu Akleh. Senadores dos EUA não querem caso encerrado

por RTP
Reuters

Shireen Abu Akleh foi assassinada a 11 de maio, durante uma invasão ao campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada. A jornalista palestino-americana foi baleada na cabeça pelo Exército de Israel, mas o Governo israelita declarou o caso encerrado. Agora vários membros do Congresso dos Estados Unidos exigem que o caso seja reaberto e identificados os culpados.

Israel nega ter atacado o grupo de jornalistas, no qual estava Abu Akleh, e insiste que, embora seja “altamente provável” ela ter sido atingida por um dos seus soldados, “não há qualquer suspeita de ato criminoso”.

Contudo, o membro mais antigo do Senado dos EUA, Patrick Leahy, alertou, recentemente, que ao encerrar o caso do assassinato da jornalista da Al-Jazeera, Israel podia comprometer a enorme ajuda militar norte-americana ao Estado judeu, cortando o fornecimento de armas para países que violam os direitos humanos.

Quase metade dos membros democratas do Senado assinaram uma carta na qual se questiona a alegação de Israel, de que Abu Akleh foi baleada acidentalmente por um militar. De acordo com os signatários, esta pode ter sido alvo por ser jornalista.

O Departamento de Estado norte-americano tem evitado questões sobre o assunto, mas os congressistas exigem que divulgue o que sabe e que o FBI dê início a uma investigação independente. Embora as críticas se concentrem na morte de Abu Akleh, os pedidos para que se apurem responsabilidade têm aumentado com os relatos de assassinatos de palestianianos por parte do Exercito israelita.

Dylan Williams, vice-presidente de política e estratégia do grupo de campanha J Street, com sede em Washington, que se descreve como "pró-Israel e pró-paz", disse ao Guardian que os pedidos por justiça para Abu Akleh refletem preocupações mais amplas.

“Os membros do Congresso parecem cada vez mais frustrados com o facto de ações desse tipo por parte das forças israelitas continuarem a acontecer, sem enfrentarem uma reação significativa ou responsabilização pelo nosso governo”, afirmou.

“Há um impulso crescente para deixar claro que Israel deve ser mantido nos mesmos padrões importantes que todos os aliados próximos dos EUA, e que o nosso firme apoio à segurança de Israel não pode e não deve impedir o nosso Governo de também defender os direitos humanos e as lei no território palestiniano ocupado”.

Já Sarah Leah Whitson, diretora do Democracy for the Arab World Now acredita que uma mudança no sentimento público norte-americano sobre Israel e os palestinianos permitiu que alguns políticos se manifestassem mais.

“Há uma visão crescente entre o público norte-americano de que Israel está a cometer um 'crime de apartheid', que os palestinianos são injustamente atacados por Israel. Isso deu aos congressistas mais espaço, particularmente congressistas seguros como Patrick Leahy, para dizer o que realmente pensam”, disse.

“Além disso, sentem-se mais à vontade neste caso em particular porque Shireen Abu Akleh era um cidadã dos EUA".

Israel afirmou inicialmente que Abu Akleh foi baleada por um palestiniano durante um ataque militar na cidade ocupada de Jenin, na Cisjordânia, em maio. No início deste mês, finalmente admitiu que era “altamente provável” que um soldado das Forças de Defesa de Israel (IDF) tivesse matado a jornalisa, mas afirmou que o incidente ocorreu durante um tiroteio com combatentes palestinianos - alegação recusada nas investigações, depois de grupos de direitos humanos, a imprensa e a ONU revelarem que não houve confrontos perto do local onde se encontrava Abu Akleh.

Na semana passada, Leahy acusou o Governo Biden de não responder aos pedidos do Congresso para que o FBI investigasse a morte de Abu Akleh como é “costume e apropriado após uma tragédia como essa envolvendo um norte-americano proeminente, assassinado no estrangeiro em circunstâncias questionáveis”.

“Infelizmente, não houve nenhuma investigação independente e confiável”, lamentou o congressista no Senado, acrescentando que há “um histórico de investigações de tiroteios por soldados da IDF que raramente resultam em responsabilização”.
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