Associação pede ao Governo para pôr fim a homicídios de polícias moçambicanos

A Associação Moçambicana de Polícias (Amopaip) considerou hoje a onda de homicídios de agentes uma mensagem de "fragilidade" e "abandono" da classe, pedindo ao Governo ações para pôr fim à situação, após seis casos em poucos meses.

Lusa /

"Para nós é uma mensagem que está a ser transmitida: a fragilidade por parte da nossa polícia", disse à Lusa o presidente da Amopaip, Nazário Muanambane, queixando-se ainda de falta de esclarecimento dos casos pelas autoridades.

Menos de 24 horas após o mais recente caso, que vitimou uma comandante distrital, a Amopaip pede a intervenção dos ministros do Interior, instância máxima da polícia, e da Defesa, para erradicar a situação.

"Devia ser preocupação do ministro do Interior, do nosso comandante e chefe das Forças de Defesa e Segurança, trazer uma mensagem, uma informação que desencoraja, que cria uma expetativa daquilo que está sendo feito para por fim a esses fenómenos", disse Muanambane.

Em causa está mais um homicídio envolvendo um membro da Polícia da República de Moçambique (PRM), a comandante distrital de Marracuene, arredores da capital moçambicana, ocorrido ao princípio da noite de quinta-feira, quando a mesma estava no interior de uma viatura ao longo da Estrada Circular, atingida com vários tiros numa aparente emboscada.

Trata-se do sexto evento violento do género na Matola, município nos arredores da capital, desde junho.

Segundo Muanambane, o atual silêncio cria "transtornos muito grandes" aos agentes: "Tratando-se dos membros da polícia, nós sentimos que a preocupação está sendo pouca, não está sendo considerada com maior gravidade de pôr fim a essas situações. E diante disso, principalmente, a própria polícia não consegue mesmo explicar".

O responsável criticou ainda a falta de posicionamento das autoridades superiores, recordando que em todos os casos somente os porta-vozes das polícias é que se pronunciaram.

"Mas estamos a falar de casos gravíssimos, casos irritantes, estamos a falar de agentes da polícia que estão sendo assassinados. Não um, nem dois, nem três", disse, lamentando que a classe de polícias esteja a ser visada.

"A nossa polícia está assaltada por crime organizado, está assaltada por gangues criminosos? Porque de todos esses casos que estão acontecendo, nenhum deles está sendo esclarecido", disse Nazário, pedindo uma reflexão geral em torno dos casos.

"Se antes assassinavam guardas, depois assassinavam cidadãos sempre e hoje já estão assassinando até o comandante em período de dia. E aí cada um de nós devia pensar quem será o próximo? Até hoje nós, para falarmos, já temos medo", acrescentou o responsável da associação.

A Confederação das Associações Económicas de Moçambique também lamentou hoje os últimos episódios "chocantes", avançando que nenhuma sociedade desenvolve em contextos de insegurança.

O caso anterior aconteceu na manhã de 01 de outubro, quando um agente do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) foi visado e ferido no tiroteio que provocou a morte de duas pessoas, atingidas por balas perdidas, na Matola.

Outro caso aconteceu em 09 de setembro, com um sargento principal alvejado mortalmente quando se encontrava no interior da sua viatura, numa zona denominada Mangueiras, área de jurisdição da sétima esquadra da polícia, no bairro T3, na província de Maputo.

Em 04 de julho, pelo menos quatro pessoas foram mortas numa troca de tiros com agentes da PRM durante uma operação para impedir um assalto a uma empresa de construção civil na Matola. Em 02 de julho, a PRM confirmou o homicídio de dois agentes da corporação, com 54 tiros, na manhã desse dia, e ferimentos por bala de uma mulher de 78 anos, também na Matola.

O primeiro destes casos deu-se na mesma cidade na noite de 11 de junho, quando um agente da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da PRM foi morto com cerca de 50 tiros, no bairro Nkobe, por três homens até ao momento não identificados.

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