"Assustador". Sete crianças mortas ou feridas por hora no Sudão

As Nações Unidas alertaram esta sexta-feira para o número "assustador" de vítimas infantis da guerra no Sudão, ecoando informações locais segundo as quais sete crianças serão feridas ou mortas a cada hora. As pilhagens destruíram ainda mais de um milhão de vacinas de poliomielite, ameaçando levar ao regresso da doença com milhares de novas vítimas infantis.

RTP /
Sudão. Sete crianças mortas ou feridas a cada hora, alerta a Unicef Reuters

"Aquilo que havíamos temido e previsto, a situação no Sudão tornou-se fatal para um número assustadoramente grande de crianças", declarou o porta-voz da Unicef, James Elder, numa conferência de imprensa em Genebra.

O Sudão tem 45 milhões de habitantes, 49 por cento dos quais tem menos de 18 anos.

Estabelecimentos de saúde em Cartum e na região do Darfur, reportaram que só nos 11 primeiros dias do conflito morreram 190 crianças e mais de 1.700 ficaram feridas. As estimativas ainda não foram verificadas de forma independente.

O número apenas abrange as crianças acolhidas num desses estabelecimentos, sublinhou Elder. "A realidade pode ser bem mais grave", afirmou.
Vacinas de polio destruídas
Não são só as armas a vitimar os mais frágeis. Mais de um milhão de vacinas contra a poliomielite foram destruídas devido a pilhagens desde o início do conflito a 15 de abril.

Hazel De Wet, vice-diretora dos Programas de Emergência da Unicef, revelou à Agência Reuters que "uma série de instalações frigoríficas foram pilhadas, estragadas e destruídas, incluindo mais de um milhão de vacinas de polio no Sul do Darfur".

A guerra estalou durante campanhas de vacinação iniciadas no Sudão pela agência das Nações Unidas depois de um surto no final de 2022.

A doença afeta sobretudo crianças abaixo dos cinco anos e pode levar à paralisia e morte. O continente africano foi declarado livre da poliomielite em 2020 mas o Malawi, Moçambique e o Sudão reportaram casos importados desde o ano passado.

Dados recolhidos pela Organização Mundial de Saúde registaram mais de 28 ataques a instalações de saúde no Sudão nas últimas três semanas.

As pilhagens atingiram também as reservas alimentares, com o Programa Alimentar Mundial a reportar perdas avaliadas entre 13 e 14 milhões de dólares.
EUA ameaçam com sanções
O conflito entrou no seu 21º dia sem sinais de que alguma das partes tenha esgotado munições. Os combates entre o exército e os paramilitares já fizeram cerca de 700 mortos desde 15 de abril e milhares de feridos, de acordo com a ONF ACLED, que contabiliza as vítimas de conflitos.

A ONU espera ainda qua mais de mil pessoas procurem refúgio nos países vizinhos.

"A tragédia deve cessar", apelou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçando com sanções contra "indivíduos que ameaçam a paz", sem contudo os nomear. Os EUA impuseram duas décadas de sanções ao país que só foram levantadas em 2020.

Em 2019, movimentos civis e militares forçaram a queda do general Omar el-Béchir, no poder há três décadas. O regime militar-islamita foi subsituído em 2020 por um governo de poder partilhado com a missão de levar o país à democracia.

Num golpe em 2021, os generais Abdel Fattah al-Burhane e Mohamed Hamdane Daglo expulsaram os elementos civis do executivo desde a queda de Béchir.

Acabaram por se desentender quanto à integração no exército das Forças de Apoio Rápido de Daglo, lançando-se na guerra.

(com agências)
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