Ataques com armas de fogo em escolas. O outro terrorismo dos Estados Unidos

por Paulo Alexandre Amaral (jornalista), Sara Piteira (grafismo) - RTP
Harrison McClary, Reuters

Os tiroteios com elevado número de vítimas são um fenómeno frequente nos Estados Unidos e as escolas não escapam às estatísticas. Só este ano, em mês e meio, a contagem e tragédias a envolver armas de fogo em estabelecimentos de ensino norte-americanos vai já em 18, de acordo com a estatística da organização Everytown for Gun Safety.

Nas últimas duas décadas os americanos foram confrontados com autênticos cenários de terror no meio escolar. O episódio de 20 de Abril de 1999, na Columbine High School, marcou o início de uma cronologia difícil de ignorar.



1999 – Columbine High School – 13 mortos

No dia 20 de Abril, Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, dois estudantes, entraram no estabelecimento de ensino de Littleton (Estado do Colorado) e abriram fogo matando 12 colegas de turma e um professor, suicidando-se depois na livraria da escola. Outras 26 pessoas ficaram feridas no massacre.

O episódio, o primeiro do género em muitos anos, ficaria na cabeça de toda a gente, tendo sido feitos inúmeros documentários. Chegou aos cinemas com pelo menos dois filmes premiados. Michael Moore assinou “Bowling for Columbine”, onde procurou as raízes desse comportamento violento da sociedade americana.


Gary Caskey, Reuters

2007 – Virginia Tech – 32 mortos

A 16 de Abril, Seung-Hui Cho, um estudante da universidade de 23 anos, chegou ao campus armado com duas pistolas semi-automáticas, chacinando 32 pessoas no complexo da universidade localizada em Blacksburg, Estado da Virgínia. Primeiro, num dormitório. Depois, numa sala de aulas. Quinze outras pessoas ficaram feridas. Acabou por se suicidar após o tiroteio.

Seung-Hui Cho, nascido na Coreia do Sul e a viver nos Estados Unidos desde os 8 anos, frequentava a universidade onde cometeu os assassinatos. Queixava-se de bullying dos colegas e deixou uma declaração gravada em video, enviada à NBC News, em que assinalava sentir-se destruído pela perseguição de que era alvo por parte de alguns colegas. Invocando o exemplo de Jesus Cristo, dizia querer que a sua acção servisse de inspiração a uma revolta dos mais fracos e oprimidos.

2012 – Sandy Hook Elementary School – 27 mortos

Terá sido o episódio mais traumático dos últimos anos e aquele que provocou maior comoção na sociedade norte-americana e no mundo. A razão encontra-se ligada à idade das vítimas.


Michelle McLoughlin, Reuters

Na manhã de 14 de dezembro, Adam Lanza, de 20 anos, matou a mãe com quatro tiros na cabeça antes de se dirigir, fortemente armado e com colete à prova de balas, para a escola primária de Sandy Hook, em Newtown (Estado do Connecticut).

Tudo aconteceu em escassos minutos, com Lanza a deixar um rasto de corpos em várias salas da escola: 20 eram crianças de 6 e 7 anos. Entre as vítimas estavam ainda o director da escola, a psicóloga e cinco professores que foram encontrados mortos numa posição que revelava a tentativa de proteger as crianças. Num padrão já comum, o atirador matou-se após o massacre.

A escola seria demolida um ano após o massacre.

2018 - Marjory Stoneman Douglas High School - 17 mortos

Ontem, a tragédia voltou a entrar nas escolas americanas, com Nikolas Cruz, 19 anos, ex-aluno da secundária Marjory Stoneman Douglas (Parkland, Estado da Florida), a fazer 17 mortos com uma arma automática AR-15, depois de fazer soar o alarme de incêndio do edifício, para que os alunos saíssem das salas e formassem filas nos corredores.

Cruz, equipado com máscara antigás, granadas de fumo e carregadores para a AR-15, abriu fogo sobre os antigos colegas. Cruz foi capturado com vida.
Dezoito tiroteios em escolas só este ano

O massacre na secundária Marjory Stoneman Douglas é já o 18.º incidente a envolver armas de fogo em escolas ou locais próximos de estabelecimentos de ensino nos Estados Unidos este ano de 2018. Os números são da Everytown for Gun Safety. Desde 2013, houve quase 300 ataques com armas de fogo em escolas do país, numa média de um ataque por semana.


Harrison McClary, Reuters

Recuando cinco anos, estamos a falar do “291º tiroteio numa escola desde o princípio de 2013”, sublinha Shannon Watts, fundadora da Moms Demand Action for Gun Sense in America, organização contra a proliferação de armas de fogo nos Estados Unidos.

O episódio desta quarta-feira resultou na segunda maior perda de vidas num tiroteio numa escola pública norte-americana, logo a seguir ao massacre de Sandy Hook.

A espingarda automática AR-15 pertencia a Nikolas Cruz. Na Florida, pode-se comprar e deter este tipo de armas a partir dos 18 anos - apesar de a maioridade nos Estados Unidos estar nos 21 - desde que a pessoa tenha uma autorização dos pais ou de um responsável legal.


Jonathan Ernst, Reuters

É ainda o mais mortífero de sempre numa escola secundária, superior em números a Columbine, apesar de este ter envolvido uma mais meticulosa preparação: bombas para afastar os bombeiros e as forças de segurança que responderam ao ataque, tanques de propano convertidos em bombas colocados numa roulotte, 99 outros dispositivos explosivos e até carros-bomba.
pub