Mundo
"Ato de crueldade". Rússia veta ajuda transfronteiriça à Síria
Depois de vetar no Conselho de Segurança das Nações Unidas, na segunda-feira, uma resolução que prolongaria mais nove meses o mecanismo de ajuda transfronteiriça à Síria, a Rússia foi acusada de ter cometido "um ato de total crueldade". A medida destinava-se a ajudar quatro milhões de pessoas na região noroeste controlada pelos rebeldes, garantindo assistência humanitária sem necessidade de consentimento do Governo sírio.
Apesar dos 13 votos a favor e da abstenção da China, a resolução foi vetada pela Rússia, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), e que foi duramente criticada por vários países, nomeadamente pelos Estados Unidos, que acusaram Moscovo de "crueldade".
"Este é um momento triste para o povo sírio e para este Conselho. O que o mundo acabou de testemunhar foi um ato de extrema crueldade. A maioria deste Conselho uniu-se para estender esta linha de ajuda humanitária para salvar vidas, mas um membro permanente bloqueou esta resolução”, lamentou a diplomata norte-americana Linda Thomas-Greenfield. “E eu só tenho que perguntar: Porquê?”
“A Rússia não cumpriu a sua responsabilidade como membro permanente deste Conselho”, acusou ainda, acrescentando que Moscovo usou, uma vez mais, o “seu veto para restringir o acesso humanitário que salva vidas a quatro milhões de sírios”.
“Devemos continuar – o povo sírio está a contar connosco – e todos devemos exortar a Rússia a voltar à mesa de boa fé”, apelou ainda.
Já para a embaixadora britânica Barbara Woodward, não há argumentos que justifiquem o veto desta resolução, uma vez que o acesso humanitário “deve responder às necessidades humanitárias e não deve ser feito refém da Rússia”.
O texto vetado foi apresentado pelo Brasil e pela Suíça, os codetentores do dossier humanitário da Síria, e visava autorizar agências da ONU e parceiros humanitários a continuar a utilizar a passagem de Bab al-Hawa, na fronteira Síria-Turquia, por mais nove meses, até 10 de abril de 2024.
A votação põe em causa a existência da principal rota de assistência para a Síria a partir da Turquia, e representa mais uma dificuldade para população síria que ainda está a recuperar do terremoto que atingiu a região em fevereiro.
Ajuda vetada
O secretário-geral na ONU, António Guterres, apelou à renovação desta resolução de 12 meses, mas a Rússia só aceitava que fosse prolongada por apenas seis meses.
O representante russo no Conselho de Segurança da ONU, Vassilu Nebenzia, advertiu que se a proposta da Rússia não fosse apoiada, podiam “fechar o mecanismo transfronteiriço”.
Na sua intervenção, o embaixador russo deixou ainda claro que Moscovo não aceitaria qualquer prorrogação sem mudanças no mecanismo e que a única alternativa para que volte a funcionar é a aprovação das "correções" que a Rússia quer aplicar. Logo após esta votação, Moscovo apresentou um texto de resolução, que prolongava o mecanismo de ajuda transfronteiriça à Síria por seis meses, até 10 de janeiro de 2024, mas também acabou rejeitado, com três votos contra (Estados Unidos, França e Reino Unido), dois a favor (Rússia e China) e 10 abstenções.
Para ser aprovada, uma resolução necessita de pelo menos nove votos a favor e nenhum contra de qualquer membro permanente do Conselho de Segurança. A Rússia vetou esta resolução, alegando que considera as rotas de ajuda humanitária uma violação da soberania da Síria.
Com a rejeição das duas resoluções, foi encerrada oficialmente esta operação da ONU que foi vital para ajudar 4,1 milhões de pessoas no nordeste sírio. A autorização dada às Nações Unidas para que os seus comboios humanitários utilizassem a passagem fronteiriça de Bab al-Hawa - mecanismo contestado pelo Governo de Damasco - expirou segunda-feira à noite, pelo que esta via de acesso essencial está já encerrada.
Sofía Sprechmann Sineiro, secretária-geral da organização Care International, descreveu o veto da Rússia como “um golpe baixo no registo humanitário do Conselho desde o início do conflito sírio”.
“Hoje, o Conselho permitiu que a política guiasse a sua decisão, em vez das necessidades humanitárias do povo sírio. A decisão do Conselho de Segurança da ONU terá consequências catastróficas para a população da região de 4,1 milhões de pessoas cuja sobrevivência depende da assistência da ONU. Dentro de semanas, bens e serviços essenciais vão tornar-se escassos e ainda menos acessíveis”.
Guterres desapontado com veto russo
Pouco depois, o secretário-geral da ONU manifestou-se desapontado com a falta de consenso no Conselho de Segurança para prolongar o mecanismo de ajuda humanitária transfronteiriça à Síria.
"O secretário-geral pede a todos os membros do Conselho de Segurança que redobrem os seus esforços para apoiar a distribuição contínua de ajuda transfronteiriça para milhões de pessoas em extrema necessidade no noroeste da Síria pelo maior tempo possível", disse Stéphane Dujarric, acrescentando que a ONU tinha já antecipado tal cenário.
De acordo com o porta-voz de António Guterres, a assistência transfronteiriça da ONU continua a ser "uma verdadeira tábua de salvação para milhões de pessoas no noroeste da Síria", já que as necessidades humanitárias "atingiram o nível mais alto desde o início do conflito, enquanto o impacto dos devastadores sismos de fevereiro ainda é sentido de forma aguda".
Apesar do veto russo e do encerramento da rota de ajuda humanitária, o Conselho de Segurança garantiu que continuará a trabalhar para alcançar um acordo que reavive esse mecanismo. O anúncio foi feito pela Suíça e pelo Brasil, que dedicaram as últimas semanas a tentar encontrar uma solução para manter aberta a passagem fronteiriça de Bab al-Hawa.
"Não há tempo a perder. Vamos voltar ao trabalho imediatamente para encontrar uma solução. Devemos isso ao povo da Síria", disse a embaixadora suíça, Pascale Baeriswyl, a jornalistas.
Na segunda-feira, 79 camiões com ajuda humanitária passaram por Bab al-Hawa, fretados pelo Programa Alimentar Mundial e pela Organização Internacional para as Migrações.
Desde os fortes sismos de fevereiro que afetaram todo o sul da Turquia e o norte da Síria, 3.700 camiões passaram por Bab al-Hawa e por outras duas travessias excecionalmente autorizadas, até meados de agosto.
Nos últimos anos, sempre que esta autorização teve que ser renovada, a Rússia fez pressão para encerrar a operação e para que toda a ajuda fosse canalizada de dentro da Síria, ou seja, dependesse do Governo de Bashar al-Assad, um reconhecido aliado de Moscovo.
"Este é um momento triste para o povo sírio e para este Conselho. O que o mundo acabou de testemunhar foi um ato de extrema crueldade. A maioria deste Conselho uniu-se para estender esta linha de ajuda humanitária para salvar vidas, mas um membro permanente bloqueou esta resolução”, lamentou a diplomata norte-americana Linda Thomas-Greenfield. “E eu só tenho que perguntar: Porquê?”
“A Rússia não cumpriu a sua responsabilidade como membro permanente deste Conselho”, acusou ainda, acrescentando que Moscovo usou, uma vez mais, o “seu veto para restringir o acesso humanitário que salva vidas a quatro milhões de sírios”.
“Devemos continuar – o povo sírio está a contar connosco – e todos devemos exortar a Rússia a voltar à mesa de boa fé”, apelou ainda.
Já para a embaixadora britânica Barbara Woodward, não há argumentos que justifiquem o veto desta resolução, uma vez que o acesso humanitário “deve responder às necessidades humanitárias e não deve ser feito refém da Rússia”.
O texto vetado foi apresentado pelo Brasil e pela Suíça, os codetentores do dossier humanitário da Síria, e visava autorizar agências da ONU e parceiros humanitários a continuar a utilizar a passagem de Bab al-Hawa, na fronteira Síria-Turquia, por mais nove meses, até 10 de abril de 2024.
A votação põe em causa a existência da principal rota de assistência para a Síria a partir da Turquia, e representa mais uma dificuldade para população síria que ainda está a recuperar do terremoto que atingiu a região em fevereiro.
Ajuda vetada
O secretário-geral na ONU, António Guterres, apelou à renovação desta resolução de 12 meses, mas a Rússia só aceitava que fosse prolongada por apenas seis meses.
O representante russo no Conselho de Segurança da ONU, Vassilu Nebenzia, advertiu que se a proposta da Rússia não fosse apoiada, podiam “fechar o mecanismo transfronteiriço”.
Na sua intervenção, o embaixador russo deixou ainda claro que Moscovo não aceitaria qualquer prorrogação sem mudanças no mecanismo e que a única alternativa para que volte a funcionar é a aprovação das "correções" que a Rússia quer aplicar. Logo após esta votação, Moscovo apresentou um texto de resolução, que prolongava o mecanismo de ajuda transfronteiriça à Síria por seis meses, até 10 de janeiro de 2024, mas também acabou rejeitado, com três votos contra (Estados Unidos, França e Reino Unido), dois a favor (Rússia e China) e 10 abstenções.
Para ser aprovada, uma resolução necessita de pelo menos nove votos a favor e nenhum contra de qualquer membro permanente do Conselho de Segurança. A Rússia vetou esta resolução, alegando que considera as rotas de ajuda humanitária uma violação da soberania da Síria.
Com a rejeição das duas resoluções, foi encerrada oficialmente esta operação da ONU que foi vital para ajudar 4,1 milhões de pessoas no nordeste sírio. A autorização dada às Nações Unidas para que os seus comboios humanitários utilizassem a passagem fronteiriça de Bab al-Hawa - mecanismo contestado pelo Governo de Damasco - expirou segunda-feira à noite, pelo que esta via de acesso essencial está já encerrada.
Sofía Sprechmann Sineiro, secretária-geral da organização Care International, descreveu o veto da Rússia como “um golpe baixo no registo humanitário do Conselho desde o início do conflito sírio”.
“Hoje, o Conselho permitiu que a política guiasse a sua decisão, em vez das necessidades humanitárias do povo sírio. A decisão do Conselho de Segurança da ONU terá consequências catastróficas para a população da região de 4,1 milhões de pessoas cuja sobrevivência depende da assistência da ONU. Dentro de semanas, bens e serviços essenciais vão tornar-se escassos e ainda menos acessíveis”.
Guterres desapontado com veto russo
Pouco depois, o secretário-geral da ONU manifestou-se desapontado com a falta de consenso no Conselho de Segurança para prolongar o mecanismo de ajuda humanitária transfronteiriça à Síria.
"O secretário-geral pede a todos os membros do Conselho de Segurança que redobrem os seus esforços para apoiar a distribuição contínua de ajuda transfronteiriça para milhões de pessoas em extrema necessidade no noroeste da Síria pelo maior tempo possível", disse Stéphane Dujarric, acrescentando que a ONU tinha já antecipado tal cenário.
De acordo com o porta-voz de António Guterres, a assistência transfronteiriça da ONU continua a ser "uma verdadeira tábua de salvação para milhões de pessoas no noroeste da Síria", já que as necessidades humanitárias "atingiram o nível mais alto desde o início do conflito, enquanto o impacto dos devastadores sismos de fevereiro ainda é sentido de forma aguda".
Apesar do veto russo e do encerramento da rota de ajuda humanitária, o Conselho de Segurança garantiu que continuará a trabalhar para alcançar um acordo que reavive esse mecanismo. O anúncio foi feito pela Suíça e pelo Brasil, que dedicaram as últimas semanas a tentar encontrar uma solução para manter aberta a passagem fronteiriça de Bab al-Hawa.
"Não há tempo a perder. Vamos voltar ao trabalho imediatamente para encontrar uma solução. Devemos isso ao povo da Síria", disse a embaixadora suíça, Pascale Baeriswyl, a jornalistas.
Na segunda-feira, 79 camiões com ajuda humanitária passaram por Bab al-Hawa, fretados pelo Programa Alimentar Mundial e pela Organização Internacional para as Migrações.
Desde os fortes sismos de fevereiro que afetaram todo o sul da Turquia e o norte da Síria, 3.700 camiões passaram por Bab al-Hawa e por outras duas travessias excecionalmente autorizadas, até meados de agosto.
Nos últimos anos, sempre que esta autorização teve que ser renovada, a Rússia fez pressão para encerrar a operação e para que toda a ajuda fosse canalizada de dentro da Síria, ou seja, dependesse do Governo de Bashar al-Assad, um reconhecido aliado de Moscovo.