Atriz e política Regina Duarte minimiza ditadura brasileira

por Mário Aleixo - RTP
Regina Duarte assumiu posições muito controversas em entrevista à CNN Brasil Adriano Machado - Reuters

A secretária especial da Cultura do Brasil, Regina Duarte, minimizou a censura e a tortura durante a ditadura que vigorou no país entre 1964 e 1985, e afirmou que a covid-19 "trouxe uma morbidez insuportável".

"Se ficar a cobrar coisas que aconteceram nos anos 60, 70, 80, nós não vamos para a frente. (...) Sempre houve tortura, não quero arrastar um cemitério. Stalin, quantas mortes? Hitler, quantas mortes? Se nós ficarmos a arrastar essas mortes... Não quero arrastar esse cemitério", disse Regina Duarte, de 73 anos, em entrevista à CNN Brasil, na quinta-feira.

A secretária falava sobre ter aceite integrar o governo do presidente Jair Bolsonaro, que considera "heróis" alguns dos envolvidos em casos de prisão e tortura na ditadura militar, como o coronel Brilhante Ustra.

"A humanidade não para de morrer, se você falar de vida, de um lado tem morte (...) Acho que tem uma morbidez neste momento. A covid-19 está trazendo uma morbidez insuportável, isso é perigoso para a cabeça das pessoas. Isso não está bom", reforçou a atriz.

A secretária tem sido alvo de várias críticas por não se ter pronunciado publicamente sobre a morte, nos últimos meses, de vários escritores e artistas brasileiros, como o cantor Moraes Moreira, o escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, ou o compositor Aldir Blanc, que morreu na segunda-feira devido à covid-19.

Regina Duarte afirmou que não fez manifestações públicas por ter optado por "mandar uma mensagem como secretária para as famílias", porque, caso contrário, "a secretaria viraria um obituário".

"Mas se isso é importante para as pessoas, eu posso ter no "site" da secretaria o obituário, a biografia. (...) Pode ser que eu esteja a errar, vou me corrigir, não fiz por mal, peço desculpas, lamentei com as famílias", justificou.

Sobre as especulações, que têm surgido nas últimas semanas, sobre uma possível saída de Regina Duarte do governo, a secretária sublinhou a vontade de continuar e garantiu existir um "bom ambiente" entre si e o chefe de Estado brasileiro.

"Demissão, não. As pessoas têm uma certa ansiedade em ver-me fora. Demissão, exoneração é algo que está sempre a acontecer. Em nenhum momento [falou de demissão com Bolsonaro], estava um ambiente súper bom, ele [Jair Bolsonaro] está sempre alegre e rindo", afirmou Regina, horas depois de se ter reunido com o Presidente.

"Tenho um projeto e quero deixar um legado, sou uma artista, uma pessoa que ama a cultura, ama o setor. Apesar de saber que há uma minoria que não gosta de mim, o setor ama-me", reforçou.

Irritação em direto

Ao ser confrontada com um vídeo da atriz Maitê Proença, que exigiu à secretária mais medidas de apoio aos artistas durante a epidemia da covid-19 e uma conversa com a classe artística, Regina Duarte interrompeu a entrevista, visivelmente irritada.

Apesar do vídeo ser datado de quinta-feira, a secretária entendeu que as declarações de Proença eram antigas, recusou ouvir e pôs fim à participação na entrevista.

"Acho de baixo nível (...) Vocês estão a desenterrar mortos, estão a carregar um cemitério nas costas, fiquem leves(...) Telespetadores, desculpem o chilique", concluiu Regina Duarte.

 
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