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Aumenta o número de famílias sino-africanas

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Pequim, 24 Mar (Lusa) - Em casa de Carrington Ca, o ministro-conselheiro da Embaixada da Guiné-Bissau na China, fala-se chinês, inglês ou crioulo: "A Andreia falava bem português, mas já esqueceu tudo", diz o diplomata, referindo-se à filha mais nova.

Andreia Ca, nascida em Bissau em 1994, é filha do segundo casamento de Carrington Ca, um diplomata de 51 anos formado em Relações Internacionais pela Universidade de Pequim (Beida).

O pai e a mãe, Yin Jie, 45 anos, conheceram-se no final da década de 1980, quando ambos eram estudantes.

"Sinto que sou chinesa", responde prontamente Andreia quando questionada sobre a sua identidade. "E também me sinto africana", acrescenta logo a seguir.

A cor da pele e o desenho dos olhos de "Nina" - como os pais e os amigos lhe chamam - evidenciam essa dupla identidade, mas ao fim de dez anos em Pequim, as memórias da terra natal desvaneceram-se: "Bissau é muito longe".

A maioria dos amigos são chineses e o chinês - a língua que fala em casa, com a mãe, o pai e o irmão mais novo, Adélcio, nascido em Pequim, em 2003 - acabou por ocupar o lugar do português.

"Não me lembro de uma única palavra", afirma Nina, em inglês, língua que fala quase tão fluentemente como o chinês.

Nina é, aliás, uma das melhores alunas da Escola Secundária Xin Yuan Li, no distrito Chaoyang, nordeste de Pequim, com 100 pontos (a nota máxima) em mais de metade das disciplinas, nomeadamente Inglês, Historia, Música e Arte, e 90 em Matemática, Física e Chinês.

Em 1990, a Guiné-Bissau estabeleceu relações diplomáticas com Taiwan (a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois do Partido Comunista tomar o poder no continente, em 1949) e só oito anos mais tarde reatou os contactos com Pequim.

O casal Ca foi então viver para Bissau, onde Carrington tinha dois filhos de um anterior casamento - Esmeralda, hoje com 24 anos, e Gletche, quatro anos mais novo - e Yin Jie, entretanto, aprendeu a falar crioulo.

Quando a Guiné-Bissau reabriu a embaixada em Pequim, Carrington Ca, Yin Jie e Andreia vieram para a China e em 2006, os filhos mais velhos juntaram-se ao pai.

"Como ainda não dominam bem o chinês, a Esmeralda e o Gletche falam com a minha mulher em crioulo e com a Andreia em inglês", conta Carrington Ca.

A família de Carrington Ca não é um caso único: "Quando era estudante, havia quatro bolseiros são-tomenses que acabaram por casar com chinesas", recorda.

Samuel Okouma Mountou, conselheiro cultural da Embaixada do Gabão na China, também é casado com uma chinesa, e, como Carrignton Ca, estudou na Universidade de Pequim.

Num testemunho sobre "A Vida dos Estudantes Africanos na China", lançado este mês em Pequim e dedicado ao filho, Samuel Okouma Zhang, o diplomata gabonês refere que as universidades chinesas já formaram mais de 15 mil quadros africanos.

Mais que os políticos profissionais, esses quadros são hoje "uma importante ponte entre a China e Africa", realça Samuel Okouma Mounton.

O comércio sino-africano está a crescer em média 30 por cento ao ano desde o início do século XXI e em 2008 somou 106,8 mil milhões de dólares (78,5 mil milhões de euros).

Andreia Ca parece determinada: Quando acabar o secundário vai estudar relações internacionais, "como o pai", e seguir também a carreira diplomática.

Pelo menos no seu caso, a "amizade" ou "parceria" sino-africana não será uma simples figura de retórica.

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