Aumento do custo de vida. Onda de greves no Reino Unido atinge refinarias e centrais elétricas

por RTP
Kacper Pempel - Reuters

O Reino Unido está a ser palco de uma onda de greves que está a paralisar refinarias de petróleo e centrais elétricas em todo o país. Os trabalhadores exigem melhores salários face ao aumento do custo de vida, com a inflação a atingir o nível mais alto em 40 anos.

As empresas em causa estão sob um Acordo Nacional para a Indústria de Engenharia e Construção (NAECI), alcançado pelos sindicatos Unite e GMB com a Associação da Indústria de Engenharia e Construção (ECIA) em agosto de 2021.

O acordo em causa tem como principal objetivo permitir que a indústria permaneça “globalmente competitiva”, com uma “força de trabalho produtiva e competitiva”, segundo cita o World Socialist Web Site.

No entanto, o acordo não está a ser bem recebido pela maioria dos trabalhadores britânicos deste setor, uma vez que atribui um aumento salarial de apenas 2,5 por cento em janeiro de 2022 e outros 2,5 por cento em janeiro de 2023.


Os trabalhadores reclamam, assim, maiores aumentos salariais face ao aumento do custo de vida, numa altura em que a inflação é de quase 12 por cento, a mais elevada dos últimos 40 anos. O aumento da inflação deveu-se ao aumento da eletricidade e do gás, bem como dos preços dos alimentos, bebidas não alcoólicas e transporte.

“Merecemos um aumento salarial decente”, lê-se numa carta partilhada por vários trabalhadores britânicos nas redes sociais, que explica que as greves são “em resposta à recusa da ECIA em reconhecer o impacto da crise do custo de vida nos seus trabalhadores”.


Denunciando um “corte salarial em termos reais de pelo menos 10 por cento”, os trabalhadores lembram os esforços que foram feitos durante a pandemia. “Alguns de nós trabalharam durante a pandemia para manter o país a funcionar, alguns de nós foram despedidos” enquanto o resto “congelou os salários”, lê-se na carta.

“Agora estamos a pedir à ECIA que volte à mesa de negociações”, apelam os trabalhadores, acusando a entidade patronal de ter recusado até agora fazer outra oferta. “Não podemos permitir que essa atitude arrogante continue”, afirmam. Os trabalhadores pretendem fazer greve todas as quartas-feiras até que obtenham respostas para as suas exigências.

Na Escócia, cerca de 250 trabalhadores da refinaria Mossmorran ExxonMobil protestaram à porta da fábrica, bloqueando a estrada. Um número semelhante de trabalhadores também fez greve na refinaria Valero em Pembroke, no País de Gales.

“O custo de vida deve subir 11,6 por cento e só teremos um aumento salarial de 2,6 por cento. Se continuar assim, haverá pessoas que não poderão viver. As pessoas não se podem dar ao luxo de viver agora”, disse um trabalhador da refinaria Humber, no nordeste da Inglaterra.

Enquanto isso, os trabalhadores apontam para os lucros recordes que as empresas petrolíferas e energéticas estão a obter. Segundo o World Socialist Web Site, a multinacional ExxonMobil anunciou recentemente lucros de 17,85 mil milhões de euros no segundo trimestre e a Valero registou um lucro de 4,7 mi milhões.

Trabalhadores e sindicatos têm vindo a exigir aumentos salariais para compensar o aumento dos preços e de serviços, mas o executivo de Boris Johnson tem alertado para o perigo de ser desencadeada uma espiral inflacionista como a registada nos anos 70 do século XX, se as empresas fizerem refletir os aumentos salariais nos preços dos seus produtos.
Tópicos
pub