Autarquias pagaram 166 milhões de euros em despesas até setembro

por Mário Aleixo - RTP
A câmara de Cascais foi a que mais gastos com a pandemia nos primeiros nove meses de 2020 RTP

As autarquias locais do continente pagaram 166,1 milhões de euros em despesas relacionadas com o combate à pandemia até 30 de setembro de 2020, revelou o Tribunal de Contas (TdC).

No relatório “Impacto das medidas adotadas no âmbito da covid-19 nas entidades da Administração Local do Continente”, o Tribunal de Contas salientou que as autarquias “adotaram uma multiplicidade de ações de que foram beneficiárias as famílias, as empresas e as instituições, face aos efeitos económicos, sociais e financeiros da covid-19”.

Segundo o TdC, 20 municípios, localizados sobretudo nas duas áreas metropolitanas, foram responsáveis por 64,3% das despesas pagas líquidas, com destaque para Cascais, Lisboa, Santarém, Sintra e Oeiras.

O TdC alerta que, até ao final do terceiro trimestre do ano passado, alguns municípios já tinham gasto com medidas covid-19 “uma percentagem relevante da despesa total do ano anterior, o que poderá afetar o seu equilíbrio financeiro e sustentabilidade”.

Para que as autarquias locais fizessem face à pandemia, a Assembleia da República aprovou um quadro legislativo excecional simplificando áreas como a contratação pública, o regime de autorização da despesa e medidas excecionais e temporárias de natureza financeira.

O TdC alerta que há impactos destas medidas em várias dimensões que terão “consequências relevantes no desempenho financeiro” dos municípios, nomeadamente no endividamento, mas “cuja extensão só será possível avaliar em próximo relatório”.

O continente tem 278 municípios.

Autarquias celebraram mais de 5.500 contratos

A administração local do continente celebrou, até setembro, mais de 5.500 contratos relacionados com a covid-19, no valor de 83,2 milhões de euros, 80% deles por ajuste direto simplificado, revelou ainda o Tribunal de Contas.

Este organismo salientou que, a partir da informação no Portal Base, até 30 de setembro de 2020 as entidades da Administração Local celebraram 5.529 contratos relacionados com a covid-19, no valor de 83,2 milhões de euros (87,3% por municípios, 5,9% por comunidades intermunicipais, 4,5% por empresas locais e o restante por serviços municipalizados, associações, freguesias e áreas metropolitanas).

Destes contratos, 81,8% seguiram o procedimento de ajuste direto simplificado e 16,9% o ajuste direto regime geral, pelo que apenas 1,2% implicaram consulta prévia ou concurso público”, refere.

Segundo o TdC, a quase totalidade destes contratos respeita à aquisição de bens e serviços, nomeadamente de materiais e equipamentos médicos, equipamentos de segurança e de proteção individual, computadores e material informático, produtos alimentares e materiais de limpeza, desinfeção e higienização.

A grande maioria destes contratos é de baixo ou muito baixo valor (73% abaixo de cinco mil euros), existindo apenas sete contratos acima de um milhão de euros.

Os 20 maiores contratos foram adjudicados por Cascais (nove), Lisboa (sete), Sintra (um), Loures (um), Oeiras (um) e Gaia (um).

Os municípios dos distritos de Lisboa e do Porto concentravam 66,0% do valor dos contratos relacionados com a pandemia (53,8% para Lisboa e 12,2% para o Porto), seguindo-se Faro com 7,7%.

Por outro lado, 86 municípios não tinham no Portal Base qualquer contrato associado à covid-19, “o que permite colocar reservas à universalidade dos dados daquele Portal, considerando a dimensão relativa dos municípios ausentes e o facto de muitos apresentarem, já então, centenas de casos de doença no respetivo concelho”, é acrescentado.

O TdC destacou que há grandes discrepâncias no valor dos contratos celebrados: “seis municípios são responsáveis por mais de 50% do valor total, em termos relativos, seja por residente, seja por caso covid-19”.

Em relação às entidades às quais foram adjudicados os contratos, o TdC salienta “sinais de concentração”, já que cinco beneficiaram de 31,3% do valor total, além de existirem contratos de entidades adjudicatárias em apenas um município, “o que, dada a prevalência do ajuste direto, justifica maior escrutínio e reforço dos mecanismos de transparência”.

Para que as autarquias locais fizessem face à pandemia, a Assembleia da República aprovou um quadro legislativo excecional e temporário simplificando áreas como a contratação pública, o regime de autorização da despesa e medidas excecionais e temporárias de natureza financeira.


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