Autoridade Palestiniana questiona versão oficial sobre ataque do Hamas

por Lusa
Enquanto a guerra prossegue os políticos trocam acusações Abed Sabah - Reuters

A Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) questionou domingo a versão de Israel sobre o ataque do grupo islamita Hamas em 7 de outubro, após uma investigação jornalística indicar que a Força Aérea israelita matou pessoas em território israelita por erro.

"Segundo os 'media' israelitas, a investigação preliminar da polícia israelita demonstrou que helicópteros israelitas bombardearam em 7 de outubro civis israelitas que participaram no festival de música, o que significa que os aviões de combate israelitas causaram uma grande destruição na região", indica um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da ANP.

"Em consequência, o ministério considera que o resultado desta investigação suscita dúvidas sobre os relatos israelitas sobre a destruição e as matanças que se produziram nessa zona, especialmente no que respeita às fotografias e vídeos que refletem a destruição e os incêndios que se produziram em muitas habitações como resultado deste bombardeamento", acrescentou.

Segundo a versão israelita, o grupo islamista Hamas - no poder desde 2006 na Faixa de Gaza - atacou Israel em 7 de outubro com o lançamento de centenas de lança-foguetes e 3.000 combatentes que massacraram 1.200 pessoas e sequestraram outras 240 nas localidades próximas da Faixa de Gaza.

Nesse dia celebrava-se o festival de música Nova próximo do "kibbutz" Reim, situado a cerca de cinco quilómetros da Faixa de Gaza, onde, segundo as últimas estimativas da polícia israelita, o Hamas terá morto 364 pessoas, no incidente mais grave nesse dia.Versão contraditória

Ontem (domingo), o diário israelita Haaretz publicou uma investigação na qual, citando fontes oficiais, revelou que o Hamas não tinha conhecimento prévio do festival de música e "decidiu atacar espontaneamente".

Fonte oficial próxima da investigação também revelou ao diário que um helicóptero de combate do Exército israelita que se deslocou a Reim matou por acidente vários jovens quando disparou contra milicianos do Hamas.

De acordo com o relatório citado pelo Haaretz, as forças israelitas "tiveram dificuldade em identificar os milicianos do Hamas" e os pilotos "utilizaram artilharia" que atingiu civis.

"Os terroristas do Hamas receberam ordens para se misturarem lentamente na multidão e para não se mexerem em circunstância alguma", refere o relatório.

"Assim, tentaram enganar a Força aérea, fazendo crer que os que estavam em baixo eram israelitas. Este engano funcionou durante algum tempo, até que os helicópteros Apache foram libertados de todas as restrições. Os pilotos tiveram dificuldade em distinguir quem era terrorista e quem era israelita", continua.

O documento explica que "quando se aperceberam do facto, alguns decidiram utilizar munições de artilharia contra os terroristas, sem autorização dos seus superiores".

Porta-vozes do grupo islamita disseram hoje em conferência de imprensa em Beirute que "os helicópteros Apache foram os que bombardearam os participantes no concerto. Os corpos calcinados foram resultado dos mísseis e um avião sionista".O apelo dos palestinianos

Após o ataque de 7 de outubro Israel desencadeou um ataque por terra, mar e ar contra a Faixa de Gaza, provocando mais e 13.000 mortos, dezenas de milhares de feridos e mais de 1,7 milhões de deslocados, originando uma severa crise humanitária.

Desde então, o governo de Israel organiza visitas com a imprensa local e internacional, incluindo com altos responsáveis de diversos países, em muitas das localidades israelitas perto da Faixa de Gaza que foram atacadas pelo Hamas, assegurando que os cadáveres, as casas calcinadas e os veículos destruídos foram resultado do ataque do grupo palestiniano.

A ANP, que governa áreas reduzidas da Cisjordânia ocupada, emitiu agora um apelo a "todos os 'media', funcionários da ONU e líderes de outros países para darem seguimento" às revelações do Haaretz e a "rever as suas posições atendendo a estas revelações".

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, qualificou de "absolutamente absurda" a posição da ANP, assegurando que "nega ter sido o Hamas quem efetuou o horrível massacre no festival" de música e que inclusive "acusa Israel de ter efetuado esse massacre".

"O meu objetivo é que após termos destruído o Hamas, qualquer futura administração civil em Gaza não negue o massacre, não eduque os seus filhos para que se convertam em terroristas, que não pague aos terroristas e não lhes diga que o objetivo final na vida é assistir à destruição e dissolução do Estado de Israel", acrescentou em comunicado emitido pelo seu gabinete.

O governo de coligação liderado por Netanyahu, que integra ultraortodoxos e ultranacionalistas anti árabes, fomenta a ocupação e colonização da Cisjordânia ocupada, apesar a oposição das instâncias internacionais, que defende uma solução e dois Estados como solução para o prolongado conflito israelo-palestiniano.

Na passada quinta-feira, o ministro da Segurança Nacional de Israel, o extremista e colono anti árabe Itmar Ben Gvir, disse que o seu país deve tratar a ANP da mesma forma que trata o Hamas em Gaza.

 

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