Autoridades brasileiras divergem sobre causa dos atentados no Rio de Janeiro
Autoridades do Rio de Janeiro divergem sobre as causas dos atentados criminosos em vários bairros da região metropolitana da cidade, que deixaram 18 mortos e 22 feridos.
Na opinião do secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Roberto Precioso, os ataques foram motivados pela insatisfação nos presídios com a troca de governo, face à possibilidade de um regime disciplinar mais severo nas prisões.
"O sistema penitenciário estava acomodado e os criminosos temem agora que o governo endureça", afirmou Precioso, admitindo que a ordem dos ataques partiu de dentro das prisões.
No entanto, o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, discordou, argumentando que a onda de violência no Rio de Janeiro resultou da união de bandos criminosos contra o aumento de grupos paramilitares, designados milícias e que são constituídos por polícias que têm actuado contra traficantes nas favelas.
Astério Santos afirmou também que alertou a Secretaria de Segurança Pública há dois meses contra possíveis ataques de criminosos.
"Esse assunto de milícias para mim é uma grande besteira", contrapôs Precioso, revelando a discordância entre as autoridades do Rio de Janeiro.
Ao todo foram registados 14 atentados, sendo sete o número de autocarros incendiados.
No pior ataque, sete pessoas morreram carbonizadas dentro de um autocarro.
"Os ataques são quase kamikazes. Os bandidos contam com o factor surpresa", afirmou Roberto Precioso, acrescentando que as consequências dos atentados poderiam ser ainda piores se não fosse a pronta reacção da polícia.
O policiamento foi reforçado em redor de várias favelas da cidade.
O governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que toma posse no dia 01 de Janeiro, disse, em comunicado à imprensa, que o novo governo estadual "não vai tolerar esses ataques".
"Faremos um policiamento ostensivo nas ruas e, se necessário, vamos convocar a Força Nacional de Segurança Pública", assegurou.
Já a actual governadora Rosinha Matheus, também do PMDB, descartou a hipótese de aceitar a ajuda da Força Nacional de Segurança oferecida pelo governo federal.
A governadora comparou os ataques do Rio aos atentados da facção criminosa no Primeiro Comando da Capital (PCC) deste ano em São Paulo e lembrou que o governo daquele Estado também recusou o apoio das tropas federais.
Na primeira onda de terror em São Paulo, que causou 187 mortos entre 12 e 19 de Maio, as acções do PCC tiveram como alvo sobretudo agentes da polícia, esquadras e viaturas, a par de rebeliões em penitenciárias.
Na segunda série de atentados, entre 12 e 15 de Julho, foram registados 174 ataques contra alvos civis, como edifícios públicos e casas particulares, agências bancárias, lojas e autocarros. Estes ataques provocaram dez mortos e dez feridos, além de 58 detidos.
A terceira onda de violência foi registada em Agosto, quando mais de 167 ataques fizeram seis mortos e cinco feridos.