Mundo
Autoridades chinesas pedem desculpa por aborto forçado
As autoridades chinesas estão a ser comparadas a nazis, por terem forçado uma mulher de 27 anos a abortar aos sete meses de gestação. O caso foi denunciado por associações de defesa dos direitos humanos da província de Shaanxi, que publicaram na internet fotografias da mulher, Feng Jianmei, deitada numa cama de hospital e com um feto ensanguentado ao seu lado. Mas está longe de ser caso único. Algumas denúncias falam de que serão realizados 10.000 abortos forçados por ano, na China.
Segundo estas associações, Feng foi forçada a abortar no dia 2 de junho, na cidade de Zhenping, por já ser mãe de outra criança e não poder pagar a multa de 40.000 yuans (4.880 euros) a que estaria obrigada por não ter cumprido a lei de filho único.
As fotografias provocaram uma reação viral de ultraje na Internet. Segundo o marido de Feng, citado por ativistas dos direitos humanos, ela foi levada à força para o hospital e teve de ser amarrada para que o aborto se realizasse.
"Isto é o que dizem que os diabos japoneses e os nazis fizeram. Mas está a acontecer na realidade e não é de forma alguma caso único. Eles (os responsáveis) deviam ser executados", comentou um internauta, de acordo com a AFP.
Responsáveis "suspensos"
Um inquérito instaurado pelo governo provincial, baseado na cidade de Ankang, provou que o caso é "parcialmente verídico" e as autoridades anunciaram quinta-feira que os três alegados responsáveis pelo aborto forçado, foram suspensos e vão ser responsabilizados.
Os três funcionários não foram nomeados mas um deles será o responsável pelo planeamento familiar local, segundo a agência de notícias Nova China.O caso de Wang Liping
O sofrimento de Feng é semelhante ao de Wang Liping, uma jovem solteira de 23 anos da Provincia de Henan.
Em 2005, quando Wang estava grávida de sete meses, na sua primeira gravidez mas sem licença para o seu estado, foi levada à força para o hospital sendo o parto induzido através de medicamentos após Wang ter sido espancada e amarrada à cama.
Wang teve o filho praticamente sozinha, de madrugada e entre muitas dores. O bebé ainda chorou antes de morrer e Wang pediu auxílio a uma enfermeira, que se limitou a verificar o óbito. Quando o médico surgiu, exigiu a Wang que pagasse para se livrarem do corpo, o que ela recusou por não ter dinheiro.
O médico limitou-se a pegar no bebé de Wang e a embrulhá-lo num saco de plástico, deixando-o em cima da cama. A denúncia do caso, também através da Internet, causou igualmente indignação generalizada em 2005.
"Trata-se de uma violação séria da política da Comissão da População e do Planeamento Familiar, que ataca o trabalho de controlo populacional e que provocou um mal-estar na sociedade", afirmou o governo da província, no seu site.
Sexta-feira o governo de Ankang pediu oficialmente desculpas a Feng e à sua família.
Recomendou ainda a Pequim que analisasse e revisse a fundo a sua política de planeamento familiar.
Desde os anos 70 que o governo chinês impôs uma politica feroz de filho único para tentar controlar o crescimento populacional.
Atualmente, nas zonas urbanas os casais chineses só podem ter um filho enquanto nas zonas rurais podem ter dois se o primeiro for uma rapariga. É o caso de Feng, que teve uma filha em 2007.
O aborto é legal na China, desde que seja realizado até aos seis meses de gravidez. Em 2001 os abortos "tardios" foram ilegalizados. As estatísticas oficiais indicam que em 1983 foi atingido um pico de 14,37 milhões de gravidezes interrompidas só nesse ano.
Mulheres coagidas
Os abortos e as esterilizações forçadas são comuns na China, segundo afirmam os grupos de defesa das mulheres, para quem a lei de filho único leva a que milhares de mulheres sejam coagidas a abortar.
Há casos em que as mulheres tentam esconder a sua gravidez e até fogem e tentam viver em isolamento para não serem descobertas pelos funcionários do Controle Populacional e do Planeamento Familiar e poderem ter o seu filho.
"A história de Feng Jianmei demonstra como a política de filho único continua a sancionar a violência contra as mulheres, todos os dias", afirmou Chai Ling, do grupo ativista baseado nos Estados Unidos, All Girls Allowed.
O grupo diz que falou com Feng e o seu marido, Deng Jiyuan, após o sucedido. Este terá afirmado que Feng foi levada à força para o hospital e teve de ser dominada antes da realização do aborto. A mulher estará extremamente traumatizada, acrescenta o grupo, citado pela BBC.
A prática de abortos forçados é negada pelas autoridades de Pequim e o cego Chen Guancheng, militante dos direitos humanos, teve mesmo de se refugiar recentemente nos Estados Unidos após anos a denunciar centenas destes casos na província de Shandong (nordeste da China).
As fotografias provocaram uma reação viral de ultraje na Internet. Segundo o marido de Feng, citado por ativistas dos direitos humanos, ela foi levada à força para o hospital e teve de ser amarrada para que o aborto se realizasse.
"Isto é o que dizem que os diabos japoneses e os nazis fizeram. Mas está a acontecer na realidade e não é de forma alguma caso único. Eles (os responsáveis) deviam ser executados", comentou um internauta, de acordo com a AFP.
Responsáveis "suspensos"
Um inquérito instaurado pelo governo provincial, baseado na cidade de Ankang, provou que o caso é "parcialmente verídico" e as autoridades anunciaram quinta-feira que os três alegados responsáveis pelo aborto forçado, foram suspensos e vão ser responsabilizados.
Os três funcionários não foram nomeados mas um deles será o responsável pelo planeamento familiar local, segundo a agência de notícias Nova China.O caso de Wang Liping
O sofrimento de Feng é semelhante ao de Wang Liping, uma jovem solteira de 23 anos da Provincia de Henan.
Em 2005, quando Wang estava grávida de sete meses, na sua primeira gravidez mas sem licença para o seu estado, foi levada à força para o hospital sendo o parto induzido através de medicamentos após Wang ter sido espancada e amarrada à cama.
Wang teve o filho praticamente sozinha, de madrugada e entre muitas dores. O bebé ainda chorou antes de morrer e Wang pediu auxílio a uma enfermeira, que se limitou a verificar o óbito. Quando o médico surgiu, exigiu a Wang que pagasse para se livrarem do corpo, o que ela recusou por não ter dinheiro.
O médico limitou-se a pegar no bebé de Wang e a embrulhá-lo num saco de plástico, deixando-o em cima da cama. A denúncia do caso, também através da Internet, causou igualmente indignação generalizada em 2005.
"Trata-se de uma violação séria da política da Comissão da População e do Planeamento Familiar, que ataca o trabalho de controlo populacional e que provocou um mal-estar na sociedade", afirmou o governo da província, no seu site.
Sexta-feira o governo de Ankang pediu oficialmente desculpas a Feng e à sua família.
Recomendou ainda a Pequim que analisasse e revisse a fundo a sua política de planeamento familiar.
Desde os anos 70 que o governo chinês impôs uma politica feroz de filho único para tentar controlar o crescimento populacional.
Atualmente, nas zonas urbanas os casais chineses só podem ter um filho enquanto nas zonas rurais podem ter dois se o primeiro for uma rapariga. É o caso de Feng, que teve uma filha em 2007.
O aborto é legal na China, desde que seja realizado até aos seis meses de gravidez. Em 2001 os abortos "tardios" foram ilegalizados. As estatísticas oficiais indicam que em 1983 foi atingido um pico de 14,37 milhões de gravidezes interrompidas só nesse ano.
Mulheres coagidas
Os abortos e as esterilizações forçadas são comuns na China, segundo afirmam os grupos de defesa das mulheres, para quem a lei de filho único leva a que milhares de mulheres sejam coagidas a abortar.
Há casos em que as mulheres tentam esconder a sua gravidez e até fogem e tentam viver em isolamento para não serem descobertas pelos funcionários do Controle Populacional e do Planeamento Familiar e poderem ter o seu filho.
"A história de Feng Jianmei demonstra como a política de filho único continua a sancionar a violência contra as mulheres, todos os dias", afirmou Chai Ling, do grupo ativista baseado nos Estados Unidos, All Girls Allowed.
O grupo diz que falou com Feng e o seu marido, Deng Jiyuan, após o sucedido. Este terá afirmado que Feng foi levada à força para o hospital e teve de ser dominada antes da realização do aborto. A mulher estará extremamente traumatizada, acrescenta o grupo, citado pela BBC.
A prática de abortos forçados é negada pelas autoridades de Pequim e o cego Chen Guancheng, militante dos direitos humanos, teve mesmo de se refugiar recentemente nos Estados Unidos após anos a denunciar centenas destes casos na província de Shandong (nordeste da China).