As forças de segurança sudanesas dispararam hoje granadas de gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes que gritavam "não ao poder militar" em vários pontos do país, relataram testemunhas citadas pela agência France-Presse (AFP).
Milhares de manifestantes concentraram-se hoje para exigir uma mudança no Sudão, onde um acordo permitiu reinstalar o primeiro-ministro civil, mas reforçou o exército, no poder desde o golpe militar de 25 de outubro.
As Nações Unidas avisaram que este dia de protesto é um "teste" para o exército, que tenta conquistar a confiança da comunidade internacional, e alertaram contra qualquer forma de violência após uma repressão que já fez 42 mortos e centenas de feridos desde o golpe.
Apesar do aviso, as forças de segurança dispararam granadas de gás lacrimogéneo sobre manifestantes, tanto nos subúrbios de Cartum, como no centro e no oeste do país.
No domingo, o general Abdel Fattah al-Burhane, autor do golpe de Estado, satisfez aparentemente as exigências da comunidade internacional, ao permitir o regresso do primeiro-ministro, Abdullah Hamdok, afastado pelos militares no dia do golpe.
Mas a população diz não querer um primeiro-ministro civil que na sua opinião está vinculado aos generais.
"Manifesto-me contra o acordo entre Al-Burhane e Hamdok porque isso impede um Governo unicamente civil e nós não queremos militares na política", disse à AFP um manifestante em Cartum, Souheir Hamadennil.
Há vários dias que os ativistas apelam a que se faça desta quinta-feira um "dia dos mártires", com novas manifestações contra Hamdok.
Nas manifestações que tiveram lugar desde o golpe, em 25 de outubro, em diferentes partes do país, 42 pessoas morreram e centenas foram feridas, muitas delas por tiros, segundo o Comité de Médicos, que se opôs ao golpe, embora os oficiais de segurança minimizem estes números e tenham assegurado que não utilizaram fogo vivo contra os manifestantes.
Entre os que apoiam as marchas anti-militares estão as forças políticas e civis que impulsionaram Hamdok e consideram o seu pacto com os militares como uma traição que legitima o golpe.
Numa entrevista com uma estação de televisão local na quarta-feira, Hamdok disse ter aceitado o acordo para evitar mais derramamento de sangue.
Hamdok estava em prisão domiciliária desde o golpe de 25 de outubro, liderado pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, que mandou prender quase todos os civis no poder, pôs fim à união formada por civis e militares e declarou o estado de emergência.