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"Banca ainda não consegue fornecer crédito competitivo". CPLP discute como financiar transição energética
Arranca esta terça-feira a segunda edição da Conferência de Energia da CPLP, em Cascais. Com cerca de 500 participantes, entre governantes, empresários e financiadores, o financiamento da transição energética vai ser um dos temas centrais deste evento, que se prolonga até quarta-feira.
Foto: Pedro A. Pina - RTP
No setor é reconhecido que a banca nacional dentro da CPLP ainda não dá resposta, numa altura em que a maior parte do dinheiro nesta matéria vem de bancos e fundos espalhados pelo mundo.
Em entrevista à RDP África, Isabel Cancela de Abreu, diretora-executiva da Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER), que organiza o evento, defende um posicionamento estratégico dos nove países da comunidade para melhor aproveitar as oportunidades que existem no financiamento da transição energética.
Dez anos depois da primeira edição, que também aconteceu em Cascais, quais são as novas questões que trazem para esta conferência?
Na altura, em 2015, quando se falava em energia, falávamos sempre a uma escala muito nacional e de como é que isso afetava a economia do país. Estávamos numa fase em que ainda não se falava muito desse conceito das transições energéticas.Por exemplo, as empresas de LNG (gás natural liquefeito) estavam muito focadas no seu negócio tradicional, ainda não estavam a olhar para outro tipo de energias, e as energias renováveis estavam numa fase de arranque. Apenas estavam presentes em dois países da CPLP, no Portugal-Brasil e Cabo Verde.
Em 2015, identificou-se uma preocupação e uma necessidade, entre 2015 e 2025 foi identificado como é que vamos fazer isso, os temas e as estratégias. E agora o desafio é como é que nós vamos implementar estas estratégias de transição energética, como é que nós vamos buscar o financiamento para implementar isto.
Em 2015, identificou-se uma preocupação e uma necessidade, entre 2015 e 2025 foi identificado como é que vamos fazer isso, os temas e as estratégias. E agora o desafio é como é que nós vamos implementar estas estratégias de transição energética, como é que nós vamos buscar o financiamento para implementar isto.
Quando se fala de financiamento, estes projetos de energias renováveis procuram financiamento no mundo? Ou seja, procuram-se parceiros em todo o mundo e não apenas dentro dos países da CPLP?
A energia neste momento é a escala internacional. A maior parte dos financiamentos vêm em nível internacional, muitas vezes das multilaterais, do Banco Mundial, do Banco Africano, da Corporação Financeira Internacional (IFC, em inglês). Agora de fundos também climáticos, como o Fundo Verde para o Clima ou o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, em inglês).Portanto, é importante que os países tenham conhecimento de que esses fundos existem, saibam como aceder a esses fundos, mobilizar e depois tenham a capacidade de implementação.
Por exemplo, nesta conferência nós vamos dar um grande destaque a uma iniciativa conjunta do Banco Africano e do Banco Mundial chamada a Missão 300, que foi lançada agora recentemente no Africa Energy Summit, e é o maior programa de sempre de acesso à energia em África, quer ligar 300 milhões de africanos. E para esta iniciativa vão sendo identificados países prioritários. Dentro da CPLP, quatro países - Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe - já foram identificados como países prioritários.
Obviamente numa segunda fase também se pretende que se mobilize financiamento nacional, nomeadamente através da banca. Isso já acontece em países como o Brasil, Portugal ou Cabo Verde, mas noutros países a banca nacional, que tem taxas de juros muito altas, ainda não consegue fornecer créditos a condições competitivas, mas também é um tema que queremos trabalhar.
Também pensar que queremos atrair investimento privado. Isto é um desafio tão grande que não vai lá apenas com investimento público e tem que se atrair também as empresas. Por isso é que também temos uma sessão especificamente dedicada a como atrair o investimento privado e as empresas para este tipo de projetos.
Existem diferentes ritmos para conseguir cumprir metas, com países mais próximos de conseguir chegar a um determinado nível de produção através de energias renováveis?
Sem dúvida, mas temos que ter em atenção
quais são os recursos de cada país. Não há uma solução final para todos, portanto o objetivo não é o mesmo para todos os países e não tem que ser.
Vou dar-lhe um exemplo: Cabo Verde, que é um dos exemplos na integração de energia eólica, nunca poderá, dificilmente, chegar a 100% de energias renováveis porque não tem hídrica. É o contrário, por exemplo, de Angola, Moçambique, Brasil e Portugal, que são líderes mundiais na integração de energias renováveis, obviamente pelo investimento que fizeram em novas tecnologias como solar e eólica, mas porque têm uma matriz hídrica de base.