Bangladesh. Estudantes conseguem agravamento da lei contra condutores negligentes

por RTP
Os protestos levaram à paralisação da cidade, com autocarros a recusarem deslocarem-se a Daca Mohammad Ponir Hossain - Reuters

O Governo de Bangladesh aumentou a pena máxima de prisão por infração do limite de velocidade para cinco anos. Centenas de estudantes protestam há mais de uma semana nas ruas da capital contra a morte de dois jovens atropelados por um autocarro em excesso de velocidade. Lutam contra a corrupção no setor dos transportes e pedem maior segurança nas estradas. Os ânimos agitaram-se a partir de sábado com vários estudantes feridos em confrontos com a polícia.

Após nove dias de protestos, o Governo de Bangladesh revelou esta segunda-feira que a pena máxima de prisão por infração do limite de velocidade aumentou de três para cinco anos. O ministro da Justiça, Anisul Huq, acrescenta que o atropelamento deliberado resultará em acusações de homicídio e pena de morte.

A morte de dois adolescentes atingidos por um autocarro que seguia em excesso de velocidade, em julho, foi o mote para a organização dos protestos que se prolongam há mais de uma semana. Centenas de estudantes contestam em Daca, capital de Bangladesh, contra a corrupção no meio dos transportes – um problema recorrente no país, com muitos condutores não habilitados e veículos ilegais em circulação. Defendem uma maior segurança nas estradas de Bangladesh.

Os protestos levaram à paralisação da cidade, com autocarros a recusarem deslocar-se a Daca e os estudantes a pedirem as licenças de condução aos condutores, avaliando se estavam aptos a conduzir.No sábado, as autoridades cortaram a internet nos telemóveis para tentar conter a mobilização.

No sábado, dia 4, verificaranm-se intenson confrontos entre os estudantes e a polícia. De acordo com a France-Presse, 115 estudantes ficaram feridos com balas de borracha disparadas pelos agentes.

A autoridade policial negou ter disparado balas de borracha, bem como o uso de gás lacrimogéneo contra os manifestantes. No entanto, funcionários do hospital que receberam os feridos afirmam ter identificado sinais provocados por balas de borracha, encontrando-se alguns dos estudantes em estado grave.

Os estudantes garantem, por seu lado, ter sido ameaçados e atacados pela polícia: “Nós queríamos um protesto pacífico, não queremos que ocorram problemas aqui. No entanto, balas de borracha foram disparadas contra os nossos amigos”, indicou Sabbir Hossain, membro do protesto, em declarações à France-Presse.
Fotojornalista detido
Esta segunda-feira, a polícia anunciou a detenção de um fotojornalista por “declarações provocatórias” numa entrevista acerca dos protestos que têm agitado o país esta última semana.

Shahidul Alam foi detido em casa, no domingo, poucas horas depois de ter acusado o Governo do Bangladesh de usar “força bruta” para reprimir os protestos. Em Bangladesh, 1200 pessoas morrem em acidentes rodoviários por ano, segundo o Accident Research Institute.

“Ele foi conduzido hoje de manhã às nossas instalações. Estamos a interrogá-lo porque ele deu informações falsas a diferentes media e por causa das suas declarações provocatórias”, disse um responsável da polícia, Moshiur Rahman, à agência francesa.

Acrescenta que “ele não conseguia dar respostas adequadas” e “admitiu que estas eram as suas opiniões pessoais”.

Vários colegas do fotojornalista de 63 anos têm lutado pela sua libertação. Também a Amnistia Internacional pediu a imediata libertação de Alam, considerando que a sua detenção “marca uma escalada perigosa da repressão pelo Governo”.
Conflitos políticos
Sheikh Hasina é a primeira-ministra do Bungladesh desde 2009, no entanto, nos últimos meses tem sido alvo de várias contestações. Por esse motivo, a chefe do governo advertiu que "terceiras partes” poderiam sabotar as manifestações e colocar os estudantes em perigo.

“É por isso que peço a todos os pais que mantenham os seus filhos em casa”, afirmou Sheikh Hasina.

Vários ministros também aconselharam os estudantes a voltarem para as aulas, temendo que a manifestação pudesse desencadear protestos contra o Governo em vésperas das eleições gerais de dezembro.

Os avisos não tiveram qualquer efeito e, segundo a France-Presse, dezenas de manifestantes foram agredidos por alegados ativistas pró-governo.

O Governo de Hasina tem criticado o partido nacionalista do país – o principal da oposição – de usar os estudantes para criar o caos, retirando daí ganhos políticos, mas a oposição nega qualquer envolvimento.
Tópicos
pub