Barco alvo de duplo ataque dos EUA escoltava navio rumo ao Suriname

O barco que em setembro foi alvo de um ataque duplo por parte das forças armadas dos Estados Unidos, em águas internacionais nas Caraíbas, acompanhava um navio com destino ao Suriname. A notícia foi avançada pela CNN.

Inês Moreira Santos - RTP /
Ricardo Arduengo - Reuters

O secretário da defesa norte-americano defendeu, mais uma vez, o comandante militar que ordenou um segundo ataque contra uma embarcação suspeita de tráfico de droga. Pete Hegseth garante que os Estados Unidos vão eliminar os narcoterroristas.

De acordo com a emissora norte-americana, o almirante Frank Bradley disse, numa audiência privada com duas comissões do Senado, que a lancha atacada a 2 de setembro navegava ao lado de um navio maior que seguia para o Suriname.

Segundo fontes que pediram para não serem identificadas, Bradley argumentou que, os relatórios dos serviços de informação indicavam que é possível que o navio maior transportasse droga, que tinha como destino final os Estados Unidos.

Os supostos traficantes de drogas mortos pelos militares dos EUA nesse ataque estavam a caminho de se encontrar com outra embarcação maior que seguia para o Suriname — um pequeno país sul-americano a leste da Venezuela. Isto, segundo as declarações, na quinta-feira, do almirante que supervisionou a operação.

Autoridades antidrogas norte-americanas afirmam que as rotas de tráfico que passam pelo Suriname têm como destino principal os mercados europeus. Nos últimos anos, as rotas de tráfico de drogas com destino aos EUA têm se concentrado no Oceano Pacífico. Este detalhe descredibiliza o argumento do governo de Donald Trump de que atingir o barco várias vezes e matar os sobreviventes era necessário para proteger os Estados Unidos de uma ameaça iminente.

A Administração Trump e o secretário da Defesa, Pete Hegseth, estão a enfrentar críticas devido a esta operação, em que 11 pessoas morreram.

Na semana passada, o jornal Washington Post revelou que dois sobreviventes do primeiro ataque, que se agarravam à embarcação em chamas, foram mortos num segundo ataque, autorizado por Hegseth.

Na quinta-feira, o congressista democrata Jim Himes afirmou que o ataque matou "marinheiros náufragos" depois de ter assistido a um vídeo do Pentágono exibido a membros do Congresso. Segundo Himes, o vídeo mostrava "dois indivíduos claramente em perigo, sem qualquer meio de transporte, que foram mortos pelos Estados Unidos".

De acordo com as forças armadas, o barco foi atingido quatro vezes, a primeira das quais partindo-a ao meio, e mais três vezes, matando dois sobreviventes que tentavam agarrar-se a uma parte da embarcação antes de esta se afundar.

O almirante Frank Bradley relatou que, antes do segundo ataque, os sobreviventes acenaram com um objeto no ar, mas não ficou claro se se estavam a render ou a pedir ajuda.

Desde setembro que o exército norte-americano tem vindo a realizar pelo menos 22 ataques aéreos contra embarcações, principalmente no mar das Caraíbas, que já mataram 87 pessoas, sem apresentar qualquer prova da sua ligação ao narcotráfico.

Esta semana, a família de um pescador da Colômbia denunciou uma possível "execução extrajudicial" perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos durante outro ataque, no oceano Pacífico, em setembro.

Os Estados Unidos realizaram na quinta-feira mais um ataque aéreo no Pacífico contra uma embarcação alegadamente utilizada por traficantes de droga, matando quatro pessoas, anunciou o Exército norte-americano.

Trump disse na quarta-feira que as operações militares em torno da Venezuela vão "muito além" de uma campanha de pressão contra o Presidente Nicolás Maduro e insistiu que "em breve" poderão começar operações em terra semelhantes às que têm sido realizadas em águas internacionais.

 

C/Lusa

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