Base das Lajes "nunca será abandonada" pelo Pentágono

É “perfeitamente natural” o plano de Washington para a redução da presença militar na Base das Lajes, avaliou esta terça-feira o general Loureiro dos Santos, depois de o Pentágono ter aberto negociações com Lisboa para a reestruturação do efetivo norte-americano nos Açores. Trata-se, na interpretação do perito em geoestratégia, do desfecho expectável de uma política de downgrading que decorre de anos de “custos exagerados” e da “situação financeira muito débil e delicada” da maior potência mundial. Mas a Base, frisa, “nunca será abandonada”.

RTP /
Portugal e Estados Unidos vão manter reuniões de alto nível a 19 de junho em Washington, tendo em vista “desenvolver programas para fortalecer o relacionamento bilateral” Shawn Thew, EPA

A cooperação militar entre Estados Unidos e Portugal deve permanecer sólida e a Base das Lajes “nunca será abandonada” pelas estruturas militares norte-americanas. É esta a convicção do general Loureiro dos Santos, questionado pela agência Lusa sobre a reestruturação do efetivo que o Pentágono mantém nos Açores.

A reestruturação da presença militar norte-americana nas Lajes esteve ontem no centro de um encontro, em Washington, entre o secretário da Defesa dos Estados Unidos e o homólogo português. Leon Panetta e José Pedro Aguiar-Branco abriram um processo de negociações bilaterais “sobre as modalidades da contínua postura norte-americana” no arquipélago.
Pós-Guerra Fria

O embaixador norte-americano em Lisboa confirmara já recentemente que os “reajustamentos orçamentais” decididos pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos passariam pela Base das Lajes.

Allan Katz diria mesmo que as instalações açorianas já não comportavam o valor estratégico que detinham “há 30 anos”, durante a Guerra Fria.

O diplomata contrapôs, contudo, que, independentemente das “mudanças a realizar ou não”, não estaria em causa a importâncias das relações bilaterais.

Loureiro dos Santos enquadra as intenções norte-americanas num contexto de alteração da “estratégia geral relativamente à utilização de forças militares”. “E a modificação mais importante foi a alteração do esforço que até agora se verificava nas duas guerras do Afeganistão e do Iraque e também na Europa, isto é, privilegiava as ligações com a Europa e com os problemas da Europa, nomeadamente da Europa de Leste, e passou a exercer o seu esforço na Ásia”, explicou o antigo Chefe do Estado-Maior do Exército.

A redução do efetivo das Lajes prende-se, por outro lado, com “os custos exagerados que têm sido feitos nos últimos anos e a situação financeira muito débil e delicada” dos Estados Unidos.

“Neste contexto”, sustenta Loureiro dos Santos, “é perfeitamente natural que as forças militares e os destacamentos dos EUA no âmbito europeu sejam reduzidos, aliás já anunciaram que vão retirar duas das quatro brigadas que estão na Europa e eventualmente diminuir comandos que aqui estão estacionados”.

“Dentro deste contexto também há uma diminuição dos elementos que estão na Base das Lajes, que não é só desta base, mas de todo o eixo atlântico europeu”, salientou ainda o general.
Negociações começam “já”
Na segunda-feira, à saída do encontro com Leon Panetta, o ministro da Defesa confirmava o desinvestimento norte-americano na Base das Lajes, sublinhando que essa é uma tendência que se verifica “em toda a parte no que diz respeito a participação norte-americana no exterior”. “De qualquer maneira, será objeto de trabalho conjunto entre os EUA e Portugal”, notou Aguiar-Branco.

No comunicado que resumiu a reunião dos governantes é assinalado que Leon Pannetta destacou “o papel indispensável de Portugal como aliado estratégico”, agradecendo o envolvimento do país em diferentes missões da NATO, desde logo no Afeganistão.

“Além de discutirem como fortalecer e aprofundar a relação Portugal-Estados Unidos na Defesa, o secretário Panetta confirmou que os Estados Unidos vão permanecer na Base Aérea das Lajes e que (...) vão consultar com Portugal sobre as modalidades da contínua postura norte-americana”, acrescenta a nota.

As negociações para a reestruturação de meios norte-americanos nos Açores vão ter início “já”, segundo o ministro português: “Irão iniciar-se rapidamente, porque a própria situação obriga a isso”.

“Sabemos que os Estados Unidos não têm intenção de sair das Lajes, sabemos que há uma situação global que não é particular de Portugal ou das Lajes, mas global, e sabemos que há uma perceção da importância da relação estratégica”, insistiu José Pedro Aguiar-Branco.

Tópicos
PUB