Beirute cai por terra após explosão mortífera

por RTP |

Uma explosão num armazém do porto marítimo da capital do Líbano gerou um cogumelo semelhante ao de uma detonação atómica, abalando casas na ilha mediterrânica do Chipre, a cerca de 200 quilómetros de distância.

A intensidade da explosão no porto de Beirute atirou vítimas ao mar, incluindo muitos funcionários portuários e aduaneiros, bem como pessoas que conduziam na zona durante a hora de ponta da noite de terça-feira. Pelo menos 137 morreram e receia-se que o número continue a subir.

O principal silo de cereais do Líbano, no porto de Beirute, foi destruído, deixando o país com menos de um mês de reservas de cereais, segundo o ministro libanês da Economia.

O Presidente Michel Aoun revelou, por sua vez, que 2750 toneladas de nitrato de amónio, utilizado como fertilizante e como explosivo para pedreiras e minas, foram armazenadas durante seis anos no porto sem medidas de segurança.

imagem de satélite
imagem de satélite

Crédito: Imagem de satélite captada a 5 de agosto 2020: Planet Labs Inc.

Investigações preliminares sugerem que a explosão foi causada por anos de inação e negligência no armazenamento do material altamente explosivo.

"É negligência", disse fonte oficial à Reuters, acrescentando que a questão do armazenamento havia chegado a vários comités e juízes e que "nada foi feito".

“Sempre soube que somos liderados por pessoas incompetentes, por um Governo incompetente. Mas o que fizeram agora é absolutamente criminoso”, lamentou à BBC uma libanesa num hospital de Beirute, após ter ficado ferida na explosão.

Na quarta-feira (5 de agosto), o Governo libanês anunciou que vários funcionários do porto de Beirute foram colocados em prisão domiciliária no âmbito de uma investigação ao sucedido, nomeadamente “todos os que lidaram com o armazenamento do nitrato de amónio, guardando-o e lidando com a papelada”. A justiça libanesa insistiu que os responsáveis irão enfrentar “a punição máxima”.

imagem de satélite área afetada
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O desastre fez mais de cinco mil feridos e 300 mil desalojados, em consequência das ondas de choque, que devastaram fachadas inteiras de edifícios, arrastaram mobiliário para as ruas e estilhaçaram vidros, projetando-os a distâncias de vários quilómetros.

Foto: Vista do local da explosão a partir do bairro Gemmayzeh. | Foto: Mohamed Azakir - Reuters

Foto: Homem apanha os estilhaços de vidro da carpete da Mesquita Mohammad Al-Amin. | Foto: Aziz Taher - Reuters

Foto: Mulher empurra cadeira de rodas à saída do Hospital Al Roum | Foto: Mohamed Azakir - Reuters

Foto: Vista do local da explosão a partir do bairro Gemmayzeh. | Foto: Mohamed Azakir - Reuters

Foto: Homem apanha os estilhaços de vidro da carpete da Mesquita Mohammad Al-Amin. | Foto: Aziz Taher - Reuters

Foto: Mulher empurra cadeira de rodas à saída do Hospital Al Roum | Foto: Mohamed Azakir - Reuters

Um composto perigoso

O nitrato de amónio é relativamente seguro se não for contaminado e for armazenado adequadamente. Mas o composto, frequentemente utilizado em fertilizantes, pode ser perigoso quando exposto a calor intenso.

A armazenagem do químico perto de grandes tanques de combustível, em grandes quantidades e numa instalação mal ventilada, pode causar uma explosão maciça.

Explosões como esta têm precedentes - três incidentes semelhantes, no passado, envolveram grandes quantidades de nitrato de amónio e mataram centenas de pessoas.

alemanha

Alemanha | Oppau

21 de setembro de 1921

Uma explosão de aproximadamente 450 toneladas de mistura de sulfato de amónio e de nitrato de amónio fertilizante matou 565 pessoas e 1952 ficaram feridas.

Estavam armazenadas 4.500 toneladas de fertilizante neste local. Ou seja o equivalente 10% do armazenamento explodiu.

Crédito: Domínio Público

A explosão abriu uma cratera com 90 metros de largura, 125 metros de comprimento e 20 de profundidade.

Ocorreram duas explosões – uma inicial, de menor intensidade, e, de seguida, uma gigantesca, que devastou a fábrica e parte da região. Pelo menos 1036 prédios foram completamente destruídos a 600 metros do epicentro de explosão e outros 928 ficaram extremamente danificados, a uma distância de até 900 metros. Quase todas as pessoas que moravam em Oppau ficaram desalojadas.

As explosões foram ouvidas como dois estrondos no nordeste de França e em Munique, a mais de 300 quilómetros de distância.

Crédito: Domínio Público

texas

Estados Unidos | Texas

16 de abril de 1947

Um grupo de bombeiros na doca coloca as mangueiras de incêndio em posição para combater um incêndio a bordo do cargueiro do Grandcamp antes das explosões. Uma grande nuvem de fumo escuro paira sobre a doca. | Crédito: Portal to Texas History

Um incêndio a bordo do cargueiro francês S.S. Grandcamp, atracado no porto da Cidade do Texas, que além de outras mercadorias transportava 2.200 toneladas de fertilizante contendo nitrato de amónio, provocou uma explosão que pôde ser observada a quilómetros de distância e originou, no mar, uma onda com quase cinco metros de altura, que abalroou o porto e inundou a área adjacente.

As janelas em Houston, a cerca de 65 quilómetros da zona, ficaram estilhaçadas e os habitantes do Louisiana, a cerca de 400 quilómetros do epicentro da explosão, sentiram a onda de choque.

Grande parte dos edifícios próximos da explosão ficaram “achatados” e muitos ficaram sem portas e telhados.

Pelo menos 567 pessoas morreram e mais de cinco mil ficaram feridas. A fábrica da Monsanto, a 300 metros de distância, foi destruída pelo impacto da explosão.

Colunas de fumo negro erguem-se da Monsanto Chemical Company após um navio de carga carregado com fertilizante de nitrato de amónio ter explodido no porto de Texas City, Texas, a 16 de Abril de 1947. | Crédito: Texas City Library

Tianjin

China | Tianjin

12 agosto de 2015

A série de explosões que abalou Tianjin, no dia 12 de agosto de 2015, atingiu a área industrial deixando um rasto de destruição.

Explosões num armazém que continha vários produtos químicos, incluindo 800 toneladas de nitrato de amónio, mataram pelo menos 160 pessoas. Outras 700 ficaram feridas e seis mil ficaram desalojadas.

Crédito: Reuters

Uma cidade sob tensão

A explosão foi a mais violenta de sempre a devastar a capital do Líbano, uma cidade ainda marcada pela guerra civil de há três décadas e a recuperar de um colapso económico, enquanto lida com um surto de infeções pelo novo coronavírus, registando grande número de casos desde o início da pandemia.

O bairro portuário ficou praticamente destruído, barrando a principal rota de importações necessárias para alimentar uma nação de mais de seis milhões de pessoas.

Por outro lado, o Líbano tem vindo a debater-se com dificuldades para conseguir alojar e alimentar centenas de milhares de refugiados da Síria.

As autoridades de Beirute informaram que os danos causados pela explosão podem atingir um valor entre os 2.500 e os 4.500 milhões de euros, o que vem agravar a já preocupante situação financeira do país.

O desastre fez ainda cinco mil feridos e 300 mil desalojados. Ao amanhecer desta quinta-feira, dois dias depois do incidente, ainda havia fumo a erguer-se do porto da capital libanesa.

Artigo baseado no gráfico Reuters

Fontes: Graphic Reuters; Reuters; Lusa; BBC; Texas City Library; kalenderblatt.de;