Num discurso proferido aos elementos daquele órgão, encarregado de vigiar a ortodoxia da religião católica, Bento XVI explicou que "a Igreja acolhe com alegria as verdadeiras conquistas do conhecimento humano e reconhece que a evangelização exige que se esteja a par dos horizontes e dos reptos que o saber moderno descobre".

"Na realidade, os grandes progressos do saber científico a que assistimos no século passado ajudaram a compreender melhor o mistério da criação", acrescentou.

O Papa salientou que, no século XX, "os progressos da ciência foram, por vezes, tão rápidos que foi difícil determinar como poderão ser compatíveis com as verdades reveladas por Deus sobre o homem e o mundo", a tal ponto que algumas afirmações científicas "foram contrárias a tais verdades".

"Isso pode ter provocado uma certa confusão entre os fiéis e ter constituído uma dificuldade para a proclamação e a recepção do Evangelho", reconheceu.

A Igreja Católica rejeitou durante séculos as teorias científicas que punham em causa a visão religiosa da criação do universo e os seus defensores eram passíveis de pena de morte em julgamentos sumários instruídos pelo Tribunal do Santo Ofício.

Mas actualmente, a Igreja demarca-se das correntes fundamentalistas cristãs que queriam proibir o ensino das teorias de Darwin sobre a evolução das espécies.

Bento XVI declarou hoje que não existe "qualquer competição entre a razão e a fé", sublinhando, contudo, que os cristãos não devem "ter medo de enfrentar esse desafio: Jesus Cristo é o senhor de toda a criação e de toda a história (Ó), a estrela polar da liberdade humana".

O Papa frisou ainda que quando se esquece a "centralidade da fé" na vida da Igreja, esta perde o seu dinamismo e fica reduzida a "um activismo estéril" ou a "um jogo político de contornos mundanos".