Biden diz "não" ao envio de caças F-16 para a Ucrânia

por Cristina Sambado - RTP
Paulo Whitaker - Reuters

O presidente norte-americano, Joe Biden, exclui a possibilidade de enviar caças F-16 para a Ucrânia, apesar dos vários apelos de Kiev no sentido de apoio aéreo urgente para enfrentar a invasão russa.

Biden foi perentório ao responder “não”, quando questionado por um jornalista, na Casa Branca, sobre a intenção de fornecer os aviões de combate pedidos por Zelensky.

A reação do presidente norte-americano surge um dia depois de o chanceler alemão, Olaf Scholz, ter também excluído a possibilidade de enviar aviões de guerra para a Ucrânia. Nos últimos tempos, as autoridades ucranianas têm pressionado os aliados a enviar aviões de combate avançados para ajudar Kiev a retomar o controlo do espaço aéreo do país.

O reforço da Força Aérea ucraniana com aeronaves de combate de quarta geração, como o F-16 dos EUA, tornou-se uma tarefa prioritária para o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que a 26 de janeiro, no habitual discurso noturno, sublinhou que "a agressão russa pode e deve ser travada com armas adequadas".

No entanto, os EUA e os restantes aliados receiam que o envio de aeronaves de guerra possa conduzir a uma maior escalada militar com a Rússia e temem que Moscovo use armas nucleares.
Os F-16 Fighting Falcons de fabrico norte-americano são considerados os aviões de combate mais fiáveis do mundo e são usados por outros países como a Bélgica e o Paquistão. O envio dos F-16 para a Ucrânia representaria uma melhoria para as Forças Armadas ucranianas, que estão a usar jatos de combate da era soviética – a maioria MiG –, produzidos antes de o país declarar a independência, em 1991.

No entanto, Biden tem rejeitado os pedidos de Zelensky para o envio de aviões de guerra, focando-se antes na prestação de apoio militar noutras áreas.

Na passada semana, Washington anunciou que enviaria para Kiev 31 tanques Abrams. Também o Reino Unido e a Alemanha se comprometeram a enviar veículos blindados.

No domingo, numa entrevista, o chanceler alemão afirmou que “parecia inconsequente” discutir o envio de outra ajuda militar para a Ucrânia quando o seu Governo já se tinha comprometido com o envio de tanques Leopard 2.

Olaf Scholz reiterou ainda que a NATO não estava em guerra com a Rússia e que “não permitiria tal escalada”.

Entretanto, o presidente francês, Emmanuel Macon, revelou na segunda-feira que, “por definição, nada está excluído” em relação ao apoio militar à Ucrânia. Mas defendeu que não se deve agravar ainda mais a situação, nem limitar a capacidade defensiva da França.

A Polónia - outro aliado-chave da Ucrânia – não exclui o envio de F-16 para Kiev. No entanto, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, afirmou que qualquer movimento desse género “só será possível em completa coordenação com os restantes Estados-membros da NATO”.

Segundo o chefe de gabinete do presidente ucraniano, Andriy Yermak, “a Ucrânia tinha recebido sinais positivos de Varsóvia”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertou para o facto de que novos fornecimentos de armamento à Ucrânia vão levar ao aumento da escalada no conflito. Ataques em Vuhledar e Blahodatne
As Forças Armadas ucranianas revelaram ter travado ataques russos às localidades de Vuhledar e Blahodatne, a norte de Bakhmut.

No entanto, Denis Pushilin, o administrador das partes ocupadas pela Rússia na província ucraniana de Donetsk, garantiu que as tropas de Moscovo tinham garantido a conquista de Vuhledar.

Os serviços secretos britânicos, que revelam raros dados do campo de batalha, afirmaram que a Rússia estava a atacar a cidade de Vuhledar com pelo menos uma brigada, uma unidade normalmente composta por mais de mil militares.


“Há uma possibilidade realista de que a Rússia continue a fazer ganhos locais no sector. No entanto, é pouco provável que Moscovo tenha tropas suficientes na área para alcançar um avanço operacionalmente significativo".

Até ao momento, as forças russas tinham avançado a sul do rio Kashlahach, que corre a margem da cidade de Pavlivka, dois quilómetros a sul de Vuhledar.


Segundo o Ministério da Defesa do Reino Unido, os comandantes russos estão provavelmente a tentar desenvolver um novo eixo de avanço e a desviar as forças ucranianas de Bakhmut, uma cidade mais a norte que tem sido o principal foco de Moscovo durante meses.

A cidade mineira de Vuhledar situa-se no extremo sul da fronteira oriental da Ucrânia junto às linhas ferroviárias que abastecem as forças russas. Desde o início da guerra, há onze meses, as forças de Kiev repeliram vários ataques à localidade.


Nas últimas duas semanas, as tropas russas têm feito grandes avanços em torno de Bakhmut, uma cidade que já teve 100 mil habitantes e que parece cada vez mais vulnerável, depois de Moscovo ter conquistado a cidade mineira de Soledar há uma semana.

Kiev afirma que Bakhmut não está em risco de passar para o controlo russo, mas considera que os combates no local estão a ser intensos.

Segundo a Reuters, que cita especialistas militares, “a Rússia está determinada a obter ganhos na Ucrânia nos próximos meses, antes de Kiev receber centenas de tanques e veículos blindados ocidentais prometidos para um contra-ataque a fim de reconquistar o território ocupado no último ano”.
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