Biden pede a Londres para trabalhar com Dublin e preservar paz na Irlanda do Norte
O Presidente dos EUA, Joe Biden, apelou hoje ao Reino Unido para trabalhar "mais de perto" com a Irlanda para preservar a paz na Irlanda do Norte, enfraquecida pelas tensões decorrentes do `Brexit`.
"Penso que o Reino Unido deveria trabalhar mais de perto com a Irlanda nesta matéria. Nunca se deve permitir que a violência política regresse a esta ilha", disse Biden durante um discurso no Parlamento irlandês.
O chefe de Estado democrata reiterou a necessidade de "acarinhar" o acordo de paz assinado em 1998, cujo 25.º aniversário foi ensombrado pelo boicote do Partido Democrata Unionista à formação da assembleia e governos regionais.
O Acordo de Sexta-feira Santa, vincou, "mudou vidas para melhor a Irlanda do Norte, mas também tem um impacto positivo significativo em toda a República da Irlanda".
Num discurso no qual recordou frequentemente as origens familiares irlandesas e a influência dos numerosos imigrantes irlandeses na história dos Estados Unidos, Biden realçou também os fortes laços económicos e cooperação política, por exemplo nas sanções contra a Rússia devido à invasão da Ucrânia.
"O apoio da Irlanda à Ucrânia é especialmente significativo porque tem a autoridade moral perante nações de todo o mundo. A Irlanda sempre foi uma voz a favor da liberdade, da cooperação global pela igualdade de toda a humanidade", elogiou.
O presidente Democrata foi o quarto presidente dos EUA a dirigir-se a ambas as câmaras parlamentares em Dublin, depois de John Fitzgerald Kennedy, Ronald Reagan e Bill Clinton.
O discurso foi o ponto alto do segundo dia da visita ao país, depois de um encontro com o primeiro-ministro, Leo Varadkar, no qual Biden se mostrou determinado em reforçar as relações entre EUA e a Irlanda.
"Penso que existe uma oportunidade de fazer progressos importantes, não apenas devido ao acordo assinado há 25 anos, mas em termos da forma como a Irlanda está a evoluir, da forma como está a ocupar o seu lugar no mundo, trabalhando para ajudar países de todo o mundo que sofrem com a fome e pela forma como acolheu - sei que não é fácil - os ucranianos", disse.
Pelo seu lado, o chefe do governo irlandês agradeceu ao presidente norte-americano a liderança dos EUA na "proteção da democracia e da liberdade na Europa".
"É maravilhoso tê-lo de volta à Irlanda e penso que a visita tem corrido extremamente bem, honra-nos muito com a sua presença e aguardo com expetativa a reunião", declarou Varadkar.
Biden encontrou-se também com o homólogo irlandês, Michael D. Higgins, na residência oficial de Áras an Uachtaráin, na qual cumpriu a tradição de plantar uma ávore e tocar o chamado "sino da paz", instalado em 2008 para assinalar o décimo aniversário do acordo de 1998 na Irlanda do Norte.
Os presidentes dos EUA John F. Kennedy, Bill Clinton e Barack Obama também plantaram árvores no jardim, tal como o Papa João Paulo II e a Rainha Isabel II.
O programa de hoje terminará com um jantar de gala no Castelo de Dublin.
O presidente dos EUA regressará aos Estados Unidos no sábado de manhã, depois de visitar, na sexta-feira, a pequena localidade de Ballina no Condado de Mayo (noroeste), de onde vem parte da família materna.
Biden tem previsto um discurso na Catedral de Ballina, que terá sido construída em parte utilizando tijolos fornecidos pelo seu tetravô, Edward Blewitt, um fabricante de tijolos e engenheiro civil.
O orgulho da cidade na ligação ao presidente norte-americano é evidenciado por um grande mural feito em 2020 no centro urbano com a imagem de Biden a sorrir.
Muitas pessoas de Ballina e dos arredores do Condado de Mayo mudaram-se para a Pensilvânia no século XIX para fugir a fome, à semelhança da família de Biden.
Biden chegou na quarta-feira à República da Irlanda após uma breve visita à Irlanda do Norte, tendo-se deslocado imediatamente ao Condado de Louth, onde viveram alguns antepassados e onde encontrou primos distantes.
Multidões esperaram horas para ver o presidente nas cidades de Carlingford e Dundalk, onde Biden percorreu as ruas e interagiu com os populares, entrando inclusivamente num `pub`.
"É uma sensação maravilhosa! Sinto-me como se estivesse a voltar a casa", comentou a certa altura.