Bin Laden foi pai quatro vezes durante o exílio paquistanês

por RTP
As revelações da viúva de Bin Laden lançam alguma luz sobre os últimos anos da clandestinidade do líder da al-Qaeda no Paquistão DR

Ao longo dos nove anos em que esteve escondido no Paquistão, Osama Bin Laden foi pai quatro vezes, tendo duas das crianças nascido em hospitais públicos. A revelação foi feita pela mais jovem das viúvas do líder da al-Qaeda, a qual adiantou aos interrogadores paquistaneses que Bin Laden não ficava muito tempo no mesmo lugar e ocupou cinco casas diferentes durante aquele período.

Desde a morte de Bin Laden numa operação das forças especiais americanas, que as três viúvas estão sob prisão domiciliária no Paquistão.
Paquistão vai julgar viúvas por entrarem ilegalmente no país
Islamabad vai acusá-las e a duas filhas adultas de Bin Laden detidas na mesma ocasião, de terem entrado ilegalmente no país, o que lhes pode acarretar uma pena de prisão até cinco anos.

As duas mulheres mais velhas, identificadas como Kharia Hussain Sabir e Siham Sharif são ambas de nacionalidade saudita e recusaram-se, em larga medida, a cooperar com as autoridades paquistanesas. Já a mais nova, Amal Ahmad Abdul Fateh, de nacionalidade iemenita, que ficou ferida no raide americano, tem vindo a falar.

O testemunho desta mulher, atualmente com 30 anos, oferece a imagem mais detalhada, até agora, da vida de Bin Laden e da sua família, nos anos que antecederam a morte do líder da al-Qaeda às mãos de um comando dos Estados Unidos.
O papel do Paquistão
O testemunho da viúva volta a levantar, também, algumas questões sobre as eventuais cumplicidades oficiais que o fundador da al-Qaeda poderá ter tido no seu exilio clandestino no Paquistão.

O jornal New York Times obteve uma cópia do depoimento e mostrou-o a responsáveis americanos que, embora não estivessem em condições de confirmar a veracidade de todos os pormenores, disseram que as informações concordavam com o que se presumia saber da vida do fundador da al-Qaeda.

De acordo com o relatório do interrogatório, Amal Fateh disse que concordou em casar com Bin Laden no ano 2000, “porque queria casar com um ‘mujahid’ “ e que voou para Carachi em julho desse ano, tendo, meses depois, atravessado a fronteira do Afeganistão para se juntar a Bin Laden e a outras duas mulheres deste, que se haviam instalado numa quinta perto de Kandahar.
Bin Laden dispersou a família logo a seguir ao 11 de setembro
Na sequência dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, Bin Laden mandou a família dispersar-se, por motivos de segurança, pelo que Amal regressou a Karachi com uma filha recém–nascida.

A mulher de Bin Laden e o bébé permaneceram na cidade de 18 milhões de habitantes durante nove meses, ao longo dos quais mudaram umas sete vezes de casa com a ajuda de “uma família paquistanesa” e do filho mais velho de Bin Laden, Saad.

A jovem voltou a encontrar-se com o marido na segunda metade de 2002 na cidade paquistanesa de Peshawar.
Perseguidores concentravam-se no Afeganistão
Na altura a caça dos norte-americanos a Bin Laden estava perto do seu auge, depois de a al-Qaeda ter realizado atentados em vários países e numa altura em que as atenções e esforços dos serviços secretos dos EUA ainda não tinham sido desviados para o Iraque.

Segundo a mulher, Bin Laden levou a família para uma área rural do interior do Paquistão.

Significativamente, nunca estiveram nas áreas tribais da fronteira com o Afeganistão, onde os serviços de informação ocidentais concentravam a maioria dos seus esforços para encontrar o líder da al-Qaeda.

Durante nove meses a família ocupou duas casas diferentes em Shangla, no distrito de Swat, uma localidade a 130 quilómetros a noroeste da capital do Paquistão e, em 2002, mudou-se para Haripur, ainda mais perto de Islamabad, onde ficaram numa casa alugada durante mais dois anos.
Dois partos num hospital do governo
Foi nessa cidade que Amal deu à luz uma rapariga e um rapaz. Aasia, nascida em 2003, e Ibrahim, em 2004, vieram ao mundo num hospital local do Estado.

As autoridades paquistanesas garantem que, em ambas as ocasiões, a mulher de Bin Laden “ficou no hospital durante muito pouco tempo, duas ou três horas”. Um outro documento afirma que ela deu uma identidade falsa ao pessoal do hospital.

Em meados de 2005, a família Bin Laden mudou-se para Abbottabad, a 32 quilómetros de Haripur onde, seis anos depois, Bin Laden acabaria por ser localizado e eliminado pelos americanos.

Nessa cidade, repleta de instalações militares e dos serviços secretos paquistaneses, Amal deu à luz mais duas crianças. Zainab em 2006 e Hussain em 2008.
Americanos estiveram a pouca distância de Bin Laden
De acordo com o New York Times, a viúva disse aos investigadores que as várias casas usadas durante este último período do exilio paquistanês foram obtidas através da ajuda de dois irmãos de étnia Pashtun, Ibrahim e Abrar, cujos familiares estiveram durante algum tempo a viver com a família Bin Laden.

Amal Fateh contou também um pormenor curioso: em finais de 2005 os americanos estiveram muito próximo do complexo onde se encontrava Bin Laden, quanto mais não fosse, em altitude.

Na sequência de um grande terramoto ocorrido no noroeste do Paquistão, helicópteros militares dos EUA com abastecimentos e socorros para as vítimas sobrevoaram diariamente o complexo de Abbottabad a caminho da zona do desastre.

Durante esse tempo, o então presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, garantia aos seus aliados americanos da administração Bush que Bin Laden se encontrava no Afeganistão, abrigado num local próximo da fronteira.
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