Biografia de Thatcher revela o coração da Dama de Ferro

Tony Bray, jovem cadete de origem burguesa “baixito e não especialmente bonito”, Willie Cullen, um fazendeiro escocês que menciona em cartas à irmã Muriel e que viria a ser seu cunhado, Robert Henderson, o médico com o dobro da idade e que demorou demasiado a pedi-la em casamento: foram estes os relacionamentos amorosos de Margaret Roberts antes de conhecer Denis Thatcher, o ex-militar divorciado que viria ser o seu marido. Na única biografia autorizada de Margaret Thatcher, Charles Moore mostra a natureza das relações sentimentais da Dama-de-Ferro.

RTP /
Cathal McNaughton, Reuters

Em 2003 Charles Moore abandonou as funções de editor no The Daily Telegraph para poder passar mais tempo com Margaret Thatcher (1925-2013). Afinal tinha em mãos a única biografia autorizada pela única mulher que chefiou o governo de Londres. Duas condições apenas: a biografia apenas sairia após a morte de Margaret Thatcher e ela própria nunca leria o que fosse escrito por Moore.

Estas duas senhas terão dado ao jornalista uma liberdade de escrita que se alia a um maior à vontade daqueles que estavam para prestar o seu testemunho sobre a antiga primeira-ministra.

Sinal dessa abertura é a abordagem a um tema que não se suspeitaria ter relevo particular: os amores adolescentes de Margaret Roberts. “[The lady’s] Not For Turning”

O título "Not For Turning" é retirado de um discurso perante o Partido Conservador, a 10 de outubro de 1980, numa altura em que Margaret Thatcher enfrentava forte oposição interna face às suas políticas de austeridade.

Confrontada com um desemprego de 2 milhões e a caminho dos 3 milhões, antes de inverter a curva da recessão em 1982, Thatcher afirmava perante os tories que não mudaria a sua política de mão de ferro.
Engano: a forma como lida com os primeiros pretendentes revela já o que Margaret quer da vida, os seus planos de carreira. Tony Bray, o cadete “baixito e não especialmente bonito” que conhece aos 19 anos quando este tinha apenas 18 acabaria por lhe proporcionar um jantar memorável, mas depressa se assustou com a austeridade com que a família Roberts o acolheu num certo fim-de-semana.

A relação com o fazendeiro escocês Willie Cullen, que conheceu em 1949, é ainda mais reveladora do que estava para ser a recém-licenciada de Oxford (diploma em Química). A convivência com o círculo de Cullen deu-lhe a conhecer a condição dessas mulheres da sociedade que se tornam donas de casa. Não era o que queria para si, mas pensou que o fazendeiro se ajustava perfeitamente a Muriel, a sua irmã mais velha. O que veio a acontecer – Willie tornar-se-ia seu cunhado.

Margaret casou anos depois com Denis Thatcher, um abastado e bem-sucedido empresário que passara também pela II Grande Guerra. Não tendo sido amor à primeira vista, Denis deixou uma marca em Margaret, que em confidência a Muriel escreveria: “Um tal comandante Thatcher (36 anos e cheio de dinheiro), uma criatura não demasiado atraente, muito reservado mas também muito agradável”.

Cinquenta anos depois, Denis recorda o momento em que propôs casamento a Margaret Roberts: “Não deu pulos de alegria”. Charles Moore assinala que neste relacionamento a jovem Margaret terá pressentido um matrimónio que lhe proporcionaria segurança para o futuro. Entre Denis e Willie houve ainda um médico com o dobro da sua idade. De acordo com o biógrafo oficial daquela que viria a ser conhecida como a Dama de Ferro, é o único dos noivos a merecer palavras afetuosas. Foi um romance intenso, mas o Dr. Robert Henderson tardava no pedido de casamento.

Neste primeiro volume que saiu para as livrarias na última quarta-feira, escassas horas após o funeral de Margaret Thatcher, ficaremos a saber da sua infância e juventude. “Not For Turning” apresenta as primeiras fases da vida da Dama de Ferro.

De acordo com uma resenha do El País, este primeiro volume da biografia trata da “vida familiar e pessoal [de Thatcher], a influência do seu pai, Alfred Roberts, o austero e muito religioso comerciante metodista de Dartford; a entrada na política; a sua vida amorosa; a sua ascensão no partido; a chegada ao Governo; os primeiros difíceis anos em Downing Street; as relações com Ronald Reagan e MiKhail Gorbachev; terminando com o triunfo na guerra das Malvinas”.
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