Bolívia. Evo Morales denuncia tentativa de golpe e declara estado de emergência

por RTP
Carlos Mesa comunicou que não reconheceria estes resultados, considerando tratarem-se de uma “fraude” Ueslei Marcelino - Reuters

O presidente da Bolívia, Evo Morales, considerou esta quarta-feira que as acusações de “fraude” contra os resultados eleitorais preliminares constituem uma tentativa de “golpe de estado” e declarou o estado de emergência. O país tem sido palco de intensos confrontos desde que foram divulgados os resultados eleitorais provisórios que apontam para uma vitória de Morales na primeira volta.

Três dias depois de as urnas terem encerrado e de terem sido anunciados os resultados preliminares das eleições presidenciais, o presidente boliviano, Evo Morales, quebrou o silêncio, anunciou que está “em marcha um golpe de Estado” por parte dos seus adversários políticos e decretou estado de emergência.

“Convoquei esta conferência para denunciar perante o povo boliviano e o mundo inteiro que está em marcha um golpe de Estado. Já sabíamos disto com antecedência, a direita preparou-se com apoio internacional”, disse o presidente durante um comunicado no palácio presidencial.

“Quero que o povo boliviano saiba que até agora aguentámos humildemente, evitámos a violência, não entrámos em confronto e nunca vamos entrar em confronto. Mas quero dizer ao povo boliviano: primeiro, um estado de emergência e mobilização pacífica e constitucional”, acrescentou.

Os resultados preliminares das eleições presidenciais apontam para vitória de Morales na primeira volta. A confirmar-se, significa que o líder do Movimento para o Socialismo não precisará de enfrentar uma segunda volta com o seu opositor, Carlos Mesa.

“Com os votos das áreas rurais, estou convencido de que vamos ganhar na primeira volta”, declarou Morales. “Não estamos em tempos de colónia ou de monarquia para nomear presidentes. Vamos defender a democracia”, continuou.
Resultados geram confrontos
A noite de segunda-feira ficou marcada por intensos confrontos entre manifestantes e a polícia, incêndios em edifícios e urnas queimadas nas assembleias de voto logo após a divulgação dos resultados eleitorais provisórios da primeira volta das presidenciais na Bolívia.

O sistema de contagem de votos na Bolívia inclui dois métodos distintos: o preliminar e o voto a voto.

As suspeitas em torno destes resultados surgiram depois de a divulgação dos resultados parciais na página online do tribunal eleitoral boliviano ter sido inexplicavelmente interrompida.

Inicialmente, os dados preliminares apontavam para uma votação renhida entre Morales e Mesa, ambos com 42 por cento dos votos. Depois de o Supremo Tribunal Eleitoral ter suspendido a publicação dos resultados, a contagem dos votos foi retomada na segunda-feira. Com 95,3 por centos de votos contados, os resultados preliminares revelados na segunda-feira, contrariamente aos primeiros, apontam para uma vitória de Morales na primeira volta. Morales apresenta-se na liderança com 46,87 por cento dos votos, enquanto Mesa surge com 36,73 por cento. A diferença de 10,14 pontos percentuais pode ser crucial nestas eleições. Para vencer na primeira volta das eleições presidenciais na Bolívia, o candidato a líder deve obter uma maioria absoluta ou pelo menos 40 por cento dos votos, desde que garanta uma vantagem de 10 pontos percentuais sobre o segundo mais votado.

Carlos Mesa comunicou que não reconheceria estes resultados, considerando tratarem-se de uma “fraude”.


"Não vamos reconhecer esses resultados, que fazem parte de uma fraude vergonhosa que está a colocar a sociedade boliviana numa situação de tensão desnecessária", disse Carlos Mesa na terça-feira.

Os observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) também expressaram a sua surpresa face aos resultados:

“Primeiro, os números indicavam, claramente, uma segunda volta. Agora, o Supremo Tribunal Eleitoral apresenta resultados que modificam drasticamente o destino da eleição e gera perda de confiança no processo eleitoral”.

De acordo com El País, o chefe do executivo boliviano solicitou uma auditoria das eleições à OEA. A organização concordou em fazer uma recontagem dos votos, mas exigiu que as suas conclusões fossem vinculativas. O governo de Morales ainda não se pronunciou sobre o assunto.
Presidente do tribunal eleitoral renuncia
Na sequência da controversa contagem de votos, o vice-presidente do tribunal eleitoral da Bolívia, Antonio Costas, abdicou do cargo esta quarta-feira.


Numa carta enviada ao vice-presidente boliviano cessante, Álvaro Garcia Linera, à qual a agência France-Presse teve acesso, Costas explica a sua renúncia, explicando que considera “infeliz a decisão do Supremo Tribunal Eleitoral de suspender a publicação dos resultados do sistema de transmissão de resultados eleitorais preliminares”.

A renúncia de Antonio Costas foi acompanhada por um apelo a greve geral pelo presidente do Comité Pró-Santa Cruz, uma organização da sociedade civil com sede em Santa Cruz, capital económica da Bolívia.

c/Lusa
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