Bolívia. Evo Morales responsabilizado pelos incêndios florestais

A onda devastadora de incêndios que assola a Amazónia boliviana já queimou quase um milhão de hectares. Para uma parte da opinião pública, o Presidente boliviano é o principal culpado pela destruição, sem precedentes, de toda a vida selvagem- animais aterrorizados, outros carbonizados.

RTP /
Floresta queimada nas áreas onde os incêndios destruíram vários hectares, na Bolívia Reuters - David Mercado

Agosto pode ser considerado o mês dos ventos fortes, mas foi possivelmente o “chaqueo” - prática dDa vegetação rasteira às enormes árvores com casca de papel, poucos lugares no mundo conseguem ser mais inflamáveis do que a floresta seca de Chiquitania. A maior região florestal tropical da Bolívia conta com mais de 20 milhões de hectares. Até agora já arderam mais de 500 mil.e queimar para limpar os terrenos - que deu origem à deflagração das primeiras chamas numa região de floresta sem limites.

Em julho deste ano, o Presidente da Bolívia, Evo Morales, promulgou um decreto que ampliava a permissão para a queima controlada dos terrenos, nas regiões de Santa Cruz e Beni, de cinco para 20 hectares.

A estratégia aplicada pelo Presidente boliviano apenas pretendia melhorar a qualidade de vida dos agricultores mais precários.

Contudo, na opinião de Jhanisse Daza, uma ativista ambiental, “o uso de incêndios controlados em agosto, quando estamos a passar por uma estação seca, não é apenas negligência”.

"Eles sabiam o que estavam a fazer", acrescentou.

No entanto, o Governo local assegurou que os incêndios foram causados pelas alterações climáticas.

“Estamos a ver grandes tempestades e inundações fora do normal; com certeza nos próximos anos assistiremos a terríveis secas”, afirmou o vice-presidente, Álvaro García Linera.

Apesar de Evo Morales ter optado por aceitar a ajuda internacional no combate aos incêndios - ao contrário do seu homólogo brasileiro Jair Bolsonaro –, o seu principal rival na corrida presidencial considerou que o Governo agiu tarde demais.

"O Governo reagiu tarde e mal, levou quase duas semanas e não tinha um plano estratégico”, começou por referir Carlos Mesa.

Evo Morales colocou a campanha em primeiro lugar em vez de governar a Bolívia", rematou.

A menos de dois meses das eleições, esta crise ambiental pode ter prejudicado as aspirações do atual Presidente boliviano. Evo Morales procura a quarta reeleição. Porém, essa parece não ser a preocupação da população local.

Para Olivia Mansilla, uma arquiteta que decidiu ajudar a apagar os fogos, "o que estamos a fazer na Bolívia e na Amazónia é algo que não pode ser consertado, mesmo se apagarmos o fogo agora".

"O que vem a seguir será um holocausto para a natureza", alertou.

O líder indígena na região amazónica e porta-voz do grupo de direitos indígenas, Contiocap, também partilha da mesma opinião.

"Ele [Evo Morales] precisa de ser responsabilizado por todas as vezes em que os direitos dos povos indígenas foram violados assim como os de Mãe Natureza", assegurou Alex Villca.


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