"Bomba-relógio climática". Emissões têm de passar a metade antes de 2030, alerta ONU

por Joana Raposo Santos - RTP
Guterres alertou que a "bomba-relógio climática" está prestes a explodir, pelo que os países mais ricos devem ser os primeiros a reduzir as emissões o quanto antes. Sarah Meyssonnier - Reuters

Os cientistas lançaram esta segunda-feira um "alerta final" sobre a crise climática: o mundo precisa de reduzir para metade as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, de modo a limitar o aquecimento global a 1,5 graus neste século. O apelo surge num novo relatório da ONU sobre alterações climáticas, numa altura em que esses gases ameaçam trazer danos irreparáveis ao planeta.

"A humanidade caminha em gelo fino, e esse gelo está a derreter rapidamente", avisou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, após a divulgação do relatório.

“O nosso mundo necessita de ação climática em todas as frentes - tudo, em todos os lugares, ao mesmo tempo”, declarou, numa referência ao filme mais premiado na última cerimónia dos Óscares, "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo".

Guterres alertou ainda que a "bomba-relógio climática" está prestes a explodir, pelo que os países mais ricos devem ser os primeiros a reduzir as emissões o quanto antes.

"A taxa de aumento da temperatura no último meio século é a mais alta em 2.000 anos", sublinhou. "As concentrações de dióxido de carbono estão no nível mais alto em pelo menos dois milhões de anos".

O líder da ONU descreveu o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) como "um guia de sobrevivência para a humanidade" e exortou os países desenvolvidos a anteciparem a meta de neutralidade carbónica para o ano 2040.

De acordo com o IPCC, as emissões devem cair em metade até meados da década de 2030 para que haja hipótese de limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais - uma meta fundamental consagrada no Acordo de Paris.
"Devemos aproveitar este momento"
O relatório agora divulgado resume as descobertas de três avaliações de especialistas publicadas entre 2021 e 2022 sobre a ciência física, os impactos e a mitigação das mudanças climáticas. O relatório pretende ajudar os legisladores e governos a adotar novas ações para reduzir as emissões de gases poluentes.

"Temos as ferramentas para evitar e reduzir os riscos dos piores impactos da crise climática, devemos aproveitar este momento para agir", declarou o enviado dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry.O relatório de 37 páginas foi o resultado de milhares de páginas de avaliações anteriores.

O documento vai também servir de guia para um "balanço" global das mudanças climáticas previsto para este ano, no qual os países irão avaliar o progresso. Daqui a dois anos será realizada uma atualização das promessas climáticas, segundo ficou definido no Acordo de Paris.

"Se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos", disse por sua vez o presidente do IPCC, Hoesung Lee.

Se mantiver a trajetória atual, o planeta está a caminho de aquecer 3,2°C até ao final do século. As temperaturas médias já estão 1,1°C acima dos níveis de 1850-1900, originando mais eventos climáticos extremos em todo o mundo.

Realizado após uma semana de reuniões na localidade alpina de Interlaken, Suíça, este sexto relatório sintetiza todos os outros cinco elaborados pelos peritos do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas desde 2015.

c/ agências
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