Brasil. Agressor de Bolsonaro disse que agiu “a mando de Deus”

por RTP
A polícia está a averiguar se o ataque foi determinado por motivos religiosos ou se resulta de problemas psicológicos do atacante Paulo Whitaker - Reuters

O agressor do candidato presidencial Jair Bolsonaro tem 40 anos, está à procura de emprego. Quando prestou declarações à polícia, disse que atacou o candidato “por questões pessoais” e “a mando de Deus”.

Adelio Bispo de Oliveira “saiu de casa com uma faca envolvida num pano” e dirigiu-se a uma ação de campanha do candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal. Eram 15h em Juiz de Fora (19h em Lisboa), a 200 quilómetros a Norte do Rio de Janeiro, no Brasil.

As imagens, captadas através de telemóvel, mostram que Bolsonaro estava a ser levado em ombros pelos apoiantes, que saudava de braços no ar, quando foi esfaqueado no abdómen.

Adelio foi detido momentos após o ataque e já depois de ter sido agredido pela multidão.

“Disse-nos que tinha sido motivado por questões pessoais, que nós não conseguimos compreender”, porque “em alguns momentos dizia ter agido a mando de Deus”, refere o relatório da polícia militar de Minas Gerais.

O porta-voz da polícia militar de Minas Gerais afirmou que a polícia está a tentar determinar se o atacante agiu por razões políticas ou se a agressão resulta de problemas psicológicos.

A agressão teve “motivações religiosas, de cunho político e também com relação ao preconceito que Bolsonaro sempre revela quando fala de raça, religião e de mulher”, afirmou o advogado de defesa, Pedro Augusto Lima Possa, à TV Globo.

Em depoimento, Adelio afirmou que saiu de casa com a intenção de atacar Bolsonaro, mas o advogado sublinha que o homem não “intenção de matar, só de lesionar”.

O perfil de Facebook contém críticas a vários políticos brasileiros e publicações de defesa da esquerda, bem como do presidente da Venezuela Nicolás Maduro.

O antigo capitão do exército é um admirador da ditadura militar (1964-85) e apoiante da liberalização do porte de armas para lutar contra a criminalidade. Considerado "um herói" pelos apoiantes e "um perigo à democracia" pelos críticos, Bolsonaro tem colecionado polémicas. Foi condenado por injúria e apologia ao crime de violação após ofensa a uma deputada.

De acordo com uma sondagem divulgada esta quinta-feira, Bolsonaro lidera com 22 por cento das intenções de voto.

Em declarações à agência France-Presse, o analista Thiago Vidal admite que o atentado “pode redefinir o processo eleitoral”, devendo Bolsonaro “beneficiar” do ataque nas eleições de 7 de outubro.
Família admite que Adelio sofre de "algum distúrbio"
Adelio Bispo de Oliveira fez 40 anos em maio, é solteiro e natural de Montes Claros, no Estado de Minas Gerais. Vive há pouco tempo em Juiz de Fora, no mesmo Estado.

De acordo com o advogado está à procura de trabalho, fazendo serviços de empregado de mesa, mas a polícia militar de Minas Gerais refere que é licenciado em Pedagogia. Já o jornal O Estadão refere que Adelio era servente de pedreiro.

É distante da família, que o descreve como “muito religioso” e sofrendo de “algum distúrbio”. Uma sobrinha contou ao jornal Folha de São Paulo que o tio mudou de comportamento nos últimos três anos e já teve um episódio de “surto”, no qual ficou dias fechado no quarto a dizer palavras sem nexo.

Em 2013, foi acusado de crime de lesão corporal, num episódio que envolveu a cobrança de uma dívida.

Entre 2007 e 2014, foi militante do Partido Socialismo e Liberdade, que já repudiou o ataque contra Bolsonaro. Participou em manifestações anti-corrupção em Minas Gerais e em Brasília.

A 5 de Julho deste ano, deslocou-se a uma escola de tiro, onde fez uma sessão sob a supervisão de um instrutor. Os dois filhos de Jair Bolsonaro são frequentadores assíduos da escola.
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