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Brasil. Mortalidade infantil aumenta pela primeira vez em décadas

por RTP
Desde 1990, o Brasil apresentava uma redução média anual de 4,9 por cento da taxa de mortalidade infantil Claudia Daut - Reuters

O Ministério da Saúde, no Brasil, publicou esta segunda-feira dados que revelam um aumento da mortalidade infantil. O vírus Zika e a crise económica são apontados como causas.

Pela primeira vez desde 1990, o Brasil registou um aumento da taxa de mortalidade infantil. Segundo os dados partilhados pelo Ministério de Saúde, entre 2015 e 2016, a taxa de mortalidade de bebés no primeiro ano de vida aumentou cinco por cento.

Os dados são alarmantes e vêm manchar a boa reputação do país, uma vez que era tido como um modelo de redução da pobreza. Desde a década de 90, o Brasil apresentava uma redução média anual de 4,9 por cento da taxa de mortalidade infantil - um valor acima da média global de redução, estimada em 3,2 por cento segundo relatório da Unicef.

“Estamos a andar para trás e não para a frente. Não podemos continuar com esta situação, ou perdemos tudo o que ganhamos em 15 anos”, afirma Fátima Marinho, diretora do Departamento de Doenças Não Transmissíveis do Ministério de Saúde no Brasil.

A taxa de mortalidade infantil no Brasil aumentou de 13,3 mortes em cada mil nascimentos em 2015, para 14 mortes em cada mil nascimentos em 2016. A taxa relativa à morte de crianças com idade superior a cinco anos também sofreu um aumento de cerca de quatro por cento.
Quais são os motivos?
O vírus Zika, tal como noticia o jornal Folha de S. Paulo, propicia uma queda nos nascimentos e a morte de bebés que sofrem de malformações graves. Fátima Marinho afirma que 2016 foi um ano atípico para o Brasil devido ao vírus: “Houve uma mistura de prevenção com interrupção de gravidez”.

A crise económica é apontada pelos Ministério como outro dos motivos, uma vez que prejudicou o acesso da população aos serviços de saúde. “Muita gente está sem dinheiro até para o transporte até ao posto médico”, diz Vitor Mateus, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde.

“Com a crise económica, verificou-se uma redução do emprego e do salário em geral. As políticas sociais deixaram de ser expandidas”, afirma Fátima Marinho.

O aumento do número de mortes de bebés no primeiro ano de vida em 20 Estados do Brasil, tal como mostram os dados revelados pelo Ministério, é também justificado pelos cortes de financiamento na Bolsa de Família e no programa governamental Rede Cegonha, focado no apoio às mulheres em questões de maternidade.

Os cortes na saúde pública e a diminuição do salário levam a mortes infantis “evitáveis”, como descreve a Folha de S.Paulo, causadas, por exemplo, por diarreias e pneumonias.

Entre 2015 e 2016 registou-se um aumento de 12 por cento nas mortes de crianças menores de cinco anos por diarreia. “Como podem crianças no Brasil nos anos 2000 morrer de diarreia? Este número é chocante”, afirma Fátima Marinho.
Valores acrescem em 2017
A diretora do Departamento de Doenças Não Transmissíveis do Ministério de Saúde no Brasil afirma que “a tendência é piorar” e prevê que os números de 2017 superem os de 2015. Apesar de ainda não terem sido oficializados os dados para 2017, é calculado que a taxa de mortalidade infantil esteja, no mínimo, em 13,6 (mais 0,3 pontos percentuais em relação a 2015).

Denise Cesario, gerente executiva da Fundação Abrinq (organização que promove a defesa dos direitos de crianças e adolescentes), citado por The Guardian, alerta para a necessidade de se dar prioridade às crianças e critica Michel Temer, atual presidente do Brasil.

“Precisamos que o próximo presidente esteja comprometido com a infância, para entender a situação das famílias mais vulneráveis, para que possamos, então, priorizar as crianças”, defende Cesario.
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