Brasil tem capacidade para produzir seis ogivas nucleares

A capacidade de produção de urânio da fábrica de Resende, no Rio de Janeiro, é suficiente para fazer seis ogivas nucleares por ano, escreve o jornal Globo citando a última edição da revista Science.

Agência LUSA /

O jornal refere que a revista norte-americana, uma das mais prestigiadas do mundo, garante ainda que, se a produção da fábrica for ampliada, o Brasil pode ter 63 ogivas nucleares em 2014.

O artigo, assinado por Liz Palmer e Gary Milhollin, intitulado "O quebra-cabeças nuclear brasileiro", publicado dias depois da inspecção internacional da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA) à central de enriquecimento de urânio de Resende, critica a posição do Brasil de impedir o acesso visual às centrifugadoras de enriquecimento do urânio.

Segundo a revista, o principal motivo pelo qual os brasileiros não querem que a AIEA veja as centrifugadoras é porque elas usam tecnologia copiada da Alemanha.

Durante a visita da AIEA, as autoridades brasileiras disseram aos inspectores ser possível controlar a entrada e a saída do urânio da fábrica de Resende sem ter acesso às centrifugadoras.

Os dois pesquisadores entendem que um acordo entre o Brasil e a AIEA iria "abrir um precedente para o Irão ou qualquer outro país que decida construir uma fábrica de enriquecimento de urânio".

O Brasil tem afirmado, repetidas vezes, que o único objectivo da fábrica de Resende é produzir combustível para os reactores das centrais nucleares de Angra I e Angra II, mas os cientistas da Science consideram que a unidade "terá potencial para produzir quantidade suficiente de urânio do tipo 235 para fazer de cinco a seis ogivas nucleares por ano.

"Em 2010, com a ampliação da escala de produção, será possível fazer anualmente entre 26 e 31 ogivas e, em 2014, entre 53 e 63", referem.

Os dois cientistas reconhecem, na publicação, que o Brasil tem afirmado que a fábrica de Resende está configurada para enriquecer até 3,5% do urânio 235, a concentração necessária aos dois reactores de Angra dos Reis, percentagem "muito fraca para abastecer uma bomba, que normalmente exige 90% ou mais desta concentração".

"No entanto, se o Brasil mudar de ideias, as reservas de urânio já enriquecidas entre 3,5% e 5% terão recebido mais da metade do trabalho para chegar ao grau requerido para construir uma arma" lembram ainda os dois articulistas.

Trata-se de uma situação em tudo semelhante ao Irão que "pretende construir milhares de centrifugadoras numa nova fábrica de enriquecimento, localizada em Natanz, afirmando ter apenas por finalidade produzir combustível pouco enriquecido para o seu reactor".

"Se o Brasil tiver sucesso em negar à agência acesso às suas centrifugadoras, o Irão pode pedir o mesmo tratamento", escreve a Science.

A revista assinala que a proposta brasileira de dar acesso apenas a tubos, válvulas e conexões da central de Resende, que a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) brasileira afirma ser suficiente para evitar o desvio ilegal de material nuclear, dificulta a avaliação da capacidade de cada máquina e assegurar que as centrifugadoras não estariam ligadas a um suplemento escondido de urânio.

No artigo os dois cientistas norte-americanos lembram que, em Dezembro de 1996, o Brasil prendeu Karl-Heinz Schaab, um antigo empregado da empresa alemã Man Technologie AG, que desenvolveu centrifugadoras para o consórcio de enriquecimento europeu chamado Urenco.

"As autoridades alemães queriam que Schaab fosse extraditado para processá-lo por vender projectos de centrifugadoras para o Iraque. Há provas de que Schaab e outros especialistas estão a ajudar o Brasil da mesma forma. Por conseguinte, se os inspectores da agência vissem as centrifugadoras brasileiras, poderiam descobrir que o design da Urenco foi transferida", afirmam Liz Palmer e Gary Milhollin.

Os autores do artigo da "Science" trabalham no Projecto Wisconsin de Controlo de Armas Nucleares, uma fundação não- governamental sedeada em Washington que trabalha para impedir a proliferação de armas nucleares, químicas e biológicas e mísseis de longo alcance.

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