Breaking The Silence. Ex-militares israelitas lutam há duas décadas contra ocupação da Palestina

Redenção ou activismo? A organização Breaking The Silence oferece aos antigos militares uma plataforma para verterem as experiências que viveram nos territórios da Palestina enquanto membros do IDF, as forças armadas israelitas.

Paulo Alexandre Amaral (jornalista), Pedro A. Pina e Nuno Patrício (imagem e edição) /

FOTO: Pedro A. Pina - RTP

A BTS é uma voz singular na denúncia do mecanismo de ocupação israelita, uma voz que aponta as falhas de um sistema de ocupação que reduz todo um povo à condição zero.

Ori Givati, no inglês quase intraduzível "advocacy director", foi um dos elementos da BTS que esteve durante o mês de Maio em Lisboa com uma exposição ilustrativa do trabalho da Breaking The Silence.

Veterano do IDF, Ori conduziu-nos pela exposição e conversou connosco sobre a missão que liga estes antigos militares: mostrar aos israelitas - e mostrar ao mundo - o que é de facto a realidade do dia-a-dia da ocupação nos territórios palestinianos nos seus detalhes mais sórdidos, uma ocupação com contornos de crime - um termo que Ori Givati não usa - que muitas das vezes são dirigidos contra palestinianos identificados à partida pelos comandos israelitas como inocentes. Inocentes que servem como medida, não apenas da agressão indiscriminada do IDF, como servem também de aviso às populações palestinianas: ninguém está a salvo.

As operações de mapeamento dos territórios ("mappings" - invasão das casas palestinianas a meio da noite para fazer uma caracterização do local) são um tipo de missão que ilustra o objectivo do exército israelita de remeter os palestinianos à condição degradante de "não conseguirem levantar a cabeça", criando a sensação de uma perseguição sem fim à vista.

Apartheid e limpeza étnica são termos que não ficam fora da conversa. Os métodos israelitas com vista a subjugar todas as vontades são a pedra de toque da BTS. Sem chegar ao ponto de falar da perpetração de crimes pela parte israelita, há na BTS um dedo que aponta o sistema de apartheid, o modus operandi de um sistema corroído nas suas próprias fundações morais.

O objectivo final da organização, diz Ori Givati, é "mostrar", "servir de espelho", acabar com a indiferença e pôr os israelitas a pensar sobre a folha de serviço dos seus militares nos territórios palestinianos. Obrigar o país a tomar consciência do sistema que se destina a perpetuar uma ocupação injustificada.
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