Bruxelas pede diálogo e reconciliação em oportunidade histórica após queda de Assad
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE) e duas comissárias europeias exortaram hoje ao diálogo e reconciliação na Síria, um ano após a "oportunidade histórica" da queda do até então Presidente sírio Bashar al-Assad.
"Há um ano, a queda do regime de Assad marcou o fim de décadas de uma ditadura brutal, responsável pela morte, desaparecimento e deslocação de centenas de milhares de pessoas e pela destruição de grande parte do país, com consequências desastrosas para o tecido social sírio. A sua queda deu ao povo sírio uma oportunidade histórica de se envolver numa transição política, económica e social", afirmam numa posição conjunta Kaja Kallas e as comissárias europeias do Mediterrâneo e da Gestão de Crises.
Numa declaração conjunta sobre o primeiro aniversário da queda do regime de Assad, a alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, e as comissárias para o Mediterrâneo, Dubravka Suica, e para a Gestão de Crises, Hadja Lahbib, vincam que "não pode haver paz e estabilidade na Síria sem um processo de diálogo nacional, reconciliação e justiça transitória".
Tal processo deve ser "reforçado pela consolidação das instituições estatais e por reformas genuínas no setor da segurança, com o objetivo de garantir que todos os sírios, de todas as origens étnicas e religiosas, sem discriminação, sejam protegidos e representados pelas autoridades e envolvidos na formação de uma Síria unida, inclusiva e democrática", acrescentam.
Vincando que "a UE tem apoiado a Síria e o seu povo em todas as fases da sua difícil transição", as responsáveis garantem que a União "continuará a apoiar os esforços".
"A UE congratula-se com os compromissos assumidos pelas autoridades de transição no sentido de uma transição pacífica e inclusiva, bem como com os progressos realizados desde dezembro de 2024. [...] Ao mesmo tempo, a UE está profundamente preocupada com as ondas de violência que se têm verificado desde março em várias partes do país", admitem Kallas, Suica e Lahbib.
Após quase 14 anos de guerra na Síria, grupos armados liderados pela Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS) - anteriormente afiliada ao grupo terrorista Al-Qaida - tomaram Damasco em 08 de dezembro de 2024 e depuseram o Presidente Bashar al-Assad, que fugiu para a Rússia.
Desde 2011, a UE e os seus Estados-membros -- os principais doadores de ajuda a nível mundial -- mobilizaram cerca de 38 mil milhões de euros em ajuda humanitária, ao desenvolvimento, à economia e à estabilização da crise síria.
Estima-se que os anos de conflito na Síria tenham levado à deslocação de cerca de metade da população, tanto dentro como fora do país, e que o número de pessoas que necessitam de assistência humanitária tenha chegado aos 16,7 milhões de pessoas em 2024, um máximo histórico desde o início da crise em 2011.
Um ano após a queda de Bashar al-Assad, a Síria vive uma transição ainda instável: a nova liderança procura reconstruir instituições e restaurar a ordem, enquanto o país continua marcado por tensões internas, desafios humanitários e pressão internacional para consolidar a paz.