Bruxelas. Uma exposição que pede a sustentabilidade dos oceanos

por Andrea Neves - correspondente da Antena 1 em Bruxelas
Na inauguração desta exposição, que contou com a presença de investigadores na área dos ocenaos, ouviu-se, por várias vezes, um alerta frequente: é preciso mudar, todos temos que mudar Vassilis Mentogiannis - Reuters

O azul, escuro e profundo, chama a atenção de quem passa. São fotografias de um mar imenso, de oceanos que guardam vida e que por ela lançam um pedido de ajuda aos eurodeputados em Bruxelas.

As fotografias estão no terceiro andar do edifício do Parlamento Europeu, em Bruxelas, por onde passam eurodeputados, convidados, jornalistas, assessores e visitantes.

Para a Fundação Oceano Azul, que tomou a iniciativa, este é o sítio indicado para alertar para os perigos que os oceanos enfrentam, porque são também os eurodeputados os que melhor podem preconizar as soluções que se desejam.

Emanuel Gonçalves, administrador da Fundação, acredita que o Parlamento Europeu pode ser ainda mais ambicioso. Os oceanos precisam, e o mar português é disso um bom exemplo.

“Temos felizmente ainda áreas muito bem preservados, nomeadamente nos arquipélagos, no arquipélago da Madeira e dos Açores, junto com os governos regionais. E depois temos de facto outras que têm muitos problemas de sustentabilidade e onde os recursos que hoje existem são uma fracção dos que existiam no passado”, refere o professor universitário.

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Estas são as situações mais delicadas porque por um lado faltam recursos mas por outro as actividades de pesca não querem parar porque é o mar que lhe dá o modo de vida.

“Nestes casos teremos que apostar numa outra frente que é a de tornar as pescas sustentáveis, trabalhar com as comunidades piscatórias para arranjar soluções de salvaguarda do capital natural e da biodiversidade marinha mas a mesmo tempo sejam viáveis do ponto de vista económico para a actividade que ali é desenvolvida”, acrescenta Emanuel Gonçalves.

A valorização do pescado e a definição de áreas próprias para exercer a pesca são medidas essenciais mas a definição de áreas de protecção também.
Mudar hábitos e já
Na inauguração desta exposição, que contou com a presença de investigadores na área dos ocenaos, ouviu-se, por várias vezes, um alerta frequente: é preciso mudar, todos temos que mudar.

“Nas nossas casas e não só, sobretudo na maneira como tratamos os resíduos precisam de ser revisitados”, reforça o administrador da Fundação Oceano Azul.

Porque o lixo, que acaba no oceano, não fica só pela superfície. Há já imagens que impressionam, que todos conseguimos ver, sobretudo nas redes sociais, mas há também marcas que não vemos. Mas que Joana Xavier já viu. É investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental e está a estudar ecossistemas de mar profundo. A investigadora admite que temos um longo caminho a percorrer.



“Nunca me vou esquecer de algumas das campanhas em que tive oportunidade de participar, em zonas bastante remotas dos nossos oceanos e a profundidades muito grandes, abaixo dos dois mil ou três mil metros de profundidade, e de termos encontrado lixo utilizando alta tecnologia”, recorda Joana Xavier.
Por isso a pergunta impõe-se: vamos a tempo?

“Temos que acreditar que sim”, reforça a investigadora. “Provavelmente há alguns ecossistemas difíceis de recuperar, mas acredito que com vontade e com muito trabalho e investigação ainda vamos a tempo de pelo menos desacelerar esta peugada que estamos a deixar nos nossos oceanos”.
A liderança da União Europeia
No Parlamento Europeu partilharam-se conhecimentos numa iniciativa apadrinhada por Ricardo Serrão Santos, o eurodeputado Português que mais tem defendido os oceanos em Bruxelas.

“Considero que a União Europeia está na frente desta estratégia para os oceanos, tem um conjunto de regulamentos e directivas que apresentam soluções mais fortes para os problemas que os oceanos enfrentam”, refere o eurodeputado.

“E depois temos um conjunto de politicas como a politica comum de pescas que tentam encontrar algumas soluções para os oceanos”.



Para o eurodeputado, as instituições têm um papel fundamental mas os cidadãos, em organizações não governamentais têm um papel fundamental porque são provocadores de processos que obrigam a ir mais além mas todos podem fazer a diferença.

“Na confeitaria onde tomo o pequeno almoço em Bruxelas, cidade sede do Parlamento Europeu, todos os dias me querem servir o galão com uma palhinha preta. É nestas coisas que os cidadãos não reagem no dia a dia. É preciso educá-los para que eles próprios provoquem a mudança de atitudes”.
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