Bruxelas.PT: A competitividade e a indústria da União Europeia

Falámos sobre Europa com Paulo Cunha, eurodeputado eleito pelo PSD e líder da bancada parlamentar social-democrata no Parlamento Europeu. A conversa vai passar por temas como a competitividade e o futuro da indústria da União Europeia. Tentamos perceber que caminhos se defendem para revitalizar a indústria da Europa e se essas opções devem passar só pela da Defesa.

Andrea Neves, correspondente em Bruxelas - Antena 1 /

Já se começa a preparar o Orçamento de longo prazo da União Europeia e há novas prioridades a ter em conta, como a defesa e a competitividade, por exemplo.

O eurodeputado Paulo Cunha considera que “o grande desafio é que em cima das velhas prioridades – e quando aparecem novas prioridades, como agora a da defesa – as prioridades do passado, como a coesão, não desaparecem.

Nós desejaríamos que já não fosse necessário trabalhar mais pela coesão, mas continua a ser necessário e seguramente nunca deixará de ser necessário”.

Para o eurodeputado, as novas prioridades têm que ser consideradas, mas não se pode esquecer a coesão e a agricultura,

“Aliás, se calhar agricultura com um boost que resulta dos novos conceitos de soberania. Hoje em dia, a dimensão soberania abarca outros conceitos, nomeadamente a agricultura. O que aconteceu no pós-invasão da Rússia à Ucrânia foi que nós percebemos que tínhamos que ser mais autónomos em muitas áreas, uma delas a agricultura.

E, portanto – felizmente para os portugueses, que têm uma marca agrícola muito, muito forte – a União Europeia hoje pensa em ser mais autónoma ao nível da agricultura do que pensava há cinco anos”.

“Ora, isso faz com que continue a ser necessário apostar em sectores como a agricultura e coesão que não podem faltar no próximo quadro financeiro plurianual e seguramente que não faltarão”.

“Isso vai obrigar a financiamento? Claro que sim. Temos é que ser criativos ao nível das fontes de financiamento. Eu entendo que nós devemos ter um aumento do Orçamento Comunitário”.

Para Paulo Cunha a defesa será necessariamente uma prioridade e o aumento dos investimentos nesta área terá que ser uma realidade.

“Nós temos que consumir mais recursos em defesa? Sim, a resposta é afirmativa. Depois, onde é que nós adquirimos os meios com esses recursos? Aqui, quanto mais autónomos e mais soberanos formos – nós europeus – melhor. Porque se nós alocamos verbas comunitárias à aquisição de ferramentas – sejam elas de logística ou de inteligência – na área da defesa – e se formos nós, europeus, quem fornece esses produtos e serviços, nós estamos a colocar essa despesa ao serviço da economia europeia”.

E onde é que Portugal pode entrar? Em que tipo de equipamentos, por exemplo, Portugal poderia ser útil na produção da defesa ou para a defesa?

“O que nós hoje percebemos, quando ouvimos relatos da guerra que resultou da invasão russa à Ucrânia, é que se está a produzir hoje uma guerra diferente: nós falamos em drones, nós falamos em inteligência, nós falamos em indústria de defesa. Portanto nós, na União Europeia, temos as competências instaladas, temos que desenvolver, temos que prototipar e temos que começar a produzir”.

Mas a indústria da defesa será apenas uma das alavancas da competitividade da União Europeia e não a única.

O eurodeputado Paulo Cunha defende ainda que “a energia precisa de mais investimentos” e há oportunidades que não se podem perder, como as que chegam com o lítio.

Portugal tem quatro projetos de interesse para a União Europeia nesta área, que devem servir para maiores ambições.

“Não podemos prescindir desta oportunidade porque isso é colocarmo-nos na cadeia do elétrico, nomeadamente o automóvel elétrico. Isto é fazer o que devia ter sido feito quando, há uns anos atrás, a União Europeia, e bem, apontou no caminho de eletrificação ao nível da mobilidade – automóveis, autocarros e não só. O que se fez na altura foi apostar no elétrico, mas ficar dependente da produção de baterias na China”.

“E o que é que fizeram os chineses? Se já produziam as baterias começaram a produzir automóveis”.

O eurodeputado considera que “Portugal tem aqui um papel relevante no que diz respeito a uma maior autonomização através de lítio, como matéria-prima essencial para a produção de baterias”.

“Porque se Portugal tem matéria-prima e se já temos em Portugal empresas que produzem automóveis, porque não – tendo em conta a circunstância de sermos um país com muita capacidade para a extração lítio – aproveitarmos essa circunstância para dar, digamos, uma nova energia a um setor que já tem bons exemplos em Portugal e produzimos ainda mais automóveis?”

Esta semana a crónica europeia do correspondente da RTP em Bruxelas, Paulo Dentinho, fala sobre as eleições presidenciais da Polónia que são o ponto de partida para uma importante análise sobre o Estado de Direito na União Europeia.
Foto EPA
Esta semana, na União Europeia, destacamos o facto de a Comissão ter multado a Delivery Hero e a Glovo, duas grandes empresas de entrega de comida, num total de 329 milhões de euros por participarem num cartel no setor da entrega de comida online.

Ficámos também a saber que entre Janeiro e Março deste ano Portugal foi o quinto país que mais dormidas de estrangeiros registou, ao mesmo nível de Espanha, e que Bruxelas propôs o prolongar da proteção temporária para as pessoas que fogem da agressão russa contra a Ucrânia por mais um ano, até 4 de março de 2027.

A Comissão Europeia concluiu que a Bulgária está pronta para adotar o euro a partir de 1 de janeiro de 2026 e a Comissária para o Mediterrâneo, Dubravka Šuica, anunciou um novo pacote de apoio à Síria no valor de 175 milhões para a recuperação social e económica do país.

Bruxelas vai propor que seja autorizada a ativação da cláusula nacional de escape para que Portugal e mais 15 países possam aumentar a despesa em defesa e há um projeto de ação climática premiado pelo Comissão Europeia e que inclui Portugal.

Estes são alguns dos temas em destaque no resumo que aqui apresentamos.
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