Burkina Faso considera chantagem a suspensão de vistos pelos EUA por não receber deportados

A junta no poder no Burkina Faso denunciou "chantagem" por parte dos Estados Unidos (EUA), que suspenderam a emissão de vistos a cidadãos deste país africano, depois da recusa do mesmo em aceitar migrantes expulsos por Washington.

Lusa /

A Embaixada dos EUA em Ouagadougou, capital do Burkina Faso, afirmou na quinta-feira, num comunicado, uma pausa temporária de todos os serviços de vistos, incluindo vistos para migrantes, turistas, empresários, estudantes, intercâmbio e a grande maioria de outras categorias não migratórias.

De acordo com o comunicado diplomático, "os requerentes de visto afetados foram informados sobre o cancelamento das marcações".

A Embaixada dos EUA no Burkina Faso afirma, no entanto, que a medida não afeta os vistos diplomáticos e sublinha que a Embaixada norte-americana no Togo será, por agora, a responsável pelos serviços de vistos aos residentes burquinabés.

Em resposta, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Burkina Faso, Jean Marie Traoré, afirmou que a medida se enquadra nas tentativas de Washington de tentar conseguir que Ouagadougou aceite no seu território migrantes expulsos pelos Estados Unidos, sendo que o mais recente desses terá ocorrido na quarta-feira, um dia antes do anúncio da embaixada.

Traoré qualificou a proposta como "indecente" e "contrária aos valores de dignidade" defendidos pelas autoridades do Burkina Faso, que "não será um destino de deportação", salientando ao mesmo tempo que se trata de uma medida de "pressão" e de "chantagem diplomática", segundo o portal local de notícias Burkina24.

"O nosso país acolherá aqueles que vierem por vontade própria, não aqueles que quisermos submeter a mandato judicial", afirmou.

"Na diplomacia falamos de reciprocidade. Tomaremos as medidas apropriadas sem comprometer a amizade entre os [dois] povos", concluiu.

Segundo Traoré, o país da África Ocidental foi consultado sobre se aceitaria não-cidadãos expulsos pelos EUA, além dos seus próprios nacionais, disse ainda na quinta-feira Traoré, na televisão nacional.

Mais de 40 deportados foram enviados para África desde julho, após a administração Trump ter assinado acordos, em grande parte secretos, com pelo menos cinco países africanos para receber migrantes ao abrigo de um novo programa de deportação para terceiro país.

Grupos de direitos humanos e outros protestaram contra o programa.

Os EUA enviaram deportados para o Essuatíni, Sudão do Sul, Ruanda e Gana.

O Governo norte-americano também têm um acordo com o Uganda, embora ainda não tenham sido anunciadas deportações para esse país africano, segundo noticia a agência de notícias norte-americana The Associated Press (AP).

Sobre o deportados, o que se sabe, é que seis ainda estão detidos numa instalação não especificada no Sudão do Sul, enquanto o Ruanda não revelou onde estão os sete deportados que recebeu.

No Gana, 11 dos 14 deportados enviados para o país, no mês passado, processaram o Governo local por os manter em condições, que descreveram como terríveis, num campo militar nos arredores da capital, Acra.

A Human Rights Watch afirmou, em setembro, que a administração Trump ofereceu incentivos financeiros a alguns países africanos para aceitar deportados.

O grupo de direitos humanos disse ter analisado acordos escritos que mostram que o Essuatíni receberá 5,1 milhões de dólares (4,41 milhões de euros) em financiamento dos EUA para gestão migratória e das fronteiras, enquanto o Ruanda receberá 7,5 milhões de dólares (6,48 milhões de euros).

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