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Cabo Delgado. Novo assalto contra transportes públicos mata trabalhador humanitário

por Lusa

Um ataque armado contra transportes públicos numa estrada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, matou no sábado um motorista dos Médicos Sem Fronteiras, anunciou a organização humanitária em comunicado e relataram à Lusa familiares de passageiros.

"Durante um ataque na estrada entre Macomia e Pemba, perto de Mitambo, um funcionário dos MSF foi ferido quando viajava durante o seu dia de folga em transportes públicos para visitar a sua família em Pemba", descreveu a organização humanitária.

Foi o segundo ataque do género, na mesma zona da estrada nacional 380 (EN 380, uma das principais da região), em três dias.

A vítima acabaria por morrer "poucas horas depois, enquanto recebia cuidados médicos, deixando para trás a sua mulher e cinco filhos", acrescentou. 

O ataque armado com disparos de armas de fogo e saque de bens culminou com duas viaturas de transporte queimadas e pelo menos mais duas pessoas feridas, descreveram à Lusa familiares de passageiros.

Houve sobreviventes que fugiram a pé para povoações nas redondezas.

"Já confirmei [o ataque] junto de parentes [na aldeia 19 de Outubro] mas não estou sossegada porque familiares maus saíram de Macomia para Pemba e não tenho notícias deles", lamentou uma idosa de 69 anos a partir de Macomia.

Federica Nogarotto, chefe de missão dos MSF em Moçambique, lamentou a morte e destacou os riscos em que incorre quem presta apoio à população no norte de Moçambique.

"Hoje estamos de luto. Perdemos um colega que, como todos os funcionários, estava totalmente empenhado em ajudar famílias deslocadas, muitas vezes enfrentando riscos significativos", referiu.

A organização diz estar "alarmada com a violência contínua no norte de Moçambique" e com os "ataques indiscriminados que matam e ferem civis em Cabo Delgado, regularmente". 

Na quarta-feira, um grupo armado matou pelo menos duas pessoas (fontes que estiveram no local indicam, sem precisar, que o número deverá ser maior) e feriu outras na mesma zona, num outro ataque contra viaturas que incluíam transportes públicos, relataram fontes locais.

As incursões acontecem numa altura em que as forças moçambicanas lançaram a operação Vulcão IV, que cobre uma parte dos distritos de Macomia e Muidumbe, visando eliminar esconderijos dos rebeldes.

Os Médicos Sem Fronteiras desenvolvem atividades em Cabo Delgado desde 2019, incluindo cuidados primários de saúde, saúde mental e apoio psicossocial e distribuição de bens essenciais.

A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

 

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