Cabo Verde vai reverter concessão de hotel-casino após abandono de grupo de Macau
O Governo de Cabo Verde vai reverter a concessão do projeto para um hotel-casino na cidade da Praia, após abandono do grupo Macau Legend Development, e depois procurar outro destino para o investimento, anunciou hoje o primeiro-ministro.
"Primeiro temos que reverter a concessão. Esta é uma concessão de exploração e de investimentos. Havia já algum tempo indicação de que haveria problemas do lado do investidor, a sua capacidade de concluir o projeto", afirmou Ulisses Correia e Silva, na cidade da Praia.
Numa entrevista à televisão de Hong Kong TVB, transmitida na noite de quarta-feira, o presidente e diretor executivo da Macau Legend Development, Li Chu Kwan, anunciou que o grupo pretende encerrar as operações tanto em Cabo Verde como no Camboja até 2025.
"Agora vamos fazer as partes que têm a ver com todo o suporte jurídico para fazer a concessão e depois ver que destino dar a esse investimento, que não pode ficar assim como está", completou o chefe do Governo cabo-verdiano, ao ser questionado à margem da abertura do novo ano letivo na Universidade de Cabo Verde (UniCV).
Segundo o primeiro-ministro, o grupo, fundado pelo empresário David Chow, alegou problemas financeiros e de organização acionista para desistir deste que era um dos projetos turísticos aguardados com grande expectativa em Cabo Verde.
Ulisses Correia e Silva disse que o Governo vai agora retomar a ocupação feita em regime de concessão e criar condições para que surjam novos projetos no local.
Em 2015, David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento no ilhéu de Santa Maria, na Gamboa, tendo sido lançada a primeira pedra do projeto em fevereiro de 2016.
O projeto envolvia o maior empreendimento turístico de Cabo Verde na altura, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros -- cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano.
O plano envolvia a construção de uma estância turística com uma área de 152.700 metros quadrados, um hotel com `boutique casino`, de 250 quartos, que já foi construído, mas está fechado, uma piscina, várias instalações para restaurantes e bares, além de uma marina, e também foi construída uma ponte para o ilhéu.
A construção do projeto foi contestada na altura por vários quadrantes sociais, sobretudo ambientalistas, entre eles um grupo de 12 cientistas e paleontólogos coordenado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, de Portugal.
Mas também por elementos do movimento cabo-verdiano "Korrenti di Ativista" acamparam no ilhéu de Santa Maria, e pelo ex-bastonário da Ordem dos Arquitetos (OAC) cabo-verdianos, Cipriano Fernandes, que chegou mesmo a pedir a intervenção da Procuradoria-Geral da República (PGR) para suspender o projeto.
Em dezembro, o presidente da Cabo Verde TradeInvest, José Almada Dias, disse à Lusa que a Macau Legend tinha prometido apresentar em breve um plano para retomar as obras, paradas há vários anos.
A empresa recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. Esta concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da Macau Legend, o equivalente a cerca de 1,2 milhões de euros.
A Macau Legend recebeu também uma licença especial para explorar, em exclusividade, jogo `online` em todo o país e o mercado de apostas desportivas durante dez anos.
A lei de jogos define cinco zonas permanentes do jogo, nas ilhas de Santiago, São Vicente, Sal, Boa Vista e Maio. Cabo Verde atribuiu até ao momento duas concessões, uma à Macau Legend e outra para a ilha do Sal.
Atualmente, Cabo Verde tem apenas um casino em funcionamento, o Casino Royal, em Santa Maria, no Sal, que abriu portas em dezembro de 2016, após um investimento de quase cinco milhões de euros.