Cabo-verdianos enfrentam falta de informação para estudar em Portugal

Quase 95% dos alunos do 12.º ano em Cabo Verde querem estudar no ensino superior e 83% apontam Portugal como destino, revelou hoje um estudo que sinaliza também a falta de informação sobre cursos e condições de vida.

Lusa /

"Os jovens têm fortes aspirações de sair do país [Cabo Verde] quando completam o ensino secundário, muitos para estudar em Portugal, mas falta informação. Não sabem bem o que vão encontrar, que cursos escolher, quais as despesas do dia-a-dia ou o apoio disponível", afirmou Cátia Batista, professora na Universidade Nova de Lisboa e diretora do Centro Nova África, na cidade da Praia.

A responsável falava à margem da apresentação dos resultados de um projeto de investigação realizado entre 2022 e 2024 nas escolas secundárias de Cabo Verde, que analisou as expectativas e intenções dos alunos do 12.º ano relativamente ao prosseguimento de estudos e acompanhou os percursos em Portugal e no país.

Cátia Batista referiu que já existe um programa de informação para apoiar os estudantes, incluindo dados sobre cursos, instituições de ensino, apoios financeiros, custos associados e aspetos práticos do quotidiano.

"Temos trabalhado com a embaixada para que o processo de vistos permita que os jovens cheguem em tempo e em melhores condições para ter sucesso", acrescentou.

Foram inquiridos 9.152 estudantes em 45 escolas secundárias, com dados recolhidos sobre percursos escolares, escolhas académicas e intenções de migração.

O estudo mostra que 95% dos alunos querem candidatar-se ao ensino superior.

Entre eles, 83% apontam Portugal como destino e apenas 18% pretendem candidatar-se a instituições de Cabo Verde.

Direito é a área mais escolhida, seguida de engenharia e saúde.

Contudo, dados do Ministério da Educação português revelam que, dos estudantes cabo-verdianos que entraram no ensino superior em 2013/14, apenas 36% concluíram a licenciatura ao fim de sete anos.

"Os alunos acreditam que metade consegue terminar, mas a realidade não chega a quatro em cada dez", acrescentou o estudo.

Além disso, aponta ainda expectativas otimistas quanto a bolsas e apoios financeiros, contrastando com as dificuldades encontradas em Portugal no alojamento e nas despesas do dia-a-dia.

O diretor-geral do Ensino Superior de Cabo Verde, Romualdo Correia, reconheceu como principais desafios o financiamento e a insuficiência das bolsas de estudo para cobrir custos, nomeadamente de alojamento.

"O compromisso do Governo é que ninguém fique sem estudar por falta de financiamento. Todas as pessoas que queiram estudar vão poder fazê-lo, dando prioridade às camadas mais vulneráveis, mas também premiando o mérito dos bons alunos", afirmou.

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