Cabo-verdianos queixam-se de afastamento entre debates parlamentares e problemas reais

Na véspera do arranque do ano parlamentar, na quarta-feira, há cabo-verdianos que até reconhecem a importância dos debates, mas consideram que já não refletem os problemas reais e pedem que os deputados deixem de lado interesses partidários.

Lusa /
Andreea Munteanu - Reuters

"Os assuntos levados à casa parlamentar são do interesse da nação, mas muitas vezes os debates criam a ideia de que os deputados falam de coisas que não nos servem e estão mais preocupados com os interesses dos partidos", disse à Lusa, João Melo, 41 anos, desempregado.

Segundo diz, "há uma disputa constante entre partidos que desvia o foco do debate" e que, na sua opinião, afasta os cidadãos.

Entre os temas urgentes, propõe "os cortes de energia, a falta de água e os problemas nos transportes aéreos", defendendo que, se fosse deputado, adotaria uma postura centrada no "interesse do povo".

"Dava votos favoráveis quando aparecessem propostas e leis que realmente servissem à nação", aponta.

João Melho acha que a confiança nos políticos "está abalada" por causa da luta e disputa de poderes e de interesses partidários.

Fernando Martins, 64 anos, aposentado, diz estar "farto das discussões que se prendem ao passado e não resolvem os problemas atuais".

Aponta para questões estruturais como saúde, educação, habitação e segurança, lembrando que muitas casas do Estado estão fechadas enquanto há pessoas sem-abrigo.

Ivanildo Carvalho, 37 anos, funcionário público, reforça a ideia de que os debates nem sempre refletem as prioridades nacionais.

"Trata-se mais de interesses pessoais ou partidários. O país precisa de políticas públicas que evitem a saída de jovens por falta de oportunidades e de uma Constituição que corresponda à realidade atual", explica.

Além disso, chama a atenção para a questão do consenso entre os deputados para a eleição dos órgãos externos cujos mandatos já deviam ter terminado.

"A nossa Constituição também precisa de ratificação, porque o que temos, atualmente, não corresponde à realidade em que vivemos", acrescenta.

Jailson Martins, 29 anos, vendedor de artesanato, queixa-se de leis aprovadas, mas que não são aplicadas: "Espero que desta vez trabalhem melhor, com impacto na saúde, justiça, emprego e saneamento. O meu recado aos deputados seria que trabalhassem mais no terreno e falassem menos no parlamento", refere.

Lávia Moreira, 19 anos, estudante, considera que "o debate são apenas palavras".

"Queremos ver ação e promessas cumpridas, por exemplo, consultas sem pagamento nos hospitais e salários compatíveis com a realidade. Promessas todos nós conseguimos fazer", descreve.

Miriam Helena, 29 anos, vendedora, admite que os debates resolvem alguns problemas, mas insiste na necessidade de discutir medidas concretas sobre violência: "A violência precisa de ser debatida para termos mais segurança no país".

A primeira sessão plenária de outubro arranca na quarta-feira com um debate com o ministro da Educação, Amadeu Cruz.

A agenda inclui ainda a apreciação e votação de propostas de lei sobre arbitragem sucessória, o código de processo administrativo e uma alteração à lei que criou o Gabinete de Recuperação de Ativos e Gabinete de Administração de Bens.

O Movimento para a Democracia (MpD) tem maioria (38 deputados) no hemiciclo, face a 30 do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV) e quatro da União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID).

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