Cada vez menos bebés. 91 países já não conseguem garantir renovação de gerações

por Andreia Martins - RTP
Portugal integra um grupo de 33 países em “declínio populacional" desde 2010 Reuters

Segundo o relatório anual da revista The Lancet, 91 em 195 países apresentam taxas de fertilidade inferiores ao mínimo necessário para garantir a renovação de gerações e manter a dimensão das populações (2,05). Em Portugal, por exemplo a taxa é de apenas 1,3%. A imigração é apontada como uma das principais soluções para este problema.

O estudo da revista The Lancet faz a análise dos dados da fertilidade num total de 195 países entre 1950 e 2017. Se em 1950, a média a nível mundial dos nascimentos por mulher era de 4,7 crianças, agora o número é muito inferior: no ano passado, a média a nível mundial por cada mulher é de 2,4 crianças. 
Nos números populacionais de cada país, têm impacto as taxas de fertilidade, de mortalidade e os fluxos migratórios. Trinta e três países, incluindo Portugal, estão em declínio populacional desde 2010, uma vez que os números das migrações não são suficientes para colmatar a mortalidade e a baixa natalidade.  

No caso português, a taxa de fertilidade é de 1,3, bastante abaixo dos números necessários para garantir a renovação das gerações (2,05).

Portugal integra ainda um grupo de 33 países em “declínio populacional” desde 2010, tal como também acontece com Espanha, Grécia, Polónia, Roménia, Cuba e Japão.

Em 1950, nenhum país a nível mundial se encontrava abaixo dos 2,05 no que à taxa de fertilidade diz respeito. Agora, há um total de 91 países que já não conseguem ultrapassar este número, o que coloca em causa a capacidade de renovação de gerações nos mesmos.   

“Estamos a chegar a um ponto decisivo em que metade dos países do mundo está abaixo do nível de reposição de nascimentos. É muito provável que esta situação continue num futuro próximo, e a forma como os países de mais altos rendimentos têm lidado com níveis de fertilidade mais baixa é através das migrações. Isso traz consequências, e algumas sociedades não se têm mostrado satisfeitas com os altos níveis de imigração”, aponta Christopher Murray, diretor do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington, que liderou este estudo aprofundado, em declarações ao jornal The Independent
"Mais avós do que netos"

A nível global, os números mostram uma tendência de “baby bust”: um decréscimo temporário e acentuado da taxa de natalidade, que acontece sobretudo em países mais desenvolvidos, incluindo na Europa, Estados Unidos, Coreia do Sul e Austrália.  

O Chipre é o país com a mais baixa taxa de fertilidade do mundo. Uma mulher tem, em média, apenas uma criança ao longo da sua vida.  
No entanto, o cenário é totalmente diferente noutros pontos do globo. No Níger, por exemplo, regista-se a mais elevada taxa de fertilidade do mundo: 7,1 filhos por mulher. O cenário é idêntico noutros países africanos: Chade (6,7), Somália (6,1), Uganda (5,2) ou Angola (5,1), por exemplo. No “top 10” dos países com mais elevadas taxas de fertilidade, apenas um país não-africano: o Afeganistão, com 6.0.  

“Estas estatísticas representam um baby boom para algumas nações e um baby bust para outras”, sublinha Christopher Murray.
 
Mas o contributo destes países não é suficiente para inverter a tendência de declínio no crescimento da população a nível mundial. Entre 1997 e 2007 houve um crescimento de 81,5 milhões de pessoas a cada ano, sendo que entre 2007 e 2017 o crescimento foi apenas de 87,2 milhões de pessoas por ano.  

O estudo da revista The Lancet identifica três fatores para o declínio da taxa de fertilidade: o menor número de mortes durante a infância, o que faz com que as mulheres tenham menos filhos, maior acesso a contracetivos e o crescente número de mulheres nos sistemas de educação ou no mercado de trabalho.  

“Tendo em conta as tendências atuais, haverá muito menos crianças e muito mais pessoas com mais de 65 anos, e isso é muito difícil de suportar a nível global. Pensem nas mudanças sociais e económicas profundas de uma sociedade onde há mais avós do do que netos”, sublinha Christopher Murray em declarações à BBC.
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