Canadá. Primeiro-ministro pede desculpa após divulgação de fotografia polémica

por RTP
John Morris - Reuters

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, foi acusado de racismo, na passada quarta-feira, após a Time Magazine ter publicado uma antiga fotografia em que o líder do Partido Liberal aparece com a cara e mãos pintadas de negro. “Eu não associei o meu ato a uma atitude racista, mas agora reconheço-o e lamento imenso”, declarou Trudeau em comunicado.

Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, foi acusado de racismo por ter utilizado a cara e as mãos pintadas de negro, há 18 anos. A situação foi revelada por uma fotografia obtida e publicada pela Time Magazine, na qual o primeiro-ministro aparece disfarçado de Alladin – personagem de animação da Disney, cuja pele é de tom escuro.
 
“Profundamente arrependido”, Trudeau assume total responsabilidade pelas decisões que tomou há quase duas décadas. Apesar do disfarce ter surgido no âmbito da gala privada do Ensino Secundário, onde o tema era as "Noites Arábicas", o atual primeiro-ministro admite que deveria ter pensado melhor nas consequências dos seus atos.

A polémica surge numa altura em que Trudeau tenta assegurar a reeleição, com o próximo escrutínio marcado para dia 21 de outubro. 

“Brownface”, ou seja, cara negra, refere-se ao ato de pintar a pele de cor castanha ou preta, nomeadamente a cara e as mãos, com o intuito de aparentar ter uma tonalidade mais escura.
Atualmente, a “brownface” pode ser considerada uma prática ofensiva. Porém, nos séculos passados, esta forma de representação era recorrentemente usada em performances teatrais para reforçar estereótipos ofensivos e racistas da sociedade.
 
Assim, dada a conotação negativa desta conduta, a fotografia agora revelada é politicamente embaraçosa para o primeiro-ministro do partido liberal, na medida em que ele é a cara e a assinatura das políticas progressistas no Canadá.
 
Embora esta não seja a primeira controvérsia em que está envolvido, Trudeau sempre foi associado a políticas de diversidade e igualdade, nomeadamente no que diz respeito à escolha dos membros do seu Governo.
 
"Naquela época eu não associei o meu ato a uma atitude racista, mas agora reconheço-o e lamento imenso”, afirmou o primeiro-ministro em comunicado. Em defesa da própria imagem, Trudeau acrescentou ainda que houve um outro momento em que usou “brownface”. Contudo explicou que, mais uma vez, fê-lo em tom de brincadeira durante uma atuação num concurso de talentos da escola, durante a adolescência.

Porém, não querendo desvalorizar a importância e conotação dos atos, Trudeau deixou claro publicamente que o uso de cara negra é “algo significativo” e que é uma ato “ofensivo” e desrespeitador para as comunidades e pessoas que vivem em ambientes de racismo e discriminação. 
Reações políticas
Como forma de atacar o candidato da oposição, Andrew Scheer, líder do partido Conservador, deixou claro que se a fotografia era racista em 2001, agora continua a sê-lo. “Aquilo que os canadianos vêm na fotografia é alguém com falta de discernimento e de integridade”, logo trata-se de “alguém que não está apto para governar o país”, concluiu.
 
Elizabeth May, líder do partido Verde, optou por utilizar a rede social Twitter para deixar clara a posição de descontentamento face ao sucedido. 

Também para o diretor executivo do Conselho Nacional de Muçulmanos do Canadá, Mustafa Farooq, este foi um acontecimento “profundamente lamentável” e “inaceitável”. Porém, uma vez que o episódio decorreu há quase duas décadas, o diretor reconhece que “as pessoas podem mudar e evoluir” e, por isso, agradece que Trudeau se tenha desculpado publicamente.
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