Candidato à direcção trabalhista admite julgamento de Blair pela guerra no Iraque

por Andreia Martins - RTP
Tony Blair foi primeiro-ministro do Reino Unido entre 1997 e 2007 Kieran Doherty, Reuters

Jeremy Corbyn, candidato à liderança do Partido Trabalhista britânico, considera que o antigo primeiro-ministro poderá ser um dos visados no relatório final dos Inquéritos de Chilcot, que visam o período de intervenção do Reino Unido na Guerra do Iraque, em 2003.

Em entrevista à BBC, Corbyn, deputado do partido desde 1982, disse acreditar que a guerra contra o Iraque “foi ilegal” e que Tony Blair, então primeiro-ministro da Grã-Bretanha, deveria apresentar as suas explicações perante um juiz.

“Interviemos numa guerra catastrófica e ilegal, que nos custou dinheiro e muitas vidas. Continuamos a sentir as consequências, com as mortes de migrantes no Mediterrâneo, com refugiados em toda a região”, afirmou o candidato favorito à liderança do Labour, cujas eleições primárias se realizam entre 14 de agosto e 10 de setembro. “Se [Tony Blair] cometeu crimes de guerra, então sim. Qualquer pessoa que tenha cometido crimes de guerra deve ser acusada”.

Questionado sobre se a administração de Blair deveria ser acusada de crimes de guerra aquando da intervenção britânica no Iraque, ao lado dos Estados Unidos, o histórico trabalhista responde de forma evasiva: “Se [Tony Blair] cometeu crimes de guerra, então sim. Qualquer pessoa que tenha cometido crimes de guerra deve ser acusada”.
Clima de campanha no Labour
As declarações sobre o assunto mais polémico do executivo de Blair acontecem dias depois de o ex-primeiro-ministro ter atacado diretamente Jeremy Corbyn, membro do parlamento enquanto representante do círculo eleitoral de Islington desde 1983.

O antigo chefe do executivo britânico falava de uma candidatura “esquerdista antiquada” e “a preferida dos Tory” (partido conservador no Reino Unido), e sustentava que a vitória interna de um candidato conotado com a ala mais à esquerda do Labour poderia levar a novas derrotas nas eleições gerais.

Mais um sinal das fraturas no seio do partido Trabalhista são as declarações de Alan Johnson num artigo publicado no The Guardian, onde apoia abertamente a candidatura de Yvette Cooper. O antigo ministro do Interior de Gordon Brown diz que o partido “deve acabar com a loucura” e afastar-se de um membro “abertamente desleal” como considera ser Jeremy Corbin.

As eleições internas no Labour acontecem após uma das maiores derrotas nas eleições gerais em toda a história do partido. Com as sondagens a preverem um empate técnico entre os dois principais partidos, Ed Miliband, antigo líder do Partido Trabalhista, conseguiu nesssas eleições de maio de 2015 apenas 30,5 por cento de votos perante os 36,8 por cento alcançados pelo atual ocupante do número 10 de Downing Street, David Cameron.
Seis anos à espera
Nos “Inquéritos de Chilcot”, ou "Inquéritos sobre o Iraque", foram investigadas e interrogadas as principais figuras responsáveis pelo envolvimento britânico na Guerra do Iraque, no período entre 2001 e julho de 2009.

Tony Blair e George W. Bush na Casa Branca, em 2007, antes de uma declaração aos jornalistas.
Foto: Kevin Lamarque/Reuters

A investigação foi conduzida por John Chilcot entre novembro de 2009 e fevereiro de 2011. Mas o relatório com as conclusões finais continua por publicar, num processo continuamente atrasado devido à revelação de informações confidenciais, já que implica, entre outros documentos, a divulgação de conversas entre Tony Blair e George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos.

Em 2015, ano em que é esperado o documento final, a publicação ficou pendente até depois da realização das eleições gerais, a 5 de maio, já que o conteúdo dos inquéritos poderia ter tido impacto na disputa eleitoral entre os partidos.

Perante os constantes atrasos na publicação do relatório, David Cameron já pediu a Chilcot uma data fixa para a divulgação dos resultados, por respeito "às famílias daqueles que morreram no Iraque".
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