Capitã de navio humanitário processa Salvini por difamação

por RTP
Guglielmo Mangiapane, Reuters

Carola Rackete, a comandante do navio humanitário Sea Watch anunciou através do seu advogado que irá processar por difamação o ministro italiano da Administração Interna. Matteo Salvini reagiu com displicência.

Alessandro Gamberini, um dos advogados de Carola Rackete, declarou, segundo citação do diário italiano La Repubblica: "Como Sea Watch, já preparámos uma queixa contra o ministro Salvini". E acrescentou: "Não é fácil inventariar todos os insultos que o sr. Salvini emitiu nestas semanas e também as formas de instigação ao crime no confronro com Carole, o que se torna ainda mais grave quando cometido por um ministro do Interior".

O advogado explicou também os motivos que decidiram a organização Sea Watch a avançar com a queixa: "No circuito destes leões do teclado, habituados ao insulto, é ele quem faz correr as águas do ódio. Uma queixa por difamação é uma forma de dar um sinal. Quando as pessoas são atingidas na carteira, compreendem que não podem insultar em vão".

O mais proeminente ministro da extrema-direita reagiu prontamente através do Twitter, dizendo de Rackete: "Ela infringe a lei e ataca navios italianos, e depois apresenta queixa contra mim". E prossegue: "[Se] não me metem medo os mafiosos, imaginem uma comunista alemã rica e pervertida!"


O controverso ministro do Interior afirmou também que o Governo já se preparava para autorizar o desembarque dos refugiados, precisamente na manhã anterior à decisão da comandante de forçar a passagem. O advogado de Carola Rackete deixa no ar uma dúvida sobre esta afirmação, que não foi de todo conhecida na altura própria: "Isto de modo algum foi comunicado a Carola. Ela é uma jovem e brilhante comandante de navio, mas talvez não esteja habituada aos jogos políticos em que Salvini é mestre".

O advogado recorda, além disso, as circunstâncias dramáticas em que foi tomada a decisão de forçar a passagem: "Este navio aguardou durante duas semanas que alguém autorizasse o desembarque, nada foi dito ou feito e portanto decidiu desembarcar. Há relatórios médicos que evidenciam a situação dramática a bordo Alguns ameaçavam atirar-se para chegar à costa a nado, outros [ameaçavam] suicidar-se".

A juíza que emitiu um primeiro veredicto sobre as acusações contra Carola Rackete mandou libertá-la da prisão domiciliária a que se encontrava confinada e considerou mesmo que ela tinha procedido acertadamente, de acordo com as disposições do direito marítimo internacional, que mandam conduzir quaisquer náufragos encontrados no mar ao porto seguro que lhes esteja mais próximo.

Esta sentença enfureceu Salvini, que sugeriu poder a magistrada estar sob o efeito do álcool ao emiti-la e foi dizendo que Rackete seria imediatamente expulsa do país.

Gamberini comenta: "Expulsão? Difícil para cidadãos comunitários. E nem falemos da propaganda truculenta que a classifica como delinquente, aquela que o ministro do Interior está habituado a fazer de forma falsa e irresponsável. A juíza disse que não há nada, que aquele comportamento foi no âmbito de uma resposta a uma situação dramática que havia a bordo. Tratar como principal inimigo um navio que salvou 50 náufragos, que se aproxima da nossa costa, é verdadeiramente ridículo".
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