Capitólio. Comité quer investigar chamadas de Trump horas antes da invasão

O congressista Bennie Thompson, que faz parte do comité que está a investigar a invasão ao Capitólio a 6 de janeiro, revelou publicamente que o painel vai abrir um inquérito a chamadas realizadas por Donald Trump para tentar parar a certificação da presidência de Joe Biden. Apesar das objeções do antigo presidente, o comité acredita que vai ter ajuda legal para aceder às chamadas realizadas na Casa Branca.

RTP /
Reuters

O comité que investiga um dos episódios mais negros da democracia americana quer ter na sua posse o conteúdo de chamadas realizadas por Trump horas antes da certificação dos resultados eleitorais que declararam Joe Biden presidente. “É verdade”, disse o congressista Bennie Thompson, em declarações ao The Guardian, e explicou que o painel de investigadores está a pensar em maneiras legais para chegar ao que foi dito nas chamadas.

Thompson explicou que não pode ser feito um pedido aos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos para ter o conteúdo de chamadas específicas mas que poderá fazer um pedido para conseguir as chamadas feitas na Casa Branca a 5 e 6 de janeiro, caso “ele [Trump] tenha feito a chamada de um telefone da Casa Branca”.

“Obviamente que iríamos analisar os conteúdos”.

O The Guardian já havia publicado no mês passado, alicerçado em várias fontes, que Donald Trump fez várias chamadas para aliados seus que estavam no Hotel Willard, Washington DC, a partir da Casa Branca para arquitetar uma forma de parar a certificação presidencial de Joe Biden.

De acordo com a informação avançada pelo jornal, Trump disse aos seus aliados que o vice-presidente, Mike Pence, estava relutante em seguir o plano para o manter por um segundo mandato e discutiu maneiras de manietar a certificação e assim continuar a liderar o executivo norte-americano.

Os estratagemas foram desenhados depois de muitas outras discussões com um grupo forte de Trump, que incluía Rudy Giuliani, John Eastman, Boris Epshteyn e Steve Bannon. O comité que investiga a invasão ao Capitólio tem tentado chegar ao conteúdo da chamada de Trump com os seus lugares-tenentes.

Bennie Thompson afirmou que o envolvimento da Casa Branca também vai ser analisado, numa movimentação com vista a pressionar o círculo mais próximo do antigo presidente dos Estados Unidos.

“Se conseguirmos a informação que pedimos, poderemos vir a determinar que as chamadas foram feitas para o [hotel] Willard e a quem quer que seja que lá estivesse”.

Uma coisa parece já certa: Rudy Giuliani vai ser intimado a depor sobre o assunto. No entanto, é possível que o advogado invoque a relação sigilosa advogado-cliente. Entretanto, o congressista Jamie Raskin afirmou já que essa proteção não confere imunidade ampla para todas as situações.

“O privilégio advogado-cliente não opera para criar um escudo protetor para participantes num crime de uma investigação a esse mesmo crime. Se o fizesse, então tudo o que teríamos de fazer para roubar um banco seria levar um advogado a quem pediríamos conselhos durante o roubo”.

O Guardian reportou que Donald Trump fez várias chamadas a partir da zona residencial da Casa Branca e que não há certezas de onde foram feitas as chamadas para o hotel Willard. Algo que se pode tornar num problema, já que as chamadas feitas a partir da zona residencial não são automaticamente enviadas para os Arquivos Nacionais após o fim de uma Administração.

A ser assim, mesmo que o comité tenha acesso às chamadas, a partir dos Arquivos Nacionais, sem testemunhas que corroborem o que foi dito, os investigadores saberão apenas o local e o espaço temporal em que as chamadas foram feitas.
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