Caravana de migrantes invade Tapachula no México

Milhares de pessoas deixaram Ciudad Hidalgo, junto à fronteira do México com a Guatemala, e caminharam nas últimas horas para norte, ao longo de quase 40 quilómetros de autoestrada. Dez autocarros, disponibilizados pelas autoridades mexicanas para levar os migrantes até Tapachula, foram praticamente ignorados pelos que retomaram a jornada.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Centenas de hondurenhos descansam nos passeios de Tapachula, México, como parte de uma caravana de milhares que se dirige para os Estados Unidos Ueslei Marcelino - Reuters

Os hondurenhos - aos quais se pode ter juntado um número indeterminado de mexicanos - recearam entrar nos veículos e arriscar a deportação, apesar das promessas do novo Governo mexicano.

O Presidente eleito do México, Andres Manuel Lopez Obrador, prometeu-lhes todo o apoio, incluindo autorizações de trabalho.

"Quero dizer-lhes que podem contar connosco", afirmou Obrador num comício em Tuxtla-Gutierrez, 290 quilómetros a norte de Tapachula.

Apesar dos centros de acolhimento montados pelas autoridades, qualquer espaço livre à entrada de Tapachula, serve a milhares de pessoas para parar e descansar, mesmo à chuva, depois de um dia a caminhar para norte sob um Sol intenso.

Durante o percurso, os migrantes animavam-se mutuamente com cânticos e palavras de ordem. "Se nos mandam para trás, nós voltaremos!", "não somos criminosos, somos trabalhadores!", clamavam em uníssono muitos grupos.

A chegada foi vigiada por agentes da polícia com equipamento de choque, que observaram sem intervir.

Das 5.109 pessoas contabilizadas até sábado pelas autoridades mexicanas na primeira leva de migrantes,quase metade são do sexo feminino, 1.565 mulheres e 952 raparigas.

A maioria dos migrantes viaja em grupos, por questões de segurança. Um primeiro contingente de um milhar de pessoas pôs-se a caminho a 13 de outubro, mas depressa outros milhares se juntaram. O movimento de êxodo continua apesar dos obstáculos fronteiriços colocados pelas autoridades hondurenhas.
Trump fecha fronteira
Um dos primeiros da longa coluna de milhares de pessoas, o hondurenho Jeff Borjas, de 17 anos, garante aos jornalistas que irá até ao fim. "Vamos conseguir, iremos continuar a andar desde que não nos detenham", afirma.

O destino são os Estados Unidos, mas o Presidente norte-americano, Donald Trump, já ameaçou recorrer aos militares para impedir a entrada dos migrantes.


"Todos os esforços estão a ser feitos para deter o ataque de ilegais e impedi-los de atravessar a nossa fronteira sul. As pessoas têm de pedir antes asilo ao México e se não conseguirem, os Estados Unidos irão mandá-los para trás. Os tribunais estão a pedir aos Estados unidos para fazer coisas que não são possíveis", escreveu Trump este domingo na rede social Twitter, apelando logo depois à mudança das leis de imigração norte-americanas e apontando o dedo aos democratas.

Entre sexta-feira e domingo mais de mil pessoas foram autorizadas a entrar no México, enquanto cerca de 900 entraram ilegalmente. Quase 350 em situação vulnerável, como idosos, doentes e mulheres grávidas, foram transferidas para Chiapas. Outras duas mil permanecem na ponte que atravessa o rio fronteiriço Suchiate, afirmam as autoridades mexicanas.

"Se estamos a migrar, não é por querermos deixar o confortos das nossas casas", explicou uma das emigrantes, Tania Rodriguez. "Porque, se eu vivesse bem, se tivesse condições excelentes, não iria deixar o conforto do meu lar para vir para este país para sofrer e arriscar a vida dos meus filhos".

Jorge Antonio Perez apelou por seu lado ao Presidente norte-americano para imaginar como se sentiria se fosse a sua própria família.

"Somos todos humanos", lembrou.
Apelo das Honduras
Animados pelo avanço da coluna, iniciada na semana passada, milhares de outros hondurenhos fizeram-se à estrada nos últimos dias. Queixam-se que não encontram trabalho e que estão à mercê da violência de grupos criminosos, sem garantias de qualquer tipo de proteção por parte das autoridades, que acusam de corrupção.

"Quero apenas encontrar alguma comida e um lugar para dormir", afirmou Roger Pineda de 16 anos, que se juntou a cinco familiares e a um grupo de amigos para fugir da violência em San Pedro Sula. "Espero de Trump nos deixe chegar ao outro lado", acrescentou.

A imprensa da Guatemala diz que mais mil migrantes se dirigem para norte para a fronteira com o México, em pequenos grupos.

As autoridades hondurenhas afirmam por seu lado que mais de 3.400 migrantes foram devolvidos ao país nas últimas 48 horas, de acordo com um organismo de assistência à migração liderado pela mulher do Presidente Juan Orlando Hernandez, Ana Garcia de Hernandez.

"Apelamos as pessoas a não emigrarem de forma ilegal, colocando as vossas crianças em condições extremamente perigosas", afirmou Garcia de Hernandez em comunicado. O Governo hondurenho critica a oposição do próprio país por apoiar o êxodo da população.

Algumas correntes de opinião afirmam contudo que a coluna de migrantes é na verdade uma manobra congeminada por poderes internacionais socialistas, para influenciar as eleições de meio termo nos Estados Unidos, em novembro, contra Donald Trump.
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