Cardeal Tolentino abre conferência em Cabo Verde com apelo ao diálogo linguístico

O cardeal José Tolentino de Mendonça abriu hoje a Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE), em Cabo Verde, com um apelo ao diálogo linguístico.

Lusa /

O mundo contemporâneo "precisa de aprofundar o diálogo, a curiosidade sã pelo outro, a escuta mútua e a mediação e isso não acontece sem uma política que reconheça o alto papel desempenhado pela língua", referiu, na conferência de abertura, nas instalações da Universidade de Cabo Verde (UniCV), na capital, Praia.

"Precisamos, a nível local e internacional, de encarar as línguas como marcadores de uma visão plural e harmoniosa do mundo, em vez de aliados da estranheza e da hostilidade" e torná-las "mais construtoras da empatia, da relação e da hospitalidade", referiu o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé.

Segundo o cardeal, as línguas "não se conformam em ser uma máquina de fazer estrangeiros, isto é, os excluídos daquela língua" e até se reforçam "quando investem sempre mais na inclusão, na iniciação ao conhecimento, na instauração de uma cidadania cultural sempre mais ampla".

O CILPE é um evento da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e tem como objetivo que esta e outras mensagens cheguem a diversas mãos.

O encontro de dois dias pretende aproximar especialistas e decisores com poder para orientar políticas que resultem na promoção das línguas portuguesa, espanhola e nativas -- este ano com uma aproximação inédita a África, que acolhe o evento pela primeira vez.

Esta circulação de idiomas e o papel das migrações foi destacado na conferência de abertura por Tolentino de Mendonça, classificando a diáspora como uma "experiência humana maior" que, "por muito que contrarie a tendência dos nacionalismos apressados que hoje sopram em muitas partes do mundo, nos diz que a identidade é coral e polifónica". 

Na prática, considerou que "a identidade de uma língua não é apenas uma ontologia predeterminada, congelada no tempo e no espaço", mas antes "um processo de atualização e de reconfiguração". 

"A diáspora mostra como a identidade não consiste nem numa repetição das origens, nem na aderência aos modelos dos países de chegada: a identidade de uma língua inclui todas as experiências de deslocação e fronteira, construindo a cada momento novas sínteses", concluiu.

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