Caritas em África sente-se impotente para responder aos desafios do continente

por Lusa

Chimoio, 25 fev (Lusa) - Conflitos políticos e religiosos, fome, seca e cheias no continente africano têm desafiado, quase que de forma constante, a atuação da Caritas África, que, por vezes, se sente "impotente para acudir" os necessitados, disse à Lusa o seu presidente.

"África é desafiadora. Olhe para os conflitos que se estão a passar em tantos países e que provocam a penúria e miséria. A isso, a Caritas África não pode ficar indiferente" disse o moçambicano Francisco Silota, presidente da Caritas África, e bispo de Chimoio, no centro de Moçambique.

Numa breve radiografia da atuação, muitas vezes limitada, a instituição tem procurado a assistir aos mais carenciados nas regiões em conflitos armados e também zonas assoladas por secas cíclicas ou com extrema pobreza.

Contudo, a organização continua a sentir dificuldades na forma como entrar em alguns países e na maneira de atuar, sobretudo em regiões de conflitos, para não ser confundida.

"Essas coisas não são fáceis. Devemos agir depois de analisar, de outro modo nos precipitamos e, ao invés de ajudar, estragamos. A situação de África é desafiadora, pois precisa de calma e abertura de horizonte e de ter que ouvir os outros", sublinhou Francisco Silota.

"No Mali, agora já não é só a seca, é um conflito religioso-político. Como ir ao encontro daquele povo ai, bombardeado e tudo mais? Tanto para o Mali, como RDCongo e Nigéria, que está tendo aqueles ataques que mais parecem coisa de religião que política, a Caritas África não pode entrar de qualquer maneira. Tem de entrar em coordenação com a igreja local, para nos dar orientações de como e com quem agir e as necessidades mais imediatas do povo" acerscentou.

Os preconceitos provocados pelo facto de a organização estar identificada com a igreja Católica, sobretudo nas regiões de minoria cristã, também têm criado problemas apesar de os seus responsáveis insistirem sempre que a Caritas não é "seletiva" nos apoios.

"Nós vamos como organização que quer ajudar o ser humano, não ser humano enquanto católico, mas ser humano enquanto necessitado. O critério da Caritas é a pessoa em necessidade, seja cristã ou não, isso não importa, o que importa é o homem" explicou Francisco Silota.

A fome e seca afetou 20 milhões de pessoas em 2012 em África, das quais 12 milhões na região do corno de África, segundo agências das Nações Unidas. Igualmente, outras 30 milhões de crianças sofrem de infeções e outros doenças causadas por falta de alimentação saudável e água potável.

Perante os vários desafios, a Caritas África tem estado nos últimos anos a formular respostas às necessidades africanas em comunhão com outras Caritas.

A reunião de Kinshasa, na RD Congo, em novembro passado, "serviu para definir a identidade e a missão da Caritas África, mas também harmonizar a atuação" das 45 organizações nacionais, disse Silota, agrupadas no Simpósio das Conferências Episcopais da África e de Madagáscar (SECAM).

"A 25 de fevereiro voltamos a reunir-nos em Kampala (Uganda)" disse Francisco Silota, precisando que igreja não vai permanecer indiferente e isolada na pacificação socio-político e económico de África.

"Estou esperançoso que se chegue a um acordo na Republica Democrática do Congo (entre o governo e o movimento rebelde M23). É só esperança, embora reconheça e congratulo o esforço da SADC (Africa Austral) para influenciar a paz" disse.

Vários movimentos dentro da organização estão a ser desenvolvidos para apoiar as vítimas das cheias em Moçambique, que desalojaram mais de 250 mil pessoas e mataram até então 113 pessoas.

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