Casa Branca isolada na crise das acusações de Trump a Obama

por Graça Andrade Ramos - RTP
Donald Trump e Barack Obama no dia da inauguração de Trump a 21 de janeiro de 2017 Carlos Barria - Reuters

Parece complicado encontrar provas de que Barack Obama ordenou a colocação de escutas a Donald Trump, ou até que essas escutas tenham sequer existido. E até alguns dos republicanos apoiantes de sempre do Presidente dos EUA se afastam da polémica e deixam a Casa Branca sozinha a explicar os tweets publicados sábado pelo Presidente. A Administração diz que cabe ao Congresso investiga-las.

Ninguém no Capitólio parece contudo ter indícios que comprovem os tweets de Trump sobre as escutas. E enquanto os republicanos tentam evitar a questão ou desvaloriza-la, os democratas quase se limitam a observar a crise de camarote.

O responsável pelo comité para a Informação do Congresso, Devin Nunes - um dos mais importantes apoiantes de Trump na Câmara dos Representantes e membro da sua equipa de transição - começou por aligeirar a situação, de acordo com a CNN.

"Vocês tomam muito do que ele diz literalmente", lançou aos repórteres esta terça-feira. Nunes retocou depois os seus comentários, referindo que talvez o ex-conselheiro para a Segurança Nacional, Michael Flynn, tenha sido escutado e acrescentou que Trump levantou "questões válidas". O Presidente acusou sábado através da sua página na rede social Twitter, o seu antecessor de ter ordenado escutas à sua equipa. Numa série de mensagens enviadas de manhã, afirmou ter "acabado de saber" que tinha sido escutado e apontou o dedo a Obama, chamando-lhe um "tipo mau (ou doente)" e fez comparações com o caso "Nixon/Watergate" e com o "McCartismo".

O segundo representante republicano mais importante no Senado, John Cornyn, a quem a CNN perguntou se acreditava nas alegações de Trump, disse "não sei no que é que ele se baseou para fazer estas declarações".

Por seu lado o porta-voz da Administração, Sean Spicer, disse terça-feira aos repórteres que cabe ao Congresso e não à Casa Branca investigar as alegações.

Aliás, caso esta se envolvesse nisso seria acusada então pela imprensa por esse envolvimento, argumentou. "É ser preso por ter cão e preso por não ter", disse.

Spicer acrescentou que não lhe tinham sido mostradas quaisquer provas, já que a questão o ultrapassa, mas disse que as acusações de Trump deveriam merecer crédito. E refutou a ideia de que a Casa Branca está a tentar escapar da situação criada e que Trump poderá retirar o que escreveu no Twitter.

"Não mudou nada", afirmou Spicer ao repórter da CNN Jim Acosta, quanto a eventuais novas provas que apoiem as alegações.

"Não é uma questão de novas provas ou de menos provas ou o que seja, a resposta é a mesma, ou seja... há preocupações com o que aconteceu na eleição de 2016. O comité da Câmara e do Senado para a Informação tem pessoal e capacidades e processos a decorrer para investigar isto de uma forma objetiva e é aí que a investigação deveria ter lugar", referiu.
Investigação no Congresso
Richard Burr, o responsável senatorial pelo comité para a Informação, que está a investigar a interferência da Rússia nas eleições Presidenciais, disse não ter visto quaisquer provas das alegações de Trump, embora admitindo a sua inclusão no âmbito da interferência nas eleições.
Há quem refira que talvez o Presidente tenha reagido a um artigo publicado sexta-feira pelo Breitbart News (direita), focado em declarações feitas um dia antes num programa de radio pelo locutor de direita Mark Levin sobre os alegados esforços da Administração Obama para fragilizar a campanha de Trump. A base das hipóteses avançadas era uma série de outras notícias e fontes, incluindo o New York Times, o Washington Post e o jornal britânico The Guardian.
"Nós vamos a todo o lado onde as informações ou factos que existem nos levem", afirmou Burr à CNN. "Por isso não vou limitar nada de nenhuma forma. Mas, atualmente não temos nada que nos leve nessa direção, o que não quer dizer que não possamos encontrar algo".

O representante democrata da Câmara no mesmo comité, Adam Schiff, aceitou a responsabilidade de investigar o assunto. "O Presidente pediu ao nosso comité para investigar isto. Sr Presidente, aceitamos", disse Schiff aos reporteres na terça-feira á noite. E acrescentou depois "também é um escândalo se se provar que as acusações são falsas".

Já o senador Mark Warner, o democrata com maior senioridade no comité para a Informação, riu-se durante uns segundos quando questionado pela CNN sobre se o comité iria alargar as suas investigações para incluir as acusações de Trump a Obama.

"Nós iremos onde os factos nos levarem, mas ele não nos forneceu quaisquer provas", afirmou depois.
FBI às aranhas
O diretor do FBI designado por Trump, James Comey, ficou "incrédulo" com as acusações das escutas à equipa de Trump durante as eleições. E domingo, James Clapper, diretor de Obama para os serviços nacionais de Informação, negou todas as alegações.

De acordo com a Fox News, Comey e os principais dirigentes da agência de informação interna dos EUA negam que haja provas de tais escutas e alguns responsáveis pediram mesmo ao Ministério Público para as refutar publicamente, algo que até agora não foi feito.

Algumas fontes referem que Comey, que já estava no FBI sob Obama, está preocupado com a imagem da agência de informação, que fica muito mal na fotografia se as alegações de Trump se confirmarem.

Até porque, aparentemente, o Presidente não perguntou nada a Comey sobre o assunto antes de tweetar. O próprio Sean Spicer o confirmou terça-feira. Questionado durante o briefing diário com os jornalistas, sobre se o Presidente falou com Comey, sobre a situação, Spicer respondeu "não falou".
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