Casais homossexuais católicos. Papa admite possibilidade de bênção em resposta a cardeais

por Carla Quirino - RTP
Andreas Solaro - Reuters

O papa parece admitir que há formas de abençoar uniões do mesmo sexo, se forem limitadas, decididas caso a caso e não confundidas com cerimónias de casamento de heterossexuais. Francisco sublinha que os pedidos de bênçãos - venham eles de casais homossexuais ou heterossexuais - são um meio através do qual as pessoas se aproximam de Deus para viverem vidas melhores.

Cinco cardeais conservadores da Ásia, Europa, África, Estados Unidos e América Latina enviaram várias perguntas ao papa Francisco, ou dubia (“dúvidas” em latim), a propósito de um encontro global que começa no Vaticano na quarta-feira.

Entre as diversas questões, estava um pedido de exclarecimento sobre a aceitação da Igreja relativamente a casais do mesmo sexo. A troca de correspondência ocorreu em julho. Os cardeais divulgaram unilateralmente a iniciativa, fazendo saber que não estavam satisfeitos com as respostas de Francisco.

Entretanto, o Vaticano decidiu publicar na segunda-feira a resposta do sumo pontífice que havia sido endereçada a esses cardeais sobre o tema da bênção a casais LGBT+.
Resposta de Francisco
A Igreja tem ensinado que a atração pelo mesmo sexo não é pecaminosa, mas os atos homossexuais são.

Na resposta de sete pontos, Francisco reitera que a Igreja foi muito clara ao afirmar que o sacramento do matrimónio só poderia ser entre um homem e uma mulher e aberto à procriação. Assinala também que Igreja deveria evitar qualquer outro ritual ou rito sacramental que contradissesse este ensinamento.

Porém, “a caridade pastoral deve permear todas as nossas decisões e atitudes”, afirma Francisco. Ou seja, sublinha que a “caridade pastoral” requer paciência e compreensão e os padres não podem tornar-se juízes “que apenas negam, rejeitam e excluem”.

“Por isso, a prudência pastoral deve discernir adequadamente se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou mais pessoas, que não transmitam uma concepção equivocada do casamento”, argumenta. 

Até “porque quando se pede uma bênção, expressa-se um pedido de ajuda de Deus, um apelo para poder viver melhor, uma confiança num pai que nos pode ajudar a viver melhor”, escreve.

Reitera que os pedidos de bênçãos são um meio através do qual as pessoas se aproximam de Deus,  mesmo que alguns atos sejam considerados “objetivamente moralmente inaceitáveis”, esgrime o santo padre.Ainda assim, Francisco adverte que as eventuais bênçãos, a acontecerem, não devem tornar-se a norma nem obter aprovação geral das jurisdições da Igreja, como dioceses ou conferências episcopais nacionais.


Em cima da mesa está a prática, que entretanto se tornou relativamente comum na Alemanha, de padres que abençoam casais do mesmo sexo que mantêm um relacionamento sério.

O papa deixa a sugestão para o assunto ser tratado caso a caso “porque a vida da Igreja corre em canais além das normas”.

De qualquer forma, Francisco já tinha manifestado apoio às leis civis que estendem os benefícios legais aos cônjuges do mesmo sexo.
Avanço significativo
Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, que promove o alcance da Igreja aos católicos LGBT, declarou que embora a resposta não tenha sido um “endosso pleno e sonoro” de tais bênçãos, foi muito bem-vinda.

A carta de Francisco “avança significativamente” nos esforços para tornar os católicos LGBTQ+ bem-vindos na Igreja, reduzindo a marginalização, acrescenta.

Para DeBernardo, as palavras do papa indiciam “que a Igreja realmente reconhece que o amor santo pode existir entre casais do mesmo sexo, e o amor desses casais reflete o amor de Deus”.
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